A mancha branca de Lygia Pape mexe-se na Praça do Comércio

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Mais de 100 pessoas, que vão entrando e saindo, podem levantar esse manto sobre os ombros e dirigi-lo para onde o grupo quiser

Desde 1968 que anda pelo mundo, do Rio de Janeiro a Estocolmo, de Nova Iorque a Hong Kong. Mais de quarenta anos depois da primeira vez, chega a Lisboa a performance Divisor de Lygia Pape, uma das mais importantes artistas plásticas da vanguarda brasileira do século XX. Entre as 16h e as 20h do dia 29, na Praça do Comércio, uma mancha branca vai espalhar-se. É um manto branco gigante com buracos onde qualquer um pode pôr a cabeça. Mais de 100 pessoas, que vão entrando e saindo, podem levantar esse manto sobre os ombros e dirigi-lo para onde o grupo quiser. “No manto uma pessoa torna-se colectivo. É livre para poder andar para onde quiser. As pessoas seguem-se umas às outras”, como disse ao Ípsilon José Mário Brandão, da Galeria Graça Brandão, que organiza a performance para relembrar a artista quando passam dez anos sobre a sua morte.

A Galeria Graça Brandão está a organizar e não a comandar. Em todas as edições da performance, em todos os lugares onde aconteceu, “nunca houve um ditador”, diz José Mário Brandão. O objectivo é que as pessoas se sigam umas às outras e se movam no espaço. Um espaço privilegiado: a Praça do Comércio, no centro de Lisboa, à beira rio, é “talvez o espaço mais amplo e bonito” onde Divisor aconteceu.

Esta performance que chama até si quem anda pela rua, andou por todo o mundo, tal como a própria Lygia Pape que “já ultrapassou o Brasil e começa a ver o seu trabalho muito procurado e estudado”. Foi a última a morrer daquele que, para o galerista, é um triângulo de ouro: ela, Hélio Oiticica e Lygia Clark, os três nomes do Concretismo, dos anos 50, que deixaram a Europa de boca aberta nas Bienais de Artes de São Paulo e que se preocuparam com questões como a bidimensionalidade do espaço e a interactividade entre a obra de arte e o espectador, que se torna, em muitos dos trabalhos, parte essencial dos seus trabalhos.

Nos últimos anos de vida Lygia Pape estreitou as relações com Portugal – a exposição Um Oceano inteiro para Nadar, em 2000, na Culturgest, em Lisboa; no mesmo ano, em Serralves, no Porto, a mostra antológica, onde esteve uma versão mais estática de Divisor. Foi nessa altura que a Galeria Graça Brandão começou a seguir de perto a artista, inaugurando uma individual póstuma em 2008, Lygia Pape. But I Fly. No dia 29, às 22h em Lisboa, inaugura outra, para a recordar mais uma vez, desta vez com as peças Roda dos Prazeres e Tetéias

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