A habilidade do CDS

Com um PSD inconsistente, os centristas dão as cartas na oposição

Muito atentos à situação política, não escapou aos centristas uma informação difundida ontem pela TSF, segundo a qual Mário Centeno já deu sinais de alerta aos seus parceiros à esquerda para a eventualidade de ter de dar notícias difíceis. O ambiente económico tem-se degradado, razão pela qual as previsões de crescimento têm sido revistas em baixa, quer por parte da Comissão Europeia e do FMI, quer pelo Banco de Portugal e as medidas que o Governo negociou com Bruxelas para o Orçamento deste ano também não favorecem políticas expansionistas.

Ora isto retira muita margem de negociação ao Governo, cá dentro e lá fora, tanto mais que está na recta final de preparação do Programa de Estabilidade (PE) e o momento não é propriamente o mais adequado para alimentar guerras de desfecho imprevisível com Bruxelas. Pelo contrário, esta é a janela de oportunidade encontrada pelo CDS para tentar explorar as contradições entre os três partidos que fazem parte deste acordo de governação.

Daí o desafio lançado ontem ao PS, BE e PCP pelo partido de Assunção Cristas, no sentido de os três partidos submeterem o PE ao crivo do voto no Parlamento. A ser aceite, a manobra submeteria os socialistas à dupla pressão de terem de encontrar soluções para agradar simultaneamente a gregos e a troianos, o que se afigura politicamente inviável. Assim, o Programa de Estabilidade não será sujeito a votos, porque a tal não obrigam as regras, e a esquerda mimetizará a atitude que sempre criticou à direita. Mas, para já, bloquistas e comunistas estão em compasso de espera. O que lhes interessa é o próximo Orçamento do Estado e é nessa negociação que vão jogar tudo, inclusivamente a continuação da “geringonça”. Quanto ao CDS, vai dando mostras de continuar vivo e a dar cartas no papel da oposição. Com um PSD inconsistente e sem conseguir liderar o enorme espaço que o PS deixou aberto ao centro, tudo é mais fácil para os centristas.

 

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