Os coleccionadores de clubes

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Peter Lim, actual dono do Valência DR

Em termos empresariais, falar-se-ia de concentração horizontal. Mas, no futebol, o fenómeno está mais próximo de ser considerado coleccionismo: há empresários com bolsos recheados que se dedicam a controlar vários clubes ao mesmo tempo, em países diferentes. A prática chegou a levantar dúvidas em termos europeus, por causa das provas organizadas pela UEFA, e a própria Comissão Europeia teve de intervir para salvaguardar a integridade das competições.

O caso remonta a 2000, quando o grupo britânico ENIC apresentou queixa contra a UEFA por entender que os regulamentos das competições europeias desencorajavam e restringiam o investimento em clubes. “No caso da regra da UEFA sobre a multi-propriedade, a Comissão entende que o propósito não é adulterar a competição, mas garantir a integridade das competições por si organizadas”, podia ler-se na decisão da Comissão Europeia que rejeitou a queixa da ENIC. E o grupo britânico, que chegou a ter participações em seis clubes europeus, três delas maioritárias – Vicenza (99,9%), Slavia Praga (96,7%), Basileia (50%), AEK (47%), Tottenham (29,9%) e Rangers (25,1%) – seria obrigado a desfazer-se da maioria delas. Actualmente controla apenas o Tottenham, na totalidade.

Tal como se lê na formulação em vigor das regras das provas organizadas pela UEFA, “ninguém pode estar simultaneamente envolvido, directa ou indirectamente, em qualquer cargo de direcção, administração ou chefia desportiva de mais de um clube participante”. E acrescenta o regulamento: “Nenhum indivíduo ou entidade legal pode controlar ou influenciar mais de um clube participante nas competições da UEFA”, referindo concretamente situações de maioria accionista de votos.

Porém, apesar da deliberação da Comissão Europeia e do que os regulamentos estabelecem, a posse de vários clubes por uma só pessoa continuou e continua a ser uma realidade, ainda que a questão das competições europeias não tenha voltado a colocar-se.

Giampaolo Pozzo pode orgulhar-se de ser dono de um clube de futebol em três dos principais campeonatos europeus. O empresário 74 anos, com fortuna de família feita na produção e comercialização de máquinas industriais, é proprietário da Udinese (clube da cidade onde nasceu), tendo-lhe juntado o Granada em 2009 e o Watford em 2012. O intercâmbio de jogadores entre os três clubes tem sido constante.

Já houve um caso semelhante com ligação a Portugal: o investidor iraniano Majid Pishyar controlou o Beira-Mar entre 2011 e 2013, quando também detinha os suíços do Servette. O belga Roland Duchâtelet é, segundo o diário britânico The Independent, dono do Standard Liège, Charlton (Inglaterra), Carl Zeiss Jena (Alemanha) e Alcorcón (Espanha), enquanto a sua esposa dirige os belgas do Sint-Truidense e o seu filho detém os húngaros do Újpest.

Originário de Singapura, Peter Lim ganhou notoriedade quando adquiriu o Valência e começou a fazer negócios com o futebol nacional: contratou o treinador Nuno Espírito Santo e uma série de futebolistas portugueses e outros que actuavam em clubes nacionais. E também há o caso da Red Bull, marca de bebidas energéticas que tem um clube na Áustria e outro na Alemanha (e mais dois nos EUA e Brasil).

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