Nomes das vítimas do Meco gravados em memorial na praia inaugurado este domingo

População local manifestou a sua oposição à iniciativa, apresentada como uma homenagem aos jovens desaparecidos mas também à perseverança dos pais e aos que, de todas as idades, "o mar levou a vida".

Foto
Os seis jovens morreram no mar a 15 de Dezembro de 2013 Miguel Manso

Um bloco de mármore em bruto sobre outro trabalhado, com seis nomes gravados, perpetua, a partir de hoje, na praia do Meco, Sesimbra, a memória dos seis jovens que morreram no local, em 2013.

O memorial, da autoria do escultor João Cutileiro, foi colocado nas dunas, na mesma zona de praia onde, a 15 de Dezembro de 2013, os seis jovens morreram afogados, depois de se terem deslocado para a praia durante a noite, no âmbito de um fim-de- semana para debater as praxes académicas. Os seis, com outro jovem que se salvou, eram estudantes universitários e pertenciam à comissão de praxes. Os pais levaram o caso à justiça e sempre consideraram que as reais circunstâncias da morte nunca foram esclarecidas.

Neste domingo, na sequência de um pedido dos pais de construção de um memorial, que a Câmara apoiou, fez-se a cerimónia de inauguração, com familiares e amigos das vítimas no local, e muitas flores colocadas junto do monumento, na areia.

O presidente da Câmara de Sesimbra, Augusto Pólvora, em breves palavras, lembrou a noite em que, por razões desconhecidas e "até hoje não esclarecidas", os jovens foram para a praia e os dias de busca que se seguiram. Meses depois, disse, foi contactado pelos pais para a construção do memorial, um apelo a que não podia ficar indiferente, ele que também perdeu o pai no mar, contou. A obra, acrescentou, é uma homenagem aos jovens que morreram mas também à perseverança dos pais e aos que, de todas as idades, "o mar levou a vida".

Manuel Carrasqueiro, tio de uma das vítimas, em nome das famílias, também lembrou os dias de busca dos corpos, e o momento seguinte em que sentiram que era preciso saber mais, investigar o que realmente se tinha passado, algo que, disse, não estava a ser feito.

E falou de pessoas que "disseram muitas coisas nos primeiros dias" que mais tarde "optaram por não dizer", mencionou a falta de verdade em todo o caso e criticou as praxes que se fazem nas universidades. "Não estamos a fazer nada. O que estamos a fazer é não mexer nas coisas. Temos de contribuir, ajudar, para que não volte a acontecer", disse, defendendo que é preciso legislar para que, de futuro, quando acontecer um caso idêntico, seja averiguado.

Palavras no areal, junto ao monumento de Cutileiro, um grande bloco de mármore em bruto, como bruta foi a morte dos jovens, nas palavras do escultor. E os nomes na parte traseira, para que quem os leia veja o mar ao mesmo tempo.

Cutileiro, disse, partilha as dúvidas dos pais, de que a história "está a ser muito mal contada". E não valoriza o movimento da população local contra a obra. "Têm os seus direitos", de protestar, como os pais têm o direito de a querer. E se a vandalizarem? Cutileiro encolhe os ombros: "Que posso eu dizer? Se quiserem". Mas duvida que consigam vandalizar dois blocos brutos de mármore.

Sugerir correcção
Comentar