Desta vez não houve polícias secos no Terreiro do Paço

Chuva marcou protesto de sindicatos da PSP a reivindicar promoções e admissões.

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Enric Vives-Rubio
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Uns cobriam a cabeça com as bandeiras como podiam, à laia de lenço. Outros abrigavam-se das bátegas dentro da colorida árvore de Natal montada no Terreiro do Paço, enquanto um contingente mais corajoso insistia em enfrentar o agreste final de dia.

A chuva não escolheu um lado: tanto baptizou os polícias que, à paisana, se concentraram esta quinta-feira, em frente ao Ministério da Administração Interna como os colegas fardados que vigiaram o protesto. “Desta vez não houve secos e molhados. Só molhados”, ironizava o líder do Sindicato dos Profissionais de Polícia, Mário Andrade, numa alusão aos confrontos entre agentes, ocorridos no mesmo local, em 1989, quando os polícias de serviço varreram à mangueirada os colegas que ali se manifestavam.

Desta feita, foi tudo bem mais pacífico e as cerca de três centenas de homens vindos de vários pontos do país, para reivindicar promoções e admissões, desmobilizaram mais cedo do que se podia esperar.

“Não queremos que fiquem doentes e entrem de baixa”, dizia Mário Andrade, que mesmo assim ainda teve tempo para entregar à tutela um caderno reivindicativo. Juntaram-se-lhe dirigentes de outros sindicatos de menor dimensão que se associaram ao protesto, do qual esteve ausente a estrutura mais representativa do sector.

Há quase uma década a trabalhar na polícia, Ivo Silva sabe por que se indignam. Aos 31 anos, diz que só consegue ver o filho de três meses quando vai ao Porto, nos dias de folga. Colocado em Loures, começa a perder as esperanças de conseguir transferência para esta cidade, por ser escassa a renovação de agentes.

Aos mais velhos não tem sido permitida a pré-aposentação, explicam os sindicalistas. “Quando entrei para a PSP ganhava mil euros. Agora já nem a isso chega o ordenado. Se me arranjassem um emprego a ganhar menos, mas com mais estabilidade e conforto nem pensava duas vezes”, admite. “A luta continua”, ouve gritar os colegas que continuam à chuva.

Dentro da árvore de Natal, José Marques é dos que somam anos de serviço que noutros tempos davam para se ir embora da corporação com o salário por inteiro. A fazer um doutoramento em astrofísica aos 51 anos, e a colaborar com o Laboratório de Investigação de Partículas, trocaram-lhe as voltas na polícia. “Estou a ser completamente ludibriado pelo Estado português”, constata. No comando de Coimbra, onde está colocado, tem colegas de 59 anos a fazer serviço de rua. “Se estão à espera que dêem a mesma resposta que os mais novos...”. Arrependimento talvez seja uma palavra demasiado forte. “Mas se hoje fosse jovem nunca tinha vindo para a polícia”, reconhece. 

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