José Jardim: “A maior dificuldade é manter o nível de rendimento”

O Benfica discute nesta quarta-feira, na Sérvia, a primeira mão da final da Taça Challenge de voleibol. O treinador, que acredita que a equipa pode bater-se “seja contra quem for”, quer um serviço agressivo.

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José Jardim levou o Benfica à sua primeira final europeia no voleibol DR

A história do voleibol do Benfica ao longo das últimas décadas confunde-se com o percurso profissional de José Jardim. Antiga referência do clube como jogador, continua a sê-lo na actual condição de treinador, estatuto com o qual conquistou 13 troféus para os seniores “encarnados”, desde 2004-05. Em entrevista ao PÚBLICO, o técnico português, que já tem assegurada a discussão de mais um título nacional na final do play-off, frente à Fonte do Bastardo, antecipa outro dos grandes desafios neste final de época: a primeira mão da final da Taça Challenge, que será nesta quarta-feira (17h) disputada na Sérvia, frente ao Vojvodina Novi Sad.

O Benfica tem feito uma carreira brilhante na Europa e fica a sensação de que o mais difícil já foi conseguido, com o triunfo sobre o Ravenna. Acredita que o Vojvodina vai ser um obstáculo tão complicado como os italianos?
Penso que vai ser um adversário muito competitivo. O Vojvodina veio de uma competição superior [a Taça CEV], na qual foi eliminado pelo Trentino, é uma equipa que nos quartos-de-final, depois de ter perdido na Turquia [com o Galatasaray], deu a volta à eliminatória por 4-0, com o golden set, e isso mostra a sua capacidade. Depois também venceram em Minsk, frente a uma equipa que é praticamente a selecção da Bielorrússia. É um erro pensarmos que é uma equipa mais acessível. O estado de concentração e vigilância é fundamental e nós temos isso em mente.

Do lado do Vojvodina, Drazen Luburic (oposto, com 2,02m) tem sido eleito como o melhor jogador em vários jogos da Taça Challenge e até na final da Taça da Sérvia. É o principal trunfo a anular?
A nossa preocupação é dificultar a organização atacante deles. O Ravenna também tinha um jogador muito forte no ataque [o oposto Renan Zanatta] e conseguimos anulá-lo. O importante é procurar que a bola não chegue nas melhores condições aos atacantes, algo que tentaremos fazer com o nosso serviço.

Os centrais do Benfica têm-se exibido a grande nível, mas vão encontrar do outro lado Cedomir Stankovic, que é muito forte no bloco. Isso obrigará a variar mais na distribuição?
É fundamental termos um jogo variado, se bem que ter um jogo variado pode significar, em certas alturas, jogar várias vezes e consecutivamente para uma zona. Tem a ver com momentos e também com a inspiração dos atacantes. Mas essa é uma das características do Vojvodina, têm um excelente bloco.

De que forma é que o facto de o Benfica já ter eliminado outra equipa sérvia, o Partizan, nesta edição da Taça Challenge pode contribuir para este jogo?
Esta equipa parece-me ser mais equilibrada em termos físicos, para além de que os centrais são claramente superiores aos centrais do Partizan. De qualquer modo, a Sérvia é o oitavo país do ranking mundial [Portugal é o 27.º]. Muitos dos jogadores sérvios jogam nos principais campeonatos do mundo. O voleibol sempre foi um dos desportos mais populares na Sérvia, portanto, eles têm realmente uma grande escola.

A ausência de Vinhedo é um problema? Na verdade, o Ricardo Perini tem estado bastante sólido na distribuição.
Vou confessar-lhe que neste momento estou preocupado, porque o Perini também veio lesionado de Itália: levou com a bola no polegar e a mão inchou imenso. Está a tentar recuperar, também à custa de analgésicos, enquanto o Vinhedo tem feito um esforço para melhorar, mas tem uma fissura no braço e é muito difícil. E é verdade que o Perini tem estado muito bem. Esse é um sinal de que mesmo os jogadores menos utilizados têm dado uma resposta positiva quando são chamados.

Que significado tem para si o facto de a segunda mão da final [no domingo] se disputar no pavilhão da Luz?
Creio que é um prémio merecido podermos disputar perante o nosso público o encerramento da competição. É uma grande possibilidade para todos os adeptos marcarem presença num jogo desta importância.

O seleccionador nacional disse há dias que o Benfica tem capacidade para estar na Liga dos Campeões. Sei que do ponto de vista financeiro é muito difícil, porque é uma prova que exige um forte investimento, mas do ponto de vista desportivo partilha da opinião de Hugo Silva?
O Benfica tem equipa para jogar seja contra quem for. A questão que se coloca é que o poderio das equipas da Liga dos Campeões, que contam com os melhores jogadores do mundo, leva a que os objectivos não possam ser os mesmos.

Mas há um horizonte temporal estabelecido para subir de escalão na Europa?
Ainda não lhe posso dizer nesta altura, porque ainda não abordámos a próxima época. O que lhe posso dizer é que, no futuro, queremos dar continuidade à boa época que estamos a fazer.

O voleibol do Benfica tem evoluído de forma contínua, nos últimos anos. Com a chegada à final da Taça Challenge, a final do campeonato, a conquista da Taça e da Supertaça neste ano, qual será o desafio na próxima época? Este percurso trará maior responsabilidade à equipa?
A questão não é tanto a de haver maior responsabilidade. O nosso campeonato é desequilibrado e para uma equipa que anda nestas andanças — nós disputámos a final da Taça, depois tivemos a eliminatória com os gregos, o play-off com o Sp. Espinho — são muitos os aspectos que motivam os jogadores a ter um rendimento constante. Manter esse nível é a maior dificuldade. Esse é que é o grande diferencial, o aspecto motivacional.

Tem-se falado de perda de competitividade, imposta pelo garrote financeiro que deixou históricos como o Sp. Espinho e o Castêlo da Maia com menos armas para lutar. Com os anos que leva no voleibol, acredita que a modalidade estagnou ou até perdeu nível competitivo?
Há cada vez um maior diferencial entre as equipas que aspiram ao título. A principal diferença é que, se há menos exigência, normalmente diminuem as exigências ao nível do treino. E eu sou um defensor do treino. Por vezes, os clubes não podem ter compromissos mais elevados com os jogadores e entram numa espécie de lei da compensação, com menor exigência.

Acredita que esta performance europeia do Benfica pode também chamar mais pessoas aos pavilhões? Ter-se-á perdido alguma da cultura das modalidades que existia nas décadas de 1980 e 1990?
Acredito que sim, que pode ter impacto junto dos adeptos. No Benfica temos a felicidade de termos sempre boas casas. O público é cada vez mais conhecedor da modalidade e, mesmo em dia de semana, os pavilhões têm estado praticamente cheios. E isso faz do voleibol uma festa. A verdade é que o Benfica tem estado sempre nos momentos decisivos e isso também ajuda.

Os últimos três anos em especial têm sido uma resposta da secção aos que criticaram a equipa por ter havido um forte investimento e ter falhado o título dois anos seguidos?
Não foi só uma resposta da equipa técnica, da secção, mas uma retribuição pela aposta que a direcção do clube manteve sempre. O Benfica chegou a essas finais fazendo épocas excepcionais, durante meses a fio, ganhando a Taça, a Supertaça. Isso também pesou na decisão das pessoas, porque houve outras equipas que não chegaram ao momento de poder discutir o título.

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