Nas ruas de Lisboa, o Bloco ouviu swing e revolta

Catarina Martins, Mariana Mortágua e Pedro Filipe Soares demoraram 45 minutos a fazer 700 metros, entre a Praça Paiva Couceiro e a do Chile.

Foto

Trompetes e saxofones em vez das habituais gaitas-de-foles e tambores. Foi uma arruada com muito swing aquela que o Bloco de Esquerda fez nesta quinta-feira, quando calcorreou a Morais Soares em Lisboa. Antes de começar a descer a rua, a porta-voz Catarina Martins abana timidamente o jornal do partido, só esse gesto responde à música, embora o som convidasse a muito mais.

A animação com que aqueles instrumentos enchem a rua não tem eco nas várias revoltas que os bloquistas vão ouvindo. Catarina Martins segue acompanhada pelo número dois por Lisboa, Pedro Filipe Soares, e pela primeira da lista, Mariana Mortágua, que no comício da noite anterior tinha sido referida pela porta-voz como estando muito mais preparada para o cargo das Finanças do que a ministra e candidata da coligação, Maria Luís Albuquerque. A “menina”, como a tratam nas ruas, brilhou tanto na comissão de inquérito do BES que ainda colhe elogios. Na rua, espantam-se que, sendo tão nova, com apenas 29 anos, a economista domine tão bem os temas da banca.

Ao longo de 700 metros e durante três quartos de hora, entre a Praça Paiva Couceiro e a do Chile, num percurso que normalmente não demoraria dez minutos, as queixas que os candidatos ouvem são muitas. Cruzam-se com uma mãe que diz aos filhos: “Estudem para emigrar”. E que tem saudades do escudo: “Fazia muito mais do que com o euro.” Reformas baixas, taxas moderadoras elevadas, o preço dos livros. “Quando Paulo Macedo [ministro da Saúde] diz que há mais gente isenta de taxas moderadoras, não é verdade”, responde Catarina Martins a um senhor que lamenta o dinheiro que os pais gastam com a saúde, quando recebem tão pouco. “Não é verdade”, corrobora. E é por isso que lhe garante: “Tem o meu voto.”

Nem todos, porém, com quem a porta-voz se cruza lhe asseguram o mesmo. Alguns inclinam-se para votar na coligação Portugal à Frente, o que não os impede de apreciar o trabalho que Catarina Martins tem feito no Parlamento.

Manuel Simas é estudante de Engenharia Electrónica, no Instituto Superior Técnico em Lisboa. Tem 18 anos, é dos Açores, e só não vai votar porque não conseguiu a tempo que a universidade lhe desse o comprovativo que lhe permitiria ir às urnas em Lisboa. Mas se votasse, votava na coligação. Daria mais uma oportunidade ao primeiro-ministro para continuar o trabalho que tem feito.

O momento mais caricato acontece, porém, quando José Gomes, de 60 anos, encarregado de uma empresa de construção civil e a trabalhar nas obras na rua Morais Soares, grita: “Eu sou um revoltado!” Os jornalistas, e são muitos, olham todos para ele. “É só isto, obrigados. Sejam felizes.” Tarde demais. Quando dá por ela, José Gomes tem as câmaras de filmar e os microfones todos à volta. Lá se explica: votava PS ou CDU, agora vai votar Bloco. Quer dizer “não” à política deste Governo. Diante da eloquência de José Gomes e com a agitação que ali se criou, a porta-voz aproxima-se: “Disseram-me que devia vir aqui falar consigo.” Dali, Catarina Martins só ouve elogios: “Estou a olhá-la nos olhos”, começa por dizer José Gomes antes de lhe deixar uma promessa solene, a de que ele e toda a família votarão Bloco.

Sugerir correcção
Comentar