Uma pausa para a arquitectura reflectir

O tema geral da futura edição da Trienal de Arquitectura de Lisboa foi concebido em torno da ideia de “pausa”, como princípio fundamental a qualquer processo criativo. Vai acontecer em Outubro de 2016.

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André Tavares e Diogo Seixas Lopes, os curadores da Trienal Valter Vinagre Kamerafoto
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Palácio Sinel de Cordes Daniel Rocha

A Trienal de Arquitectura de Lisboa regressará em Outubro de 2016 com a 4ª edição intitulada Constelações – uma pausa para a utopia, três núcleos principais, distribuídos pelo Museu da Electricidade, a Fundação Calouste Gulbenkian e o Centro Cultural de Belém, três conferências relacionadas com cada um dos núcleos, e um conjunto de eventos paralelos.

Serão três meses de programação “dirigida à cidade, aos arquitectos e ao público internacional, junto do qual a Trienal se tem vindo a afirmar”, como explicou esta sexta-feira André Tavares, durante a apresentação pública realizada no Palácio Sinel de Cordes, no Campo de Santa Clara, cedido pela Câmara Municipal de Lisboa e que actualmente acolhe a estrutura da Trienal.

André Tavares e Diogo Seixas Lopes compõem a dupla de curadores, depois da britânica Beatrice Galilee, responsável por Close, Closer (2013), do crítico de arte Delfim Sardo, com Falemos de Casas (2010), e de José Mateus, curador geral de Vazios Urbanos, a primeira edição (2007), e actual presidente da Trienal.

Foi aliás nessa qualidade que, na mesma sessão, José Mateus recordou a importância de manter uma periodicidade constante, enquanto lançava o tema geral da futura edição, concebido em torno da ideia de “pausa”, como princípio fundamental a qualquer processo criativo. Logo em seguida, a ideia da “arquitectura como uma das áreas portuguesas de internacionalização”, introduzida por Isabel Carlos, directora do Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão da FCG, acabaria por fortalecer o contributo da Trienal no panorama português mas também internacional.

A edição de 2016 será portanto um lugar de reflexão, numa aposta claramente “disciplinar”, nas palavras de Diogo Seixas Lopes, antecipando a programação das três principais mostras, cuja descrição ficou a seu cargo. Seixas Lopes começou por esclarecer que Constelações – uma pausa para a utopia funciona como “um leitmotiv, um título”: “Mais do que existir um tema, há um mote”. O desafio é promover a arquitectura, “uma disciplina muito antiga, como um direito e como um dever de uma sociedade”.

O Museu da Electricidade irá acolher A Forma da forma, onde três arquitectos nacionais e internacionais (já convidados, mas ainda não revelados publicamente) irão produzir três espaços expositivos concomitantes, mas capazes de exprimir as suas reflexões individuais sobre “a relevância da forma enquanto mecanismo de síntese da arquitectura”.

Segundo Seixas Lopes, o resultado permitirá interpelar o “papel da forma sobre o trabalho do arquitecto”. Já na Fundação Calouste Gulbenkian, a exposição Na obra irá focalizar-se sobre o estaleiro e os modos como determinadas decisões tomadas durante a obra influenciam a produção dos edifícios. A reflexão será conduzida através de casos de estudo históricos, e de outros mais contemporâneos, capazes de ilustrarem a ideia de estaleiro como uma performance representada no espaço público. Finalmente, O Mundo nos nossos olhos, a montar na Galeria Garagem Sul do Centro Cultural de Belém, repercutirá o contributo dado pelos arquitectos para a análise e para o debate das diferentes realidades urbanas. 

O que se pretende é lançar a ideia de Constelações, um encadeamento de acontecimentos e de exposições, evocativos dos diferentes modos de pensar e fazer hoje arquitectura, recuperando dimensões nem sempre presentes em mostras nacionais, como a da investigação.

O tipo de público da Trienal foi outro dos aspectos de reflexão em que a dupla de curadores se envolveu. Sexta-feira, André Tavares salientou que “a cidade tem que se rever” no evento e que, obrigatoriamente, “os conteúdos expositivos têm que se revelar na cidade”.

É ainda neste contexto que serão promovidas exposições “satélites”, realizadas “à margem”, mas “que irão interceptar as três mostras principais”. Por fim, a programação abrirá também espaço para a participação dos cursos de arquitectura, ministrados em universidades portuguesas, e a outros agentes culturais que desejem cooperar com a Trienal através de projectos associados.

Sem exactamente desvendarem o que ambicionam com “uma pausa para a utopia”, os curadores e a organização da Trienal parecem dizer-nos que em 2016 haverá tempo para pensar a arquitectura, lançando um projecto curatorial fortemente alicerçado sobre questões disciplinares. Novos dados sobre a programação, como o nome dos arquitectos convidados, ou os valores monetários envolvidos na sua realização, por exemplo, serão conhecidos ao longo de 2015.

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