Thomas Bach, os “testes de stress" e o caviar

A concluir um dia preenchido para o Comité Olímpico Internacional, o presidente Thomas Bach teve de responder a questões embaraçosas sobre os custos dos Jogos.

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Thomas Bach, presidente do COI FABRICE COFFRINI/AFP

Com a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos quase a chegar, o Comité Olímpico Internacional (COI) viveu um dia preenchido. Reunida na sua 129.ª sessão, a organização elegeu dois novos vice-presidentes – o espanhol Juan Samaranch e o turco Ugur Erdener. O painel de avaliação criado para o efeito aprovou os nomes de 271 atletas russos autorizados a competir no Rio 2016. E o comissário responsável pelo pelouro financeiro disse que o COI está bem e recomenda-se.

“A posição financeira do COI é saudável e forte”, afirmou Ng Ser Miang, esclarecendo que na conclusão do triénio 2013-2016 é esperado um crescimento das receitas superior a 5%, num valor total de 5600 milhões de dólares. Um número que causa desconforto no Brasil, um país sujeito a sacrifícios para levar a cabo a organização que lhe foi atribuída em 2009 – quando se vivia um clima económico, político e social radicalmente diferente.

“Na nossa realidade, não dá para o Brasil ficar pagando conta de caviar para os outros. Estamos fazendo de tudo para economizar”, afirmou nesta quinta-feira o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Horas depois, confrontado com estas declarações, o presidente do COI, Thomas Bach, procurou uma saída airosa: “Ele às vezes gosta de brincar”. Instado a elaborar, o dirigente fez a defesa das opções tomadas. “O modelo financeiro é mais do que robusto. Sabemos a crise em que o país está, talvez a pior da história do Brasil. É uma crise estatal, económica, social, e o país enfrenta desafios de saúde e ambientais. Grandes desafios. E, no entanto, vemos que este país, esta cidade e este comité organizador conseguiram transformar a cidade e colocar os Jogos Olímpicos no palco. O COI esteve sempre solidário. Não foram tempos fáceis, mas sempre estivemos solidários com os nossos parceiros brasileiros. Podemos dizer que o modelo financeiro dos Jogos Olímpicos suportou os 'testes de stress' que esperamos não voltar a suportar no futuro”, afirmou.

Thomas Bach tinha outro tema espinhoso para enfrentar na conferência de imprensa: o programa sistemático de doping incentivado pela Rússia e denunciado num relatório independente encomendado pela Autoridade Mundial Antidopagem (AMA). O presidente do COI defendeu a justiça de não banir todos os atletas russos do Rio 2016. “Analisámos cada atleta, num procedimento claro, porque quisemos garantir uma competição equilibrada. Posso olhar os atletas nos olhos porque tenho a consciência tranquila. Sabemos que temos o apoio de muitos atletas. Respeito quem possa ter opinião diferente, mas pesámos todos os argumentos e tomámos a nossa decisão de consciência tranquila”, frisou o dirigente.

“Não foi uma decisão para ajudar alguém, foi justiça. Tomámo-la com os factos que temos disponíveis. A justiça tem de ser cega, não pode olhar para um lado ou para o outro. Tem de obedecer às regras da verdade e foi o que o COI fez. Os factos estão num relatório independente muito sério, com alegações muito graves, que tiveram um grande peso. Tomámos medidas contras as pessoas implicadas. Não recebemos desculpas formais da Rússia, mas há o compromisso de uma completa restruturação do sistema antidoping. É isso que esperamos agora da Rússia”, acrescentou Bach.

Sobre os restantes temas, o presidente do COI congratulou-se pela introdução de cinco novas modalidades nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020 (basebol/softbol, karaté, skate, surf e escalada) e prometeu uma reforma dos Jogos Olímpicos da juventude. “Queremos clarificar a missão, tornando claro que não são Jogos Olímpicos juniores, ou mini-Jogos Olímpicos”, concluiu.

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