Doentes de Bragança chegam a pagar 150 euros de táxi para regressar do hospital

Urgência do Hospital de Mirandela só é médico-cirúrgica de nome, mas os doentes têm que pagar taxa moderadora de 18,05 euros, mais do que deviam, denuncia Ordem dos Médicos.

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Rapaz já teve alta do Hospital de Bragança Nelson Garrido/Arquivo

O serviço de urgência do Hospital de Mirandela é, em teoria, médico-cirúrgico. Na realidade, porém, não passa de um serviço de urgência básico por falta de médicos: só tem um cirurgião e não dois, como é obrigatório, e, se um doente precisar de anestesia, apenas a tem disponível até às 24h. Apesar destas insuficiências, os doentes são obrigados a pagar taxa moderadora correspondente a uma urgência médico-cirúrgica, 18,05 euros. Caso não possam ser atendidos em Mirandela, são enviados para o hospital de Bragança, a cerca de 60 quilómetros.

Mais: os habitantes do Nordeste Transmontano são “obrigados a percorrer longas distâncias, que deixaram de ser comparticipadas” e,  mesmo nas emergências médicas, o INEM transporta para o local adequado, “mas depois deixa pessoas carenciadas a 30, 60 ou mais quilómetros de casa”, sendo que o regresso “pode custar 150 euros de táxi” e esta quantia é “uma parte considerável da pensão de reforma da maior parte dos utentes da região”. Estas foram algumas das deficiências denunciadas esta segunda-feira pelos responsáveis da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (OM), que escolheram precisamente o distrito de Bragança para arrancar com as conferências de imprensa em que prometem tornar público o que vai mal no Serviço Nacional de Saúde. A acção será uma forma de pressão para obrigar o ministro da Saúde a negociar e a cumprir uma série de promessas, segundo alegam.

O retrato traçado é desolador: além de “quadros médicos envelhecidos e limitados” (por exemplo, há apenas um nefrologista para todo o distrito de Bragança), “numa região empobrecida e com uma população dispersa”, a rede de transportes públicos na região é “claramente deficitária”. Sobre a eventual deslocação do helicóptero do INEM de Macedo de Cavaleiros para Vila Real, o presidente da OM/Norte, Miguel Guimarães, alertou que, a concretizar-se, “deixa claramente sem apoio uma das zonas mais periféricas do país”.

Outro problema prende-se com o subfinanciamento da região: a capitação por habitante da entidade que gere a saúde no Nordeste Transmontando é “significativamente menor” do que a atribuída a outras regiões. Um exemplo: o valor per capita atribuído pelo Ministério da Saúde à Unidade Local de Saúde do Nordeste  (ULSN), que gere três hospitais e 15 de centros de saúde da região, “é inferior em 104 euros” à sua congénere do Norte Alentejano, embora em Bragança se prestem cuidados numa área territorial superior em 912 quilómetros quadrados, sustentam.

O presidente da OM/Norte aproveitou o encontro com os jornalistas para frisar que a acta da reunião efectuada com a OM e os dois sindicatos médicos, e já enviada pelo Ministério da Saúde, “não satisfaz a Ordem”, pelo que as formas de protesto, como a de esta segunda-feira, vão continuar. A Federação Nacional dos Médicos, recorde-se, já anunciou que vai convocar dois dias de greve em Julho, mas o Sindicato Independente dos Médicos não tenciona aderir.

Entretanto, desde o dia 11, dia em que foi criado um email na OM do Norte para envio de denúncias sobre o SNS, foram já recebidas 89, revelou. Algumas “parecem até bastantes graves”, adianta Miguel Guimarães, sublinhando que ainda vão ser avaliadas para se perceber se correspondem à realidade. Se sim, serão denunciadas, promete.

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 

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