Cartas à directora

Microcultura ou demasiada pouca coisa?

Que ficará da microcultura? Era o título de um artigo que li há uns tempos e que me ficou a ecoar… falava de microteatro, microrrelatos, micropoetas e outras formas de expressão minimalistas… As frases curtas, expressivas e significativas não são uma novidade. Há uma variedade enorme e interessantíssima de aforismos com várias origens, desde os simples ditados populares até às citações de Confúcio, passando pelas “frases célebres de pessoas famosas”… muito anteriores ao tempo do Twitter.

O curto e conciso pode ser uma forma muito eficaz de transmitir uma ideia, expressar uma emoção… de criar. A interrogação que fica, e o problema que coloco, é se não estaremos a evoluir para um tempo em que não teremos paciência para ouvir uma sinfonia completa, assistir a mais de 15 minutos de teatro ou ler mais do que uns “tweets”. Vivemos assediados por informação, solicitações e ruidosas banalidades, num excesso difícil de gerir. Por vezes, comportamo-nos como se, face a uma mesa farta, provássemos de um prato, mas, ao ver outro ao lado, cuspíssemos o que já tínhamos na boca, para passar ao seguinte e continuar... Tocando em tudo e não saboreando a sério nada. Quantos podemos ou conseguimos passar uma hora em concentração exclusiva num livro, por exemplo, sem interrupção, sem recebermos ou procurarmos uma interacção qualquer com o exterior?

A “cultura do rápido”, como complementar, é interessante; como exclusiva, é perigosa. Porque há mais mundo para lá dos aforismos.

Carlos J. F. Sampaio, Esposende

O Siroco está a chegar

Parece que vem aí o Siroco, mas não fiquem em inquietações, não é o vento quente de África, e os oráculos do IPMA são o que são, nós é que não os sabemos ler.

É o maior navio da armada portuguesa. Dizem que toda a marinha cabe nele. Sorte a deles, já podem fugir todos e ao mesmo tempo. Nem todos temos essa sorte.

Se há dinheiro bem gasto é com o Siroco. Já com os submarinos disse o mesmo, e os amigos que receberam atenções, o que não terão dito sobre essa utilidade!

Vamos ter finalmente um navio multiusos para as mais variadas e inimagináveis missões humanitárias: a fuga concertada e em grupo de portugueses de Portugal, o transporte de mobiliário e baixelas de alguns, se isto um dia isto der para o torto, a importação às pazadas de chineses ricos que, a troco de passaporte de dupla nacionalidade, compram os imóveis dos que fugiram com as baixelas, mas que são os donos dos bancos, portanto o dinheiro continua a circular em circuito fechado e está sempre no mesmo sítio.

Oitenta milhões pelo Siroco é um bom negócio. Sabemos que as comissões vão ser muito mais envergonhadas, mas pronto, sempre é um navio estratégico, como os submarinos, esses sim, que ofereceram uns jeitosos complementos de reforma.

E por que não pôr este e os próximos governos, com a Assembleia e alguns serviços administrativos, todos eles no Siroco? Numa espécie de governação itinerante? A Antárctida iria gostar de os ter por lá, até mesmo no mar Báltico seriam bem recebidos.

Uma dica para que o Siroco saia a custo zero e quiçá até com lucro: acrescentem 0,01% de taxa de independência — seja lá isso o que for aos pagamentos para a Segurança Social. Isto para quem a paga, está claro!

Luís Robalo, Lisboa

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