Klinsi e Jogi vão suspender a amizade durante 90 minutos

EUA e Alemanha defontam-se hoje no Arena Pernambuco, em Recife. O empate chega para as duas selecções se qualificarem, mas ambos querem vencer.

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Low e Klinsmann em 2006, na selecção alemã Kai Pfaffenbach/Reuters

Quatro dias antes de fazer 40 anos, no final de Junho de 2004 Jurgen Klinsmann assumiu o cargo de seleccionador da "Deutsche Fußball-Nationalmannschaft". “Klinsi” era a escolha improvável para ocupar uma cadeira que já tinha pertencido a gente tão ilustre como Helmut Schon, Franz Beckenbauer ou Berti Vogts. O que ele levava para o cargo era o conhecimento abrangente do futebol internacional que tinha ganho como jogador, mas experiência como treinador, nenhuma. Era preciso um adjunto com experiência. Tentou vários nomes, antes de chegar a Joachim Low, na altura desempregado. Klinsmann lembrava-se dele de um curso de treinadores que tinham feito juntos e tinha ficado impressionado. Aqui começava a história dos amigos Klinsi e Jogi, que hoje serão adversários durante 90 minutos.

Hoje, no Arena Pernambuco, em Recife, a Alemanha de Joachim Low e os EUA de Jurgen Klinsmann defrontam-se na terceira jornada do Grupo G, num jogo que interessa a Portugal. O empate qualifica as duas selecções, com os alemães a ficarem na liderança do agrupamento, mas ambos rejeitam a ideia de jogar para o empate, em nome da amizade entre os dois e em nome das afinidades entre as duas selecções – para além do seu seleccionador germânico, os EUA têm vários jogadores que nasceram na Alemanha. Seria, dizem os dois, um insulto à natureza competitiva de alemães e norte-americanos. E não, não se vai repetir o infame Alemanha-Áustria do Espanha 82, que ficaria conhecido para a história como “A Vergonha de Gijón”.

“Vocês falam de um jogo que aconteceu há décadas. Faz parte da história da Alemanha, mas não dos EUA. Se olharem para o passado desta equipa, tentamos sempre fazer as coisas acontecerem”, frisou Klinsmann sobre o jogo do Mundial de 1982 em que a selecção da RFA limitou a sua vitória sobre a Áustria por apenas 1-0 para deixar de fora a selecção da Argélia. E não, não iria haver qualquer telefonema para o seu amigo Joachim para discutir o empate: “Essa chamada não vai acontecer. O Jogi está a fazer o seu trabalho e eu estou a fazer o meu. Somos bons amigos, mas agora não tenho tempo para chamadas de amizade.” Low alinha pelo mesmo discurso do seu amigo. “Nem eu, nem ele pensamos nisso. Temos um lema, entramos sempre para ganhar e não para empatar. Se tentamos jogar para o empate, quase nunca resulta”, diz Low.

Klinsmann e Low formaram uma parceria que durou apenas um ciclo, o do Mundial 2006 na Alemanha, em que a “Mannschaft” chegou ao terceiro lugar. Klinsmann era o motivador e o especialista em preparação física, Low era o mestre da táctica. Pelo menos, era assim que a dupla era vista. Depois, Klinsmann, que vivia na Califórnia enquanto estava no cargo, saiu mas recomendou Low para o lugar. Low continuou o trabalho de Klinsmann e foi parte importante no renascimento do futebol alemão, com uma final no Euro 2008 e meias-finais no Mundial 2010 e Euro 2012. Klinsmann, por seu lado, teve uma passagem curta pelo banco do Bayern de Munique, assumindo o comando da selecção dos EUA em 2011.

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Dez anos depois de terem começado a trabalhar juntos, Klinsi e Jogi vão ser adversários. Mas é Low quem tem mais a perder, por comandar uma selecção com tanta história, tantas estrelas e tanta pressão subjacente. Klinsmann, que até entrou neste Mundial com contrato renovado até 2018, por certo nem estaria a pensar sobreviver num dos “grupos da morte”. Mas tem prosperado com estes EUA “germanizados”. E jogar contra a “sua” Alemanha – já disse que vai cantar os dois hinos antes do jogo – será a grande oportunidade para provar o seu crescimento.

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