Beneficiários de cartões de saúde são discriminados em relação a outros utentes

Estudo da Entidade Reguladora da Saúde destaca que há quem confunda cartões com seguros de saúde.

Foto
Houve mais abortos em clínicas privadas em 2011 Paulo Pimenta

Em Portugal há cerca de 80 cartões de saúde diferentes e têm-se multiplicado-se as queixas de alguns beneficiários. No primeiro estudo efectuado sobre o tema, a Entidade Reguladora da Saúde (ERS) concluiu que este mercado não está regulado e que por vezes os beneficiários de cartões de saúde são discriminados em relação a outros utentes. Há também quem confunda cartões de saúde com seguros de saúde, diz a ERS.

“Muitos prestadores indicaram que a adesão a uma rede de cartões de saúde pode levar uma entidade a prestar cuidados de saúde menos adequados às necessidades dos utentes e de menor qualidade, como resultado dos reduzidos preços definidos nas tabelas de preços”, lê-se nas conclusões do estudo.

A ERS decidiu analisar o mercado dos cartões de saúde em Portugal por estar a receber um número cada vez maior de exposições e queixas apresentadas por clientes deste tipo de produto. O estudo, que se baseou nas respostas a um questionário de 1044 entidades não públicas, permitiu também concluir que as redes de cartões de saúde “estarão a fomentar uma distorção concorrencial, porque representarão barreiras à expansão dos prestadores nos mercados, dada a restrição que existirá na adesão dos prestadores”.

A ERS nota ainda que a actividade de promoção e gestão dos cartões de saúde não se encontra regulamentada em legislação específica e que foram identificados  "riscos inerentes à adesão aos planos de saúde" que se cruzam "com questões de confidencialidade de dados clínicos, com a eventual aceitação de uma situação de rejeição ou discriminação  no acesso a determinados serviços". Outros riscos, acrescenta, passam por questões relacionadas com a "não percepção de que, afinal, a um cartão de saúde está associado um seguro de saúde ou que aquele não é um seguro de saúde, o que desde logo implica um desconhecimento sobre o enquadramento do que se contrata".

A reguladora percebeu igualmente que muitas vezes a acção promocional que envolve este tipo de planos de saúde “nem sempre se revela consentânea com o dever de transmitir uma informação clara, completa e inteligível”. A promoção destes produtos “pode enviesar a sã concorrência no mercado, na medida em que, considerado o actual estado de coisas, permite a angariação de utentes com base numa informação" que  por vezes é "omissa e assente em pressupostos passíveis de violar os direitos e interesses dos utentes".

Os cartões da AdvanceCare, da Médis e Multicare são os que têm mais prestadores aderentes (150).

No ãmbito deste trabalho, a ERS fez um levantamento sobre a existência de cartões de saúde noutros países. Dos seis que responderam (Dinamarca, Estónia, França, Holanda, Irlanda do Norte e Noruega) “não foi possível identificar casos comparáveis com a situação" existente em Portugal. “A actividade dos cartões de saúde, nos moldes que se conhece em Portugal, e a ausência  da sua regulação serão caso singular entre os países europeus”, sustenta.

Os resultados desta análise confirmam assim a necessidade de se acompanhar de perto os problemas relacionados com os cartões de saúde.

A ERS já tinha emitido no passado um alerta a propósito da compra de cartões de saúde, esclarecendo as diferenças relativamente aos seguros. Também a associação de defesa de consumidores Deco já se tinha mostrado preocupada com a confusão que por vezes é feita entre cartões e seguros de saúde. Os primeiros são menos restritivos do ponto de vista do acesso e são mais baratos, mas dão direito basicamente a descontos, enquanto os segundos têm limitações de subscrição, plafonds, e são mais caros, mas garantem determinados serviços. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 
 

 

 
 

 

 
 

 

 
 

 

 
 

 

 
 

 

 
 

 

 
 

 

 
 

 

 
 

 

 

Sugerir correcção
Comentar