João Pereira: “Os culpados somos nós"

“Há coisas no futebol que não têm explicação”, diz lateral direito sobre a “praga” de lesões.

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Francisco Leong/AFP

O empate frente aos EUA (2-2), em Manaus, numa partida da segunda jornada do Grupo G do Mundial 2014, deixou praticamente comprometidas as aspirações de Portugal ainda chegar aos oitavos-de-final, o objectivo mínimo estabelecido pelo seleccionador Paulo Bento para este Campeonato do Mundo. João Pereira foi o escolhido para falar à imprensa nesta segunda-feira, na ressaca desse resultado, e garantiu que ninguém vai fugir às responsabilidades. A nota da selecção portuguesa neste Mundial é “negativa, claro”, admitiu o futebolista, que também fez questão de sublinhar que, enquanto for matematicamente possível, a equipa vai acreditar.

“Aconteça o que acontecer na quinta-feira [após o jogo com o Gana], tenho a certeza que todos os jogadores e comitiva da selecção vão estar cá para dar a cara, não se vão esconder. Não está nada decidido, mas depois vamos dar a cara”, vincou o lateral direito. “Ninguém está mais triste do que nós. Somos nós que vivemos isto em primeira mão, todos estamos tristes. Aconteceram coisas de que não estávamos à espera. Perdemos o primeiro jogo por 0-4 e frente aos EUA estivemos a ganhar e aconteceu o que aconteceu. Não sei explicar”, prosseguiu João Pereira, admitindo: “Os culpados somos nós, que entramos dentro de campo e jogamos. Os culpados somos nós. Até quinta-feira muita água vai correr. Mas aconteça o que acontecer não nos vamos esconder.”

Numa curta conferência de imprensa no Centro de Treinos do Ponte Preta, em Campinas, que a selecção tem utilizado durante a preparação para o Mundial 2014 (o treino desta segunda-feira foi cancelado), João Pereira disse que a equipa e os adeptos têm de agarrar-se à “réstia de esperança” que ainda resiste. “Enquanto for matematicamente possível temos de acreditar, senão não estamos aqui a fazer nada. A conjugação de resultados [que serve à selecção] não é fácil, é quase um milagre que tem de acontecer. Temos de nos agarrar a essa réstia de esperança para continuar a trabalhar nestes dias, tentar a vitória [frente ao Gana] e ver o que acontecerá no outro jogo”, apontou.

As lesões que têm afectado os jogadores da equipa nacional foram tema da conversa, mas João Pereira preferiu não se alongar. “As perguntas têm de ser feitas aos médicos e fisioterapeutas. Sou jogador de futebol, não estudei muito dessa área”, atirou o futebolista do Valência, que não deixou de notar que a condição física dos jogadores portugueses não é assim tão má: “Ontem, depois do 2-1, quando toda a gente nos dava por mortos, fomos atrás do resultado e o golo do Varela deu-nos o mínimo de esperança. Se estamos mal fisicamente e ainda fomos atrás do resultado para não irmos para casa na segunda jornada do Mundial... acho que deixámos tudo dentro do campo”.

“Se houvesse algo errado [com a preparação física] lesionavam-se os outros jogadores. Cada um reage de uma maneira. Foram vários tipos de lesão. O Fábio [Coentrão] foi a fazer um esforço para chegar à bola, o André Almeida foi por outro facto diferente... São lesões diferentes, que não se podem controlar e acontecem no futebol”, acrescentou o lateral direito.

“Nota negativa, claro”
Em jeito de balanço, João Pereira admitiu que a nota para o desempenho de Portugal até ao momento no Mundial é “negativa, claro”. “O nosso objectivo mínimo era passar a fase de grupos. Neste momento esperaríamos ter no mínimo três pontos e conseguimos apenas um – e com muita dificuldade, no último minuto. A nota não pode ser positiva, tem de ser negativa”, admitiu.

Quanto à necessidade de uma renovação na selecção, o lateral direito disse que é normal falar-se disso quando as coisas correm mal. “Muitos jogadores têm muito valor e vão continuar a representar a selecção. Cabe aos dirigentes e treinadores ver o que vai acontecer no futuro. Ainda estamos no Campeonato do Mundo, ainda não fomos embora”, vincou. “Há dois anos toda a gente dizia que tínhamos muita qualidade, com o Europeu que fizemos. A qualidade não se foi embora. As coisas não correram bem, começamos com uma derrota, ontem estivemos em vantagem mas consentimos um empate. Podemos não ser a melhor selecção do mundo, mas temos muita qualidade”, reiterou João Pereira, em comentário às declarações de Cristiano Ronaldo após o jogo contra os EUA.

“Tínhamos o dever de ganhar aos EUA, sem dúvida nenhuma”, admitiu ainda o internacional português, assumindo que a selecção teve “todas as condições” para treinar. “Foram criadas todas as condições para trabalho. Não somos a única equipa a treinar neste clima, há mais a treinar nesta zona. São opções. Claro que agora vai ser fácil arranjar desculpas e dizer que foi do clima, da má forma, das lesões. Não queremos desculpar-nos. É preciso quase um milagre, mas vamos tentar arranjar soluções”, afirmou.

Por enquanto, concluiu João Pereira, a situação de Portugal ainda não é comparável à de Espanha e Inglaterra, que já estão afastadas do Campeonato do Mundo. “Essas duas estão eliminadas e nós estamos no fio da navalha. Há coisas no futebol que não têm explicação. É preciso um milagre, não vale a pena repetir.”

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