Governo suspende integração do hospital da Póvoa no de Matosinhos

Ao perceberem que se preparava a integração do centro hospitalar na unidade de Matosinhos, autarcas contestaram e Governo não avançou.

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Mais uma vez, o Centro Hospitalar da Póvoa de Varzim/Vila do Conde escapou à integração numa estrutura centralizada, no caso o Hospital de Matosinhos, e vai conservar o Serviço de Urgência Médico-Cirúrgica e outras especialidades em funcionamento 24 horas por dia como, por exemplo, a obstetrícia. Fica também pelo caminho, pelo menos para já, a passagem da gestão dos centros de saúde dos dois territórios para essa Unidade de Saúde Local do Atlântico (USLA) que, pelo que se percebeu nesta sexta-feira na ressaca da contestação à medida, estava ser preparada pela Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte.

Elisa Ferraz, presidente da Câmara de Vila do Conde, anunciou que estava a ser preparada a colocação "dos serviços de saúde dos dois municípios na dependência da unidade matosinhense, através [da criação] de uma gestão conjunta e uma única administração".  

Após contestação dos presidentes das câmaras da Póvoa e Vila do Conde, tal como sucedera há pouco mais de meio ano, o Governo recuou. Em Novembro do ano passado, de forma inesperada, a tutela do então ministro Leal da Costa publicou em Diário da República um despacho a desclassificar a urgência na Póvoa e, num ápice, Aires Pereira, presidente da autarquia poveira - eleito pelo PSD e considerado próximo de Passos Coelho - e a socialista Elisa Ferraz, de Vila do Conde, não pouparam nas críticas à decisão. O certo é que o executivo recuou e fez a correcção exigida pelos autarcas.

Nesta sexta-feira,  Aires Pereira e Elisa Ferraz reuniram-se no Porto com o secretário de estado da Adjunto e da Saúde, Fernando Araújo, e, no final, em comunicado emitido pela ARS, a tutela do Norte procurou arrefecer a polémica realçando o "clima de grande abertura e complementaridade" evidenciado no encontro, e até anunciou "o reforço do Centro Hospitalar" quanto "à capacidade de atendimento dos utentes e melhoria de instalações, nomeadamente através do alargamento da unidade hospitalar da Póvoa de Varzim, com eventual recursos a fundos comunitários e a participação activa das autarquias". "Pretende-se desta forma estabilizar esta instituição [Centro Hospitalar Póvoa /Vila do Conde] que tem dado provas de qualidade, tranquilizando os cidadãos e reconhecendo o trabalho dos profissionais de saúde", lê-se no documento.

Aires Pereira tinha mais uma vez manifestado a disponibilidade da câmara da Póvoa em ceder o edifício vizinho ao hospital dos antigos armazéns militares para acolhimento das consultas externas e as zonas administrativas actuais, libertando a totalidade do rés-do-chão para a urgência. Em declarações ao PÚBLICO depois da reunião, o autarca disse que o secretário de Estado ordenou à ARS que avançasse com o projecto de execução, devendo parte do custo ser assegurado por fundos comunitários após a reprogramação do mapa financeiro feito pelo Governo anterior. A novidade é que as duas autarquias assumiram o compromisso de que vão dividir com o Estado o valor da comparticipação nacional complementar.   

O comunicado da ARS não dedica uma linha ao futuro da USLA e o pedido de esclarecimento sobre essa ausência, feito pelo PÚBLICO, não teve resposta. No entanto, na nota de imprensa lançada para manifestar o regozijo pelo resultado da reunião, Elisa Ferraz diz que a criação da USLA foi "suspensa" após a "forte contestação" dos autarcas. E Aires Pereira garante que, na reunião, Fernando Araújo deixou claro que, depois de ouvir os argumentos da Póvoa e Vila do Conde, a alteração no Centro Hospitalar  "é um assunto  encerrado". O social-democrata e a socialista argumentaram com o facto do Centro Hospitalar ter obtido bons desempenhos nalgumas áreas - está no topo nacional no menor tempo de espera para cirurgia - e que a retirada de valências da urgência local colocaria a descoberto uma área populosa do litoral, até Viana do Castelo. Só na Póvoa e Vila do Conde existem quase 150 mil habitantes. 

Também o Agrupamento dos Centros de Saúde da Póvoa/Vila do Conde - que passaria igualmente para a USLA - conseguiu que todos os utentes do SNS tenham nesta altura médico de família e, não menos importante no entender de Aires Pereira, com o fim do Centro Hospitalar "enterrava-se de vez a possibilidade de um dia a Póvoa e Vila do Conde poderem ter um hospital novo", como foi prometido. 

Mas Aires Pereira diz que não vai esquecer os acontecimentos dos últimos dias e permanecerá "vigilante". O autarca confidenciou que foi contactado na segunda-feira pelo presidente da ARS/Norte e sentiu que Pimenta Marinho "estava a apalpar terreno" sobre a posição da Póvoa para a alteração. "Levou com uma reacção pronta", revelou, ao ponto do secretário de estado ter resolvido intervir. Mas antes desse encontro, Aires Pereira procurou também saber se podia contar com o apoio dos seus conterrâneos e na quinta-feira, dia 16, aproveitou a plateia cheia do Cine-teatro Garrett - na cerimónia comemorativa da elevação da Póvoa a cidade - para tornar público o problema e "pedir a ajuda de todos", independentemente da sua preferência partidária, para "se movimentarem contra a morte do Centro Hospitalar". 

O autarca considera que o projecto da USLA procurava somente "resolver o problema do Hospital de Matosinhos". Em decalarações ao Jornal de Notícias, o autarca matosinhense Guilherme Pinto apoiava o surgimento da USLA como forma de permitir ao Hospital Pedro Hispano ganhar escala.   

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