A crise está bem instalada na demografia

Menos filhos, menos imigrantes, menos casamentos e menos divórcios: eis as tendências observadas pelo Instituto Nacional de Estatística na revisão dos principais números de 2013.

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Em 2013 havia 136 idosos por cada 100 residentes com menos de 15 anos PAULO PIMENTA

Os portugueses são menos e estão mais velhos e mais pobres. No final de 2013, a população portuguesa estava estimada em 10.427.301 indivíduos, menos 45.749 do que dez anos antes. Numa década, diminuiu 0,4%, portanto, segundo os números do Instituto Nacional de Estatística (INE), que passa nesta segunda-feira em revista os principais indicadores demográficos do ano passado.

Entre 1995 e 2010, a população portuguesa foi crescendo à custa dos imigrantes. Nos últimos três anos, porém, a taxa migratória registou valores negativos. Situava-se nos -0,35% em 2010, o que equivale a dizer que há muito mais portugueses a sair do país do que estrangeiros a entrar. Em consonância, a população estrangeira com estatuto legal de residente sofreu uma quebra de 11,8% desde 2010. Os maiores decréscimos foram nas nacionalidades brasileira, ucraniana e angolana.

Acresce que os nascimentos têm diminuído consecutivamente nos últimos anos. Os 101.381 nascimentos registados em 2010 comparam com os 82.787 do ano passado. O número médio de filhos por mulher em idade fértil desceu assim para os 1,21 em 2013 (era 1,39 em 2010).

Ao mesmo tempo, as mulheres adiam cada vez mais a maternidade. Em 2013, a idade média da mulher ao nascimento do primeiro filho era de 29,7 anos — mais cinco anos do que em 1990.

Isto acontece também porque (e apesar de 47,6% das crianças terem nascido fora do casamento em 2013) os portugueses que ainda se casam o fazem cada vez mais tarde. As idades médias das mulheres e dos homens à data do primeiro casamento aumentaram seis anos entre 1990 e 2013, ano em que se fixaram nos 30,2 anos para as mulheres e nos 31,7 anos para os homens.

Em 2013, os casamentos diminuíram 7,1%. E se nos ativermos aos casamentos católicos a quebra foi ainda mais forte: 10,6%. Num intervalo mais longo, entre 2003 e 2013, os casamentos diminuíram mais de metade: 59,6%.

Os divórcios, por seu turno, tinham vindo a aumentar, a uma taxa de crescimento anual de 5,6%, entre 1990 e 2012. Nos últimos três anos, porém, os divórcios diminuíram: só em 2013 houve menos 11,3% divórcios relativamente ao ano anterior. A diminuição do número de casamentos pode ajudar a explicar esta diminuição, mas alguns especialistas também admitem que a crise e as consequentes dificuldades económicas podem estar a manter algumas famílias juntas à força. 

A conjugação destas diferentes tendências contribui para o fortíssimo envelhecimento da população portuguesa dos últimos anos. Desde 1990 que a proporção de indivíduos com 65 e mais anos por 100 crianças e jovens com menos de 15 anos apresenta um constante crescimento: era de 72,1 em 1990 e de 136 no ano passado. 

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