Bolsa de Terras atrai jovens

Há 40 anos, era um contínuo de 300 hectares quase todo na mão da cooperativa agrícola. A fruta era tão boa que chegou a servir de recheio ao chocolate "Mon Chéri". Mas o pomar não foi reabilitado. Não apareceram novos produtores. Agora, a cereja está outra vez a ganhar importância.

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Rafael Dias, apanha cogumelos selvagens para comercializar Adriano Miranda/Público
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Cogumelos para serem embalados Adriano Miranda/Público
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Terrenos agrícolas abandonados Adriano Miranda/Público
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Eduardo Tavares, Presidente da Cooperativa Agrícola da Alfândega da Fé Adriano Miranda/Público
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Estufas na Cooperativa Agrícola de Alfândega da Fé Adriano Miranda/Público
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João Lopes e Vírgínia, proprietários do Silo Housing Adriano Miranda/Público
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Nova plantação de cerejeiras Adriano Miranda/Público
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Nova plantação de cerejeiras Adriano Miranda/Público
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Gil Freixo, jovem agricultor que plantou milhares de cerejeiras Adriano Miranda/Público
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A Cooperativa Agrícola produz azeite de qualidade Adriano Miranda/Público
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Matas de Alfândega da Fé Adriano Miranda/Público
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Rafael apanha cogumelos nas matas Adriano Miranda/Público
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Olival Adriano Miranda/Público
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Barragem Adriano Miranda/Público
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Alberta Nunes, Presidente da Câmara Municipal de Alfândega da Fé Adriano Miranda/Público
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Adriano Miranda/Público

Nada dá tanta projecção a Alfândega da Fé como a cereja, apesar de ser bem maior o peso da amêndoa, da castanha ou da azeitona na economia local. Na ânsia de revitalizar tal cultura e atrair e fixar jovens, foi o primeiro concelho a lançar concurso através da Bolsa Nacional de Terras, um programa de cedência, arrendamento ou venda de terras de entidades públicas e também de património rústico sem dono conhecido.

Os olivais sucedem-se. À saída da vila, o presidente da cooperativa agrícola, Eduardo Tavares, observa a apanha da azeitona com recurso a vibrador mecânico. “Ó Zé, ides apanhar mais?”, pergunta. “A azeitona cai para o chão!”, retorque o funcionário. O toldo tem cinco metros de diâmetro. “Ide buscar o aumento.”

O cerejal fica mais para lá, seguindo pela estrada no sentido da barragem da Estevainha. Há 40 anos, era um contínuo de 300 hectares quase todo na mão da cooperativa agrícola. A fruta era tão boa que chegou a servir de recheio ao chocolate "Mon Chéri". Mas a cooperativa descurou a comercialização. O pomar não foi reabilitado, como aconteceu ao olival. As árvores envelheceram. Não apareceram novos produtores. O cerejal ficou reduzido a 60 hectares.

O plano é replicar a tendência do amendoal, que entrou em declínio e está a recuperar, impulsionado pela procura internacional. Só que o amendoal combina-se com o olival, tem práticas e equipamentos semelhantes. E o cerejal não. “É uma cultura de fruto fresco”, diz Tavares. “O nosso agricultor não está preparado. Queremos trazer gente nova, pessoas com know-how, que sirvam de modelo.”

A cooperativa e a câmara disponibilizaram 25 hectares. Atraíram um engenheiro da terra e um agrónomo do Porto, que já têm uma produção de cereja noutra zona. E uma arquitecta, que está em Lisboa mas é originária dali. E um advogado oriundo de Braga. E um agricultor de Vila Flor.

Gil Freixo já está no terreno. É agricultor desde os 16 anos. Somava 50 hectares de nectarinas e pêssego no Vale da Vilariça. Agora, tem 11 hectares de cereja junto à barragem. As cerejeiras, pequenas, verdejantes, estão plantadas em compassos apertados, exploradas em regadio. “Começamos a gastar em Abril e só em Junho começamos a vender. Queremos começar a vender fruta desde o início de Maio. Para isso queremos a cereja”, conta o homem, de 38 anos.

Os outros agricultores devem avançar para o ano. E a cooperativa, que tem 30 hectares, plantará outros 15 e está a tentar dinamizar a comercialização e encontrar alternativas ao consumo em fresco. Acaba de lançar um vinagre de cereja. E não está sozinha à procura de novos usos. Um grupo de jovens criou uma cerveja artesanal. Pequenas unidades fazem doce, compota, geleia. E outros produtos irrompem, como a almofada de caroços de cereja ou o chá de pés de cereja.

A dor de cabeça poderá ser arranjar gente para as colheitas. “Com o despovoamento, há pouca mão-de-obra”, aponta Tavares. E a cereja, como o pêssego e a nectarina, tem de ser apanhada à mão, não pode sujeitar-se aos balanços do vibrador mecânico, como a azeitona ou a amêndoa. “Sem a comunidade búlgara, muitos agricultores viam-se aflitos”, admite. Serão uns cem trabalhadores. Circulam de umas aldeias para as outras, conforme as necessidades agrícolas. 

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