Cinco candidatos ao Sonae Media Art, o maior prémio nacional à criação

Musa paradisiaca, Tatiana Macedo, Patrícia Portela, Diogo Evangelista e Rui Penha são os candidatos ao maior prémio português à criação. A exposição da primeira edição abre este sábado ao público no Museu do Chiado.

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Os artistas no Museu do Chiado
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Obra da Musa Paradisiaca
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Obra de Rui Penha
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Obra de Diogo Evangelista

É o maior prémio nacional à criação na área das artes: 40 mil euros. O Prémio Sonae Media Art, uma parceria entre a empresa detentora do PÚBLICO e o Museu do Chiado, abre este sábado a exposição a partir da qual, a 11 de Dezembro, será escolhido o vencedor da primeira edição desta iniciativa que visa distinguir trabalho em vídeo, computação, som, mixed-media, bem como linguagens de cruzamento entre entre estes e a performance, a dança, o cinema, o teatro e a literatura.

Os cinco candidatos da actual edição foram escolhidos a partir de um universo de cerca de 150 proponentes. São nomes com percursos em consolidação e apontados por um júri de selecção constituído por Emília Tavares, curadora de fotografia e novos media do Museu do Chiado, e os curadores independentes Sandra Vieira Jürgens e Natxo Checa. Em Dezembro, o vencedor será escolhido por um júri de premiação composto pelo realizador Marco Martins, a directora do Electronic Arts Intermix, Lori Zippay, e o curador João Silvério, da Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.  A escolha será entre propostas muito diversas, tanto em termos formais como conceptuais.

Musa paradisiaca

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Eduardo Guerra (n. 1986) e Miguel Ferrão (n. 1986) trabalham juntos desde 2010 e em 2013 foram já candidatos ao Prémio EDP Novos Artistas. No Museu do Chiado montaram uma Cantina – Fábula em que a transformação de um animal em comida para os homens é tão literal como símbolo dos alimentos e do acto de comer como veículos para o estabelecimento de comunidade e troca cultural. No vídeo Fome Animal os artistas registaram o momento em que numa padaria alentejana um leitão assado é esquartejado e servido como almoço. Frente à projecção, montaram duas grandes mesas às quais o público poderá sentar-se partilhando pão fresco feito a partir das formas de um molde em barro do leitão. O barro, matéria primeira da escultura, o pão, alimento essencial, e a carne, símbolo primeiro da humanidade: “Os media inauguram uma forma de pensar, parte de nós o tributo que lhes prestamos”, dizem os artistas. O deles afigura-se como um tributo à ideia de uma existência civilizacional milenar, nas suas dimensões mais essenciais e poderosamente simbólicas.

Tatiana Macedo (n. 1981)

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Tatiana Macedo nasceu em Lisboa, no entanto, apresenta-se como luso-angolana. Os pais viveram em África e a artista assume esse legado colonial bem como a necessidade de o reflectir. Em 1989, uma projecção vídeo em três ecrãs, aborda a necessidade da tradução e interpretação como âncoras para a produção de pensamento e conhecimento, as estruturas de poder da linguagem e a porosidade das fronteiras entre o documental e a ficção. Apresenta o que define como um ensaio em campo expandido, no qual cruza imagens captadas por si mesma e imagens de arquivo. O seu filme começa com as imagens do debate histórico entre James Baldwin e William F. Buckley Jr. na Universidade de Cambridge em 1965 intitulado Is the American Dream at the Expense of the American Negro?. Entre as secções realizadas pela artista estão as imagens de Lara, uma intérprete de conferências nascida em Moçambique e que lê um guião onde a sua própria experiência de vida surge espelhada. “Tudo é traduzido, até a tradutora”, diz a artista.

Patrícia Portela (n. 1974)

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Patrícia Portela estudou cenografia, cinema e filosofia, e a heterogeneidade da sua formação tem-se reflectido não só na heterodoxia do seu percurso como da sua obra. Autora de performances transdisciplinares e obras literárias, recebeu tanto o Prémio Madalena Azeredo de Perdigão e o Prémio Teatro na Década como foi finalista do Grande Prémio de Romance e Novela APE. Parasomnia, a peça com que se candidata ao Sonae Media Art, é também tanto narrativa como experiência visual e de imersão cenográfica. Parte de um ensaio inacabado do investigador Acácio Nobre sobre o sono, a vigília e os sonhos, cruzando-o com as descobertas dos neurofísicos Luigi Rolando (1773-1831) e Jean Pierre Flourens (1794-1867) sobre o sono dos pássaros. Espacialmente composta por duas câmaras distintas, na primeira – ou antecâmara – um mural em movimento vai sobrepondo imagens icónicas e simbólicas do sono e da morte a partir de uma primeira imagem: a da Ofélia de Millais. Na segunda câmara é o próprio visitante que se vê convidado ao sonho em camas suspensas e sonorizadas com narrativas. Na perspectiva da artista o público fica no limiar de uma contradição performativa: se ficar acordado, perde a experiência que a instalação lhe propõe; se adormecer, perde a experiência que a instalação lhe apresenta.

Diogo Evangelista (n. 1984)

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Em Down in the Valley, Diogo Evangelista reúne três instalações vídeo em que procura questionar a relação entre o humano, o autómato e o primata. Spine Poem, o primeiro dos trabalhos com que se apresenta ao público, os gestos cirúrgicos – mas também ritualistas – de um artesão guiam-nos na preparação quase laboratorial de uma receita de espinha de peixe. Irracional Man, o segundo momento da intervenção deste artista, confronta-nos com os gestos maquinais de um primata-autómato com hábitos humanos, como fumar. E, por fim, em Magician’s End, vemos em freeze o momento em que uma mão desfere um murro num ventre – uma evocação dos murros que levaram à morte de Harry Houdini, o mais conhecido mágico do mundo ocidental. Foi um teste: Houdini dizia-se capaz de aguentar qualquer murro no estômago. Morreu nesse dia por ruptura do apêndice. Evidência dos limites do corpo e da vida em confronto com a hipótese de aceitação do mecanicismo como gerador de emoções proposto pelas duas outras peças.   

Rui Penha (n. 1981)

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Compositor e performer de música experimental e electroacústica, em Resono, Rui Penha propõe-nos também as máquinas como geradoras de emoção, empatias e conhecimento. Em geral, a relação que estabelecemos com as máquinas, diz o artista, é de senhores e escravos. Com a agravante de, normalmente, dirigirmos às máquinas quase exclusivamente emoções negativas – de ordem, para a execução de tarefas; de frustração, quando cometem erros; de raiva, quando avariam… Uma realidade tanto mais inquietante quando, hoje, grande parte da partilha emocional entre humanos é feita através de máquinas. A obra que propõe procura subverter a ordem habitual das coisas. E coloca a hipótese de uma autonomia maquinal – os 15 robots-escultura aos quais fez ouvir 40 horas de música, não reagem a qualquer estímulo sonoro produzido pelos visitantes e relacionam-se uns com os outros independentemente da intervenção humana. A reciprocidade e a empatia são aqui condição para a troca. Sabendo que cada troca contribuíra para o desenvolvimento da “personalidade” de cada um dos “seres-máquina”.

 

 

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