Festa do Pontal junta 2600 pessoas no calçadão de Quarteira

Pedro Passos Coelho chegou às 20h45 mas só deve discursar depois das 22h. "A gente vai saltar mas é mais daqui a bocadinho", prometeu aos 'jotas' quando subiu ao palco - mas nem boa noite disse .

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Passos à chegada ao Pontal Filipe Farinha/Stills
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Serão pelo menos 2600 os militantes e simpatizantes do PSD que se juntam esta noite na ponta nascente do calçadão de Quarteira, contabiliza o partido, para jantar e ouvir Pedro Passos Coelho. Mais mil do que no ano passado – e para isso terão contribuído alguns grupos organizados que foram chegando já com boné laranja e bandeira ao ombro.

Às 20h30 o palco já foi usado pelo cantor algarvio Luís Guilherme para entoar algumas baladas e outras canções mais mexidas, com direito a coreografia de duas bailarinas. Marisa e Jessica foram chamadas por Luís Guilherme para o palco para dançarem um dos seus últimos êxitos – palavras do próprio – Mamacita. Com um mini-vestido que deixava mais de fora do que tapava as coxas, só a cor destoava do local – um rosa PS bem forte, com cinto de cetim azul CDS.

Às 20h45 o animador avisa que Pedro Passos Coelho acabou de entrar no recinto do jantar vindo do lado nascente. E pede uma "onda laranja" com bandeiras no ar. O presidente do PSD demora 10 minutos a percorrer metade do espaço apinhado de mesas e cadeiras de plástico branco.

Dá beijinhos e abraços, seguido de perto pela mulher que, de sorriso largo cumprimenta quem lhe estende a cara. Dois seguranças seguem-no de perto - ou pelo menos o mais que podem no meio da confusão. Das colunas de som sai repetidamente o hino do PSD - "Paz, pão, povo e liberdade..." Passos e Laura vão parando a espaços, ora para tirar selfies com os militantes, ora para se meter dentro de uma moldura gigante que andou toda a noite de mão em mão onde se lia “estou no Pontal”. A intenção era que os sociais-democratas enchessem as redes sociais com as fotos da noite.

Se a indumentária das senhoras não tem um padrão definido – há vestidos coloridos, uns mais colantes, outros mais esvoaçantes, mais curtos ou mais compridos, calças ou calções nas mais novas, salto alto ou sabrinas nos pés -, os homens até parecem ter todos dress code no bilhete ou convite para o jantar. Camisa branca ou bege, por dentro ou por fora das calças, de manga ligeiramente arregaçada com uma, no máximo duas dobras do punho; calça tipo chino ou ganga. Cabelo ligeiramente solto e revolto (a precisar de uma tesourinha antes do regresso ao trabalho) e pele bronzeada com um brilho especial. Em muitas caras vai-se vendo a barba blasé de três dias.

Passos Coelho escolheu sapatos castanhos, calças de ganga, camisa branca e blazer escuro, com botões dourados, que nunca tirou. A mulher, Laura, veio de vestido rosa forte com folhinhos na zona da anca e pochette na mão.

Quando Passos Coelho chega junto ao palco, que desta vez não tem fundo - é apenas o mar ao longe -, sobe de mão dada com a mulher. Com o vento a voltear-lhe o cabelo, dirige-se apenas aos 'jotas' que saltavam incessantemente gritando PSD: "A gente vai saltar mas é mais daqui a bocadinho." Talvez se tenha esquecido, mas a verdade é que não disse boa noite aos presentes. E desceu, dirigindo-se para a sua mesa, a última com os comensais de pé.

O jantar, confeccionado ironicamente pelo Cavacos Catering, inclui pão e azeitonas – este ano deixaram cair a típica cenoura laminada algarvia como entrada - creme de cenoura, carne de porco assada no forno com arroz de ervilhas e pudim; tudo regado com água, sumo ou vinho. Dez euros por pessoa – mais dez para quem veio de autocarro em excursão organizada.

 

Mini-protesto com sete pessoas

Ainda antes de Passos Coelho chegar, à porta, aliás, do lado de fora das grades da entrada, concentram-se sete manifestantes do movimento contra as portagens na A22, com um bombo que já teve melhores dias porque de um dos lados tem um enorme buraco de tanto dar música.

No chão há três tarjas com palavras de ordem contra as portagens e amontoados há cartazes em cartolinas A3 com estatísticas de acidentes, mortos e feridos desde o início deste ano. Mas só refilam a sério quando a câmara da RTP se liga e uma jornalista entra em directo. Nessa altura, juntam-se mais algumas pessoas atrás dos manifestantes, de telemóvel junto à cara. “Estás-me a ver?”, pergunta uma senhora, nitidamente a falar com alguém que estará em casa, em frente à televisão.

Mas quem as várias dezenas de pessoas que ali se vão amontoando querem ver é mesmo Passos Coelho e os ministros. Isabel Faria, ainda de biquíni e com uma enorme echarpe colorida em torno do corpo, vai-se esticando para ver se encontra Maria Luís Albuquerque e Paulo Portas.

“Só os vi na televisão, queria vê-los ao vivo. A gente gosta sempre de saber se são altos ou baixos”, ri-se, enquanto o filho Miguel lhe pede um gelado porque já está com fome. As férias estão-se a acabar e nada melhor do que conhecer uns “senhores políticos” na véspera de ir de volta para Aveiro e para as limpezas de escritórios. Portas não deve mesmo aparecer, avisamos. "Ohh, que pena. Ele parece tão bem-posto..."

Agostinho e Natália acabaram de virar as cadeiras de praia de costas para o mar para apreciarem o espectáculo. Não propriamente o de Luís Guilherme e das bailarinas - que esse, o casal de reformados de Quarteira já conhece - mas a confusão de convidados, manifestantes, câmaras e jornalistas, e mirones que se amontoam à entrada e ao longo da extensa rede.

"São cem cães a um osso", ironiza Agostinho sobre a movimentação. O osso, entenda-se, é a "figura" da noite, como este reformado também se refere a Pedro Passos Coelho. Então e não vai lá espreitar? "Eu?!? Não tenho eu mais nada para fazer?!?", espanta-se com a pergunta. Para depois se queixar que a filha teve que emigrar há seis meses para Londres depois de um ano sem trabalho, a seguir a formar-se como enfermeira. “Esta gente não merece a minha atenção depois de complicar tanto a vida aos jovens…” Mas lá continua, a comentar com a mulher e a abanar a cabeça em sinal de reprovação.

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