Centenas de filmes de Andy Warhol, alguns nunca vistos, começam a ser digitalizados este mês

Nos próximos anos, MoMA e Museu Andy Warhol vão digitalizar cerca de mil rolos de filme gravados por Andy Warhol, alguns deles nunca antes exibidos.

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"Nico/Antoine", de 1966 The Andy Warhol Museum
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"John Washing", de 1963 The Andy Warhol Museum
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"Marisol – Stop Motion", de 1963 The Andy Warhol Museum
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"Jack’s Cigarette", excerto de "Batman Dracula", de 1964 The Andy Warhol Museum
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"Screen Test" do artista Marcel Duchamp e a modelo e musa Benedetta Barzini (1966) The Andy Warhol Museum

Nos seus primeiros anos como video artist, quando se apanhou com uma Bolex de 16 milímetros na mão, Andy Warhol dedicou-se ao simples registo da realidade e do que nela há de mundano. Nos seus primeiros filmes não há enredo nem diálogos, mas sim um só enquadramento, do início ao fim, durante horas, a mostrar tudo o que se atravessa à frente da lente, em câmara lenta: o poeta norte-americano John Giorno a dormir, em Sleep, a sua primeira filmagem em 1963; seis horas e meia de Empire State Building à noite em Empire (1964), que comemorou em Julho 50 anos; o artista Robert Indiana a comer um cogumelo em Eat (1964).

São estes, e todos os outros filmes que Andy Warhol fez entre 1963 e 1972, que começam a ser digitalizados este mês pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) e pelo Museu Andy Warhol (The Warhol), museu dedicado ao artista em Pittsburgh, onde nasceu. Ao todo são 500 filmes, alguns deles nunca antes exibidos, outros afastados das projecções há mais de 40 anos. Os cerca de mil rolos de filme de 16 mm serão convertidos, frame a frame, em imagens de alta resolução através da parceria destes dois museus com a MPC, empresa com os meios técnicos para o processo que “demorará vários anos por ser um trabalho delicado”, lê-se no comunicado sobre a iniciativa. Esta é uma oportunidade para os dois museus fazerem circular estas obras: possibilidades mais amplas de programação, de empréstimo a outras instituições e maior facilidade no acesso de investigadores aos filmes.


“A missão do The Warhol é proteger o legado" do artista e "a possibilidade de os curadores, investigadores e público em geral verem a obra de Warhol como realizador pela primeira vez é um grande passo para atingir os nossos objectivos. Estes filmes estão lado a lado com os melhores trabalhos de Warhol e são tão importantes como as suas pinturas”, diz na mesma nota Eric Shiner, director do museu de Pittsburgh, que detém 60 filmes, 279 screen tests e mais de 4 mil vídeos do artista – toda a sua obra produzida em filme.

"Muitos julgam conhecer os filmes de Warhol, mas apenas porque leram sobre eles", disse Patrick Moore, curador do The Warhol e responsável por este projecto ao New York Times. "Cada vez menos gente tem a capacidade de projectar filmes de 16 mm", acrescenta para explicar o papel da digitalização na divulgação do trabalho de Warhol.

Para além dos filmes de registo do dia-a-dia, em que também se incluem Kiss (1963) – uma sequência de beijos por vários casais, ou os inúmeros screens tests – que queriam fazer saltar os tradicionais retratos da pintura para a imagem movimento –, Andy Warhol realizou diários em vídeo, novelas experimentais, dramas, videoclipes, anúncios e os programas de televisão Fashion (1979), Andy Warhol TV e Andy Warhol's Fifteen Minutes (ambos dos anos 1980).



“Há imensos filmes de Warhol que ou nunca foram vistos pelo público, ou foram vistos em condições menos que ideiais. É um sonho antigo tornar os seus filmes acessíveis a todos – e vão ficar impressionados com a diversidade e força da sua obra em filme”, diz Geralyn Huxley, curadora do The Warhol na área do vídeo e cinema. Entre estas obras nunca antes vistas pelo grande público estão 15 vídeos que serão exibidos no museu de Pittsburgh em Outubro para celebrar os 20 anos da instituição. Também estes foram recentemente digitalizados e neles aparecem figuras como Marcel Duchamp, Mario Montez, Allen Ginsberg e o próprio Warhol.

"Ainda há muita coisa para descobrir e isso é uma parte entusiasmante deste projecto. Estamos a mexer nas caixas com os filmes do Andy que provavelmente não são vistos desde que ele os filmou", disse Rajendra Roy, curador do MoMA, ao New York Times.

Para a curadora Geralyn Huxley, Warhol influenciou os vídeos feitos hoje com telemóveis, por exemplo, explicou ao jornal norte-americano: "Em todos os filmes que andam por aí, há um pouquinho de Warhol. Ele filmava tudo à sua volta. Ia a casa das pessoas e filmava os jantares. Era simplesmente viciado em trabalho e a quantidade de filmes é inacreditável".

O The Warhol quer continuar a levar a mais público a obra do artista falecido em 1987 e planeia a abertura de uma dependência em Nova Iorque para 2017, anunciou em Maio Eric Shiner, director deste museu. Na altura, Shiner garantiu ao jornal Pittsburgh Post-Gazette que isto não significa o encerramento da sede, que “será sempre o museu principal”. Abrir um museu em Nova Iorque, onde o artista desenvolveu a maior parte do seu trabalho, “é uma oportunidade para mostrar a colecção a um público maior, mais internacional e para incentivar as pessoas a irem a Pittsburgh”, disse. “Nova Iorque vai ser o aperitivo, Pittsburgh é o prato principal.”

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