Antiga escola primária dá lugar a projecto de empreendedorismo social

A associação Centro Incentivar a Partilha, que irá ocupar a escola EB1 da Cruz de Pau, tem como principal objectivo a promoção da empregabilidade de grupos sociais vulneráveis.

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O CIaP será uma espécie de agregador de competências, promovidas por outras entidades, que estarão ao dispor dos cidadãos sem custo Nelson Garrido
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Américo Mendes é um dos responsáveis do projecto Nelson Garrido

O edifício da escola EB1 da Cruz de Pau, em funcionamento até final do ano lectivo do ano passado, é agora a base do projecto Centro Incentivar a Partilha (CIaP). A associação, que assina protocolo com a Câmara de Matosinhos no próximo dia 18 para a cedência do espaço em regime de comodato, já está em funcionamento. O CIaP tem como principal objectivo a promoção da empregabilidade de grupos sociais vulneráveis, recorrendo à criação de sinergias.

Algumas das entidades que vão passar a trabalhar neste novo espaço, e com a própria associação, já se instalaram no edifício. Estão confirmadas cerca de 20 organizações, algumas ainda em mudanças. Estas organizações e projectos desenvolvem a sua acção em mais de 20 domínios como o aconselhamento de famílias pobres endividadas, aconselhamento psicológico e jurídico a pessoas com problemas de integração social, criação artística ao serviço do combate à exclusão social, apoio a crianças e jovens com problemas de absentismo e abandono escolar, apoio a imigrantes, apoio a pessoas com problemas de saúde mental e aos seus cuidadores, apoio a pessoas sem abrigo ou apoio a reclusos e suas famílias.

O CIaP funcionará como uma espécie de agregador de competências, promovidas por outras entidades, que estarão ao dispor da generalidade dos cidadãos sem qualquer custo associado. Como sobrevivem então essas entidades? Américo Mendes, um dos responsáveis pelo projecto, explica que essas organizações sobrevivem da candidatura a financiamento público e, eventualmente, num caso ou outro, da prestação de alguns serviços, fora do âmbito do projecto, que serão remunerados.

Logo à partida, para poderem estar no edifício, não há qualquer custo associado. O arrendamento é “pago” com o apoio à associação “em trabalho”. Por sua vez, a associação não tem, até ao momento, o apoio de nenhum subsídio, “mas conta com a preciosa ajuda da autarquia que cede o espaço a custo zero”, como refere Américo Mendes. Assim será possível garantir alguma receita para cobrir as despesas correntes, com o aluguer do espaço para formações do IEFP, como a que estava a decorrer no dia em que o PÚBLICO visitou o projecto.

Além do apoio social prestado, de acordo com o professor do Centro Regional da Universidade Católica do Porto, outro parceiro do projecto que contribui no domínio da Economia Social, através da sua Área Transversal de Economia Social (ATES), a associação pretende ser também “o carro vassoura de alguns projectos que foram abandonados”, podendo este espaço ser usado como “albergue temporário até que ganhem nova vida e possam seguir o seu caminho”.

O CIaP está equipado com espaços de co-working para as organizações de responsabilidade social residentes, mas terá também uma área de incubadora de empresas para projectos que estão em fase de arranque. Existirá ainda um espaço oficinal, o TechClub – Oficinas do Bom Sucesso,  para ser utilizado, em regime de tempo partilhado, “preferencialmente por desempregados” que aí queiram experimentar e produzir, que poderão evoluir, mais tarde, para a incubação e criação da sua própria empresa.

Como contrapartida pela cedência do edifício da escola EB1 da Cruz de Pau, que agora se transferiu para a escola EB 1/JI Estádio do Mar, a autarquia pede apenas que o espaço seja bem utilizado. A câmara cede a escola por considerar que esta “é uma forma de manter o edifício ocupado ao serviço de um projecto útil para a comunidade”.

O espaço encontra-se em bom estado de conservação. Algum do mobiliário, incluindo mesas e cadeiras, ficou no edifício para ser utilizado pelas entidades. Há ainda uma cozinha pronta que será ocupada por um dos projectos que, além de se dedicar à sua actividade profissional externa, ficará responsável pelo catering do edifício. Edifício que tem dois andares com uma área total de 1250 metros quadrados, cerca de 700 de área útil. O espaço tem 14 salas com áreas que variam entre os 20 e os 100 metros quadrados.  No exterior há ainda uma área com cerca de 800 metros quadrados que será usada pela associação para actividades ao ar livre.

Criar sinergias

O edifício será, sobretudo, ocupado por projectos de acção social de suporte à associação, mas não só. Além do espaço já reservado para organizações como a Apuro, a Associação Mais Brasil, a Associação Nacional de Direito ao Crédito ou a Rede Inducar, há também espaço para projectos profissionais como o Biografias por Encomenda.

Daniela Costa que criou este projecto em 2012 está já trabalhar no edifício do CIaP. Professora de português de formação, escreve biografias por encomenda para pessoas anónimas que tenham uma história de vida motivo de registo. Do seu portfólio fazem parte também alguns trabalhos biográficos que fez para empresas ou para juntas de freguesia que lhe pediram para registar a história associada às entidades em questão. Por norma, são os familiares que encomendam o serviço para oferecer como presente. Além das biografias, também escreve contos ou cartas. As biografias, impressas em formato livro, não são editadas publicamente, mas passam a pertencer ao legado de memórias de uma família.

Trabalha, com mais duas pessoas, uma designer e uma ilustradora, que contrata em regime de prestação de serviços. Até há pouco tempo não tinha um espaço para trabalhar. Agora tem base montada no CIaP, onde contribui com a redacção de textos e outras tarefas em troca da sua estadia. Partilhar um espaço com outras pessoas é, para Daniela, uma oportunidade no sentido de alargar a rede de contactos e de criação de sinergias.

Outro projecto que também já está em funcionamento, mas na área da acção social,  é o Laboratório do Erro. Projecto que, de acordo com as mentoras, já foi implementado “com bons resultados” no Agrupamento de Escolas Alexandre Herculano”.  A missão do Laboratório do Erro é combater o insucesso escolar de jovens do ensino secundário, que por algum motivo se desinteressam pelas actividades escolares, recorrendo a actividades de natureza artística, desportiva, com o objectivo de que esses jovens desenvolvam as suas capacidades de sociabilização e de aproveitamento escolar.

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