Kings Of Convenience

Mais do que grandes novidades, quer-se o conforto do reconhecimento

Ninguém parte para a audição de um álbum dos noruegueses Kings Of Convenience com a ideia de ir ouvir uma revolução sónica. Logo em 2001 disseram ao que vinham no título do primeiro álbum - "Quiet Is The New Loud". Não era um manifesto, mas esse disco de forma involuntária anunciava um novo período para a pop, uma reacção ao excesso de música e de aparato sónico, mas não só. Personificava também o regresso da autenticidade e da generosidade como contraponto a uma forma cínica de viver a realidade. Depois vieram todos os trovadores modernos com a legitimidade da bandeira americana erguida - de Devendra a Cat Power - mas nesse disco concebido na pacata cidade de Bergen, Noruega, já se anunciava o embrião de qualquer coisa que viria para ficar. Não havia nele a rugosidade e complexidade dos cantadores ianques, mas a serenidade de gestos que emanava era de tal forma desarmante que era difícil não ficar conquistado. Oito anos depois, com um álbum de versões e de um de originais pelo meio, o duo regressa com um disco semelhante e diferente. Análogo, porque estruturalmente nada mudou. A sedução é ainda a forma como duas vozes e duas guitarras acústicas fluem por entre palavras, algures entre a folk bucólica e a bossa nova. Distinto, porque como Erlend Oye afirma, é um disco onde tudo é "mais": as canções são mais lentas, há mais espaço entre as notas, há mais atenção aos detalhes e à forma como o ritmo é construído. É um daqueles discos que se ouve como quem regressa a casa depois de longa ausência. Mais do que grandes novidades, quer-se o conforto do reconhecimento. São pequenas diferenças. Mas no caso deles isso faz alguma diferença.

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