Árvore sem vida

Terence Malick começou a acelerar. Nunca tinha demorado menos de cinco anos entre dois filmes, e na sua obra chega a haver um intervalo de vinte anos entre Days of Heaven (1978) e The Thin Red Line (1998). Agora, estreia A Essência do Amor apenas um ano depois de A Árvore da Vida - que foi o maior sucesso “imediato” da sua obra. Mas a sua aceleração não lhe fez bem, ou esta é a explicação mais à mão para justificar a coisa sem graça nenhuma que A Essência do Amor é. Parece um filme de um imitador piroso de Malick, para o dizer com alguma brutalidade. A Árvore da Vida já tinha coisas difíceis de engolir, mas também possuía um fôlego “cósmico” (ou “cosmogónico”) pleno de força, e uma maneira de trabalhar a montagem que fazia todo o sentido no seu trabalho de aproximação entre a “condição humana”, no seu mais abstracto e “metafísico”, e os pequenos-grandes individuais dos seres humanos, no seu mais concreto e quotidiano. Como em toda a sua obra, a “espiritualidade”, uma espiritualidade quase panteísta, aparecia como bálsamo para as dores de uma humanidade acossada pela sua circunstância. Essa era a força de Malick.


Esvaída, completamente, a A Essência do Amor. Que se reduz a uma longa ladainha, lacrimejante e condoída, plena de lugares-comuns que parecem extraídos a manuais de auto-ajuda ou romances sentimentais de aeroporto, reunindo no mesmo abraço um olhar sobre as desventuras conjugais de uma personagem (Ben Affleck e as suas duas mulheres) e a crise de fé de um padre católico (Javier Bardem). Do que era melhor em Malick - daquela força, telúrica, que ousava encenar e convocar uma ideia de “sagrado” - desapareceu tudo, para ficar só a espuma mais lamechas. A relação com a natureza, dominante e imponente em Badlands, em Thin Red Line, de certa maneira ainda em A Árvore da Vida, reduz-se a um cerimonial de bilhete postal, muito contraluz, muita linha do horizonte, clichés atrás de clichés. E aquilo que noutros filmes era uma maneira de encarnar a interioridade de uma personagem - as vozes off em “plano subjectivo” - reduz-se aqui a um matraquear de banalidades (“Senhor, o meu coração está frio” e outras coisas deste quilate) que chega a ser embaraçoso. Porque das duas uma: ou Malick nos está a enganar neste filme, ou nos enganou nos outros todos.

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