Belém quer discutir gratuitidade do ensino superior português na Europa

Candidata presidencial foi recebida na República da Praça, em Coimbra com um fado de Zeca Afonso. A seu lado, estava Alberto Martins, um dos protagonistas da crise académica de 1969.

Foto
Adriano Miranda

Num registo informal, Maria de Belém Roseira reuniu-se sábado à noite, em Coimbra, com um grupo de estudantes universitários com quem falou sobre a gratuitidade no ensino superior em Portugal e da necessidade dessa questão ser discutida na União Europeia (UE) no âmbito do programa 2020.

Afirmando que uma das obrigações que Portugal subscreveu foi aumentar a percentagem dos seus alunos, dos seus recursos humanos com ensino superior, a candidata presidencial entende que Portugal deve mostrar a sua realidade à mesa das negociações da UE para que os objectivos estratégicos ao nível da qualificação possam ser cumpridos.

Em resposta a perguntas dos estudantes, que residem na República da Praça, Maria de Belém defendeu que assistem razões para que Portugal – “um país com dificuldades económicas enormes” – faça esse debate no plano da União Europeia “uma vez que existem muitas pessoas que querem prosseguir os seus estudos num nível superior e não o conseguem fazer por razões económicas”. Entende, por isso, que a nossa realidade “deve ser espelhada nas mesas das negociações da União Europeia para que os objectivos estratégicos sejam cumpríveis".

Com Alberto Martins, o deputado socialista e protagonista da crise académica de 1969 a seu lado, Maria de Belém esclareceu que em Portugal o ensino só é gratuito até ao 12.º ano, uma realidade bem diferente da de alguns países da UE que garantem a gratuitidade ao longo do ensino superior.

Do seu ponto de vista, seria interessante que, na discussão no âmbito europeu, a questão de estender em Portugal a gratuitidade do ensino superior seja levantada precisamente por causa dos objectivos a nível do programa 2020", na medida em que – precisou –, uma das obrigações que Portugal subscreveu foi aumentar a percentagem dos seus recursos humanos com curso superior.

"Não vale a pena estarem a fazer documentos que têm como objectivo reduzir as desigualdades entre países e depois as políticas concretas aumentam as desigualdades entre países", disse, reclamando que Portugal “tenha uma voz mais forte, a nível da Europa. ”Um tratamento de igual para igual”, proclamou.

"Nós somos pessoas que honram os seus compromissos, mas não queremos ser boicotados na origem no cumprimento daquilo que nós pretendemos atingir", insistiu.

Sendo Maria de Belém uma candidata à Presidência da República, o debate fez-se também à volta da igualdade, dos direitos humanos e da emigração. "Igualdade proclamada é diferente de igualdade vivida", sublinhou. Já sobre os direitos humanos, sustentou que “têm de estar sempre a ser defendidos e garantidos” e relativamente à emigração, disse com alguma preocupação: ”Não podemos sangrar o país. Se tirarmos o sangue novo ficamos sem a possibilidade de viver”.

 À sua chegada, os estudantes cantaram um fado de José Afonso e colocaram-lhe uma capa preta nos ombros. 46 anos depois de ter estudado em Coimbra, Maria de Belém partilhou algumas das histórias da sua vida de estudante, revelando que só entrou numa república quando um seu cunhado se licenciou em medicina. "Vim cá com a minha irmã, que na altura ainda namorava com ele, e entrámos numa república. Vínhamos festejar a licenciatura do meu cunhado. Fiquei deliciada, nunca tinha entrado numa república". Outras confidências mais pessoais ficaram prometidas para mais tarde.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários