Grandes centros urbanos concentram maioria dos pedidos de ajuda por sobreendividamento

Desde o início do ano, 761 pessoas pediram ajuda à plataforma gerida pela Confederação Nacional das Associações de Família. Dos 80 casos resolvidos, a maioria recorreu à reestruturação das dívidas nos tribunais.

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Muitas das famílias que pedem apoio acumulam créditos em atraso PÚBLICO/Arquivo

É nos grandes centros urbanos que há mais pessoas a pedir ajuda por causa de sobreendividamento. De acordo com dados cedidos ao PÚBLICO pela plataforma SOS Famílias Endividadas, gerida pela Confederação Nacional das Associações de Família (CNAF), dos 761 casos que deram entrada entre Janeiro e Junho, 44,4% tinham origem em Lisboa e no Porto, num total de 338 pedidos de auxílio. Logo a seguir surge o distrito de Setúbal, com um peso de 13%.

Os distritos com maior incidência de pedidos de ajuda são Portalegre (0,66%), Bragança (0,92%) e Castelo Branco (1,05%). Já as maiores subidas em termos de peso no total e face a Abril foram protagonizadas por Braga, com um acréscimo de 2,43 pontos percentuais para 37 casos, e pela Madeira (mais 1,73 pontos percentuais para 33). Hélder Rosas Mendes, director técnico da SOS Famílias Endividadas, justifica a preponderância de Lisboa e do Porto com o facto de “haver mais informação sobre a plataforma e também uma população mais vasta”, o que só por si aumenta o número de situações de dificuldades financeiras.

A maioria das pessoas que pede ajuda é casada, representando 50,33% do total (ou seja, 383 contactos), a que se junta uma fatia de quase 10% de uniões de facto. O responsável explica que são famílias “em média com dois a três filhos a cargo”, em que muitas vezes “um dos cônjuges perde o trabalho, ficando reduzidas a um vencimento”. Os divorciados surgem em segundo lugar, com um peso de 20,24%. No entanto, foi no grupo com menor incidência de pedidos de auxílio que se registou um aumento: o peso dos casos associados a viúvos, apenas 1,97% do total, aumentou 0,76 pontos percentuais entre Abril e Junho.

É também entre as pessoas com emprego que chegam mais contactos à plataforma gerida pela CNAF. Nos primeiros seis meses do ano, 323 pessoas nesta situação pediram ajuda à SOS Famílias Endividadas. O maior motivo “é a quebra repentina de rendimentos”, fruto de cortes nos salários ou reduções no horário de trabalho, por exemplo, refere. O director técnico da plataforma explica que “há uma percentagem elevada de funcionários públicos” a pedir auxílio, nomeadamente “professores, enfermeiros e militares”. No sector privado, “também começa a sentir-se as mesmas dificuldades”, acrescenta.

“As pessoas chegaram ao ponto de contrair créditos para pagarem os empréstimos e mantiveram esse sistema durante alguns anos, mas os bancos deixaram de emprestar dinheiro e esta espiral tornou-se ainda mais perigosa”, diz o responsável. “Muitos dos que contactam a plataforma já esgotaram todas as suas poupanças e arrastaram muitos familiares para os seus problemas”, havendo casos de pessoas que pedem ajuda “mesmo depois de terem ido para o estrangeiro à procura de trabalho”.

De acordo com os dados da SOS Famílias Endividadas, 80 dos 761 casos analisados desde Janeiro estão já resolvidos. A maioria (56) através da reestruturação de dívidas por via de um mecanismo judicial em que são estabelecidos planos de pagamentos aos credores. Os restantes foram encaminhados para processos de insolvência porque “a reestruturação já não era viável, por não haver rendimento suficiente para pagar” o dinheiro em atraso.

Esta plataforma foi criada no final de Janeiro, quando a CNAF se juntou ao Centro de Apoio ao Endividado para prestar ajuda aos sobreendividados. O aconselhamento não está, porém, limitado aos sócios da confederação. O centro de apoio já existia desde finais de 2011 e, contando com os 761 casos analisados no primeiro trimestre deste ano, o número de contactos recebidos já ultrapassa os três mil.

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