O cesto do bem

Os carrinhos têm a desvantagem de levar-nos a comprar tralha de mais.

Muito se aprende em Almoçageme quando se vai às compras. As mercearias são lugares de convívio em que as pessoas falam mesmo umas com as outras, pensando e dizendo palavras frescas - o contrário do falar por falar; do "pois é"; "é a vida" e do "tem de ser".

Tenho andado a estudar o equipamento e as técnicas de compras e já aderi a um dos sistemas: o do cesto grande. Em vez de recolher as coisas na cesta da mercearia, tirá-las para o balcão e depois pô-las em sacos de plástico, faz-se tudo no mesmo cesto grande, que se leva de casa.

Não há transferências nem desperdícios. A pessoa na caixa, afoita, vai espreitando e registando o que está no cesto, levantando umas coisas para descobrir outras. Leva metade do tempo e do esforço - é só pagar e andar.

Nos supermercados também dá, usando e reusando os sacalhões que lá vendem - aqueles que levam um autógrafo por baixo e tudo. Não se pode é enchê-los, para que a pessoa na caixa possa tirar as coisas para fazê-las apitar e depois repô-las à vontade.

Os carrinhos têm a desvantagem de levar-nos a comprar tralha de mais. Com dois sacalhões ou um grande cesto nas mãos, o peso das nossas compras não é disfarçado e  ganha-se um precioso discernimento na selecção de bens essenciais.

Após décadas de carrinhos cheios, desdobrados em dúzias de saquinhos rasgadiços que precisam de todos os dedos e de dar cabo da coluna para levar para o carro e do carro para casa, o meu cesto grande tem-me sabido a liberdade.

 

 

 

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