Cartas à directora 12/09

Coro Celestial dos Cronistas do Sistema 

Dou os parabéns a João Miguel Tavares por, numa só crónica, personificar toda a postura do coro celestial de cronistas acéfalos a soldo do sistema que nos levou a ser o país mais fracassado da Europa. Para eles o mérito ou o desempenho nada contam mas só o élan das vernissages dos brilhantes grandes líderes que vão anunciando ao país. Relata Tavares sobre os debates das primárias: "Seguro desequilibrou o primeiro debate a seu favor e Costa estava mal preparado. Seguro ganhou o debate com mais convicção e António Costa esteve um pouco bizarro no minimalismo.” Tavares no entanto, conclui e anuncia eufórico, como uma fã de Justin Bieber, depois dos factos que ele próprio relatou o contradizerem:  “Ainda bem que Costa vai ganhar as primárias! Não há melhor no PS que Costa!" Concluiem os leitores que a prestação de alguém exterior ao sistema que nos trouxe até aqui não interessa para nada, faça o que fizer para se preparar e ganhar, será sempre enjeitado e insultado pelos do sistema. Diz Tavares: “Seguro é só um marrão que sabe ser pouco inteligente e por isso se prepara.” Não é um dos bons rapazes. Não pertence ao sistema. O que conta não são os debates ou a avaliação, mas apenas reconfirmar sempre e endeusar sempre o pequeno deus que se segue do sistema, o escolhido dos Tavares, Ferreiras Alves, Marcelos, Oliveiras, Marques Mendes, etc. Um coro bem ensaiado de meninos e meninas, parcialíssimo e ao bom serviço doutros. Todos desalinhados dos factos mas alinhados como bonecas sem alma, à espera de qualquer subsídio ou favor do próximo poderoso. A rotina acéfala destes comentadores que inventam e decidem tudo antes dos factos destruiu Portugal. Somos o país mais pobre da Europa ocidental em termos de pensamento político e economicamente. As duas coisas estão ligadas a este coro celestial. 
Pedro Caetano, Sesimbra

Os Maias de Eça e João Botelho

João Botelho é um cineasta que desassossega o património literário português. Depois de adaptar  para o cinema os livros A Corte do Norte, de Agustina Bessa-Luís, e Quem És Tu, de Almeida Garrett, o cineasta adapta Os Maias, de Eça de Queiroz. Apetece perguntar o que temos feito para merecer esta filmografia e obras literárias que nos fazem pensar Portugal e os portugueses! A inquietação, as dúvidas e a mais pura poesia iluminam O Filme do Desassossego baseado no livro do autor de Mar Português. João Botelho merecia ter convivido com Eça, Pessoa e Camilo. Os portugueses merecem a interpretação de Maria Eduarda (Maria Flor) e Carlos da Maia (Graciano Dias). O mundo é movido pelo amor. A arte do enleamento e da conquista faz parte do imaginário português. Eça de Queiroz no Portugal 2014 não faria a vida fácil aos governantes europeus e nacionais. Antónios e Coelhos bem podiam penar pela pena de Eça. Em Os Maias,  escreveu: "clamamos por aí, em botequins e livros que o país é uma choldra. Mas que diabo! Porque é que não trabalhamos para o refundir, o refazer ao nosso gosto e pelo molde perfeito das nossas ideias?” Obrigado, João Botelho Eça de Queiroz.
Ademar Costa, Póvoa de Varzim


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