CDS de Ovar aconselha Cristas a distanciar-se do modus operandi seguido no partido

Dirigente nacional fala das “pressões” que correram no congresso e acusa liderança da distrital de Aveiro de estar “ao serviço dos interesses de Lisboa”.

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Assunção Cristas e Paulo Portas continuam a ser criticados por algumas bases Nelson Garrido

O conselheiro nacional Fernando Almeida, que esta semana se demitiu da comissão política da distrital de Aveiro do CDS, diz que “Portugal ainda não é a Coreia do Norte” e avisa que não vai tolerar “mais pressões” vindas da direcção do partido. É mais uma voz a levantar-se contra a forma como decorreu o congresso do último fim de semana, e que já motivou críticas e demissões.

O dirigente nacional, que preside à concelhia de Ovar, dispara em várias direcções, incluindo a presidente, Assunção Cristas, aconselhando-a a distanciar-se do “modus operandi que marcou a vida do partido ao longo destes 16 anos”, numa alusão directa a Paulo Portas, que acusa de “interferir na vida interna da distrital de Aveiro, pondo e dispondo”.

Em declarações ao PÚBLICO, o dirigente do CDS insurge-se contra a “palhaçada das negociatas de corredores que ocorreu no primeiro dia do congresso” e denuncia a “as pressões que a direcção exerceu sobre os militantes que se preparavam para subscrever a lista [de Filipe Lobo d´Ávila] ao Conselho Nacional alternativa à de Assunção Cristas”.

”No sábado aquando da elaboração das listas, Pedro Magalhães, adjunto do presidente da Câmara de Vale de Cambra e director de campanha de Assunção Cristas no distrito de Aveiro, ameaçou que aqueles que subscrevessem a lista ao Conselho Nacional que não fosse a de Assunção Cristas sofreriam consequências”, afirmou. Mas o PÚBLICO sabe que houve outras estruturas que fizeram iguais pressões.

“Há um clima de hostilidade para quem não está com a liderança do partido”, assume o conselheiro nacional com 22 anos de militância, sublinhando que “não vai deixar de expor o seu pensamento de forma livre”. O presidente da concelhia de Ovar discorda de “toda a idolatria” relativamente a Paulo Portas, a quem acusa de ”cometer erros”.

E dispara: “O partido não nasceu com Paulo Portas. Há uma parte do CDS, que é o PP, que nasceu com ele e o melhor era que não tivesse nascido, porque foi um projecto falhado”. “Há pessoas que estiveram na linha da frente do 'PP' que fizeram muito mal ao partido”, denuncia Fernando Almeida, para quem Paulo Portas deve muito a Aveiro”, distrito pelo qual o líder cessante do CDS-PP foi eleito várias vezes deputado à Assembleia da República.

Indignado com o que se passou na reunião magna do partido do passado fim-de-semana, que elegeu Assunção Cristas para presidente, o conselheiro nacional avisa: “Não estamos na Coreia do Norte e num partido ao qual já dei muito não vou deixar de tomar as minhas opções de forma livre”.

Sem rodeios, declara que “a presidente precisa de perceber que está mal rodeada, caso contrário não haverá tanta unanimidade em torno da sua liderança”, porque, adianta, “há muita gente descontente com o que se está a passar”. Por isso, desafia a nova líder a ir para o terreno e falar com as pessoas que estão à frente das estruturas.

O conselheiro nacional não poupa o líder da distrital de Aveiro, Jorge Pato, que acusa de “estar ao serviço dos interesses de Lisboa”. “Não me revejo na forma como o presidente da distrital gere o partido, porque deixa que Lisboa intervenha directamente em Aveiro”, declara, acusando Jorge Pato de “fazer um péssimo trabalho à frente da estrutura distrital e um bom trabalho ao serviço dos interesses de Lisboa”.

O PÚBLICO questionou Jorge Pato sobre as críticas internas de que tem sido alvo nos últimos dias, mas o líder da distrital de Aveiro não quis prestar declarações. “Não comento, a distrital tem de resolver os seus problemas internamente”, disse, revelando que vai convocar uma reunião, que ainda não tem data marcada, “para as pessoas falarem”.

É neste ambiente de grande crispação que vai decorrer o périplo que o novo secretário-geral do CDS, Pedro Morais Soares, vai iniciar nos próximos dias às estruturas do partido. Pedro Morais Soares escreveu uma carta na quinta-feira, informando as estruturas distritais concelhias e regionais de que pretende reunir-se com todas elas.

Para além de Fernando Almeida, demitiu-se da comissão politica distrital de Aveiro o também conselheiro nacional Miguel Vidal, que lidera a concelhia de Águeda. E há quem garanta que há mais demissões na calha.

 

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