Turistas recebidos na Madeira com boas-vindas a "um país que não respeita os polícias"

Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL) distribuiu três mil panfletos em cinco idiomas no aeroporto do Funchal e no porto. A acção de protesto vai percorrer outros pontos do país e termina em Junho, no Algarve.

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Numa acção de protesto iniciada nos dois últimos dias na Madeira, e que termina em Junho no Algarve, depois de percorrer as principais portos e aeroportos do país, o Sindicato Nacional da Polícia (Sinapol) está a distribuir panfletos aos turistas a esclarecer as condições sociais-profissionais. Os dirigentes sindicais ameaçam intensificar as acções de protesto se não forem satisfeitas as suas reivindicações, nomeadamente um estatuto salarial “digno e compatível com o exercício da actividade dos polícias”.

“Desconhecia que os polícias eram mal pagos em Portugal”, declarou o norte-americano Martin Gardield, depois de ter recebido o flyer do Sinapol, ao desembarcar do navio de cruzeiros Oceana no porto do Funchal. “Vou ter de partir para a excursão pela ilha”, acrescentou. Os passageiros, abordados pelos sindicalistas envergando coletes reflectores com as insígnias do Sinapol, recebiam os folhetos que juntavam a outros documentos com informação turística, também distribuídos à saída da nova gare marítima. “Pensava que era publicidade de circuitos ou restaurantes”, admitiu a britânica Anne Salter quando, com duas amigas, entrou no autocarro que as levaria a dois dos mais visitados pontos turísticos da ilha, o pico dos Barcelos e Cabo Girão.

Num balanço à acção desenvolvida no aeroporto e no porto do Funchal, o presidente do sindicato, Armando Ferreira, classificou de “muito positiva” a receptividade revelada pelos turistas. "Não vejo ninguém a recusar ou destruir os panfletos”, regista Armando Ferreira que se deslocou à Madeira para participar na primeira acção de protesto com os dirigentes sindicais locais.

“Houve até turistas que deram sinais de solidariedade pela nossa luta e pela nossa postura aqui hoje”, acrescentou o presidente do Sinapol. Aos turistas desembarcados no aeroporto e no porto madeirenses foram distribuídos cerca 3000 panfletos, a elucidar sobre as dificuldades pelas quais os polícias portugueses estão a passar devido às medidas de austeridade, cortes que consideram susceptíveis de afectar a operacionalidade da PSP e a segurança interna.

Ao dar as boas-vindas a Portugal, “um país que não respeita os polícias”, o panfleto do Sinapol esclarece, em cinco idiomas, que “um polícia em Portugal tem um vencimento inicial inferior a 800 euros” e que “mesmo com um baixo vencimento os polícias portugueses ainda foram sujeitos a corte até 12% no seu salário”. Esclarecem também que “os polícias portugueses tinham direito a serviço médico grátis e com excelentes condições e agora têm de pagar” e que “os produtores da segurança publica estão desmotivados”, o que, alertam, poderá ter reflexos no trabalho produzido.

Os panfletos serão entregues em todos os aeroportos do continente e ilhas, cada dia será dedicado a um aeroporto. Os polícias questionam assim precisamente a imagem que o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, tem procurado assegurar de que o país é seguro e de que isso é fundamental para o fomento do turismo. Em Junho do ano passado, Macedo disse ser “estratégico” para o turismo manter Portugal como um “país seguro”, durante a sessão de abertura do Seminário de Turismo e Segurança, que decorreu em Coimbra e foi promovido pelo Comando Distrital da PSP para assinalar o seu 135.º aniversário.

A acção de protesto “em nada prejudica a imagem da Madeira como destino turístico seguro”, garante Luís Costa, presidente do secretariado regional da Madeira do Sinapol, em resposta às criticas feitas pela presidente da Associação do Comércio e Indústria do Funchal (ACIF). “Apenas pretendemos mostrar a quem visita a região as dificuldades por que passam os polícias", sublinha.

A ACIF admitiu avançar com uma providência cautelar para travar a acção de protesto anunciada pelo Sinapol nos portos e nos aeroportos na Madeira durante a Festa da Flor. A associação patronal alegava que o acto protestativo poderia colocar em causa “a segurança do destino e a imagem que o turista leva da região, cuja principal actividade económica é o turismo". Também o presidente do governo regional da Madeira criticou a iniciativa sindical. “Não me interessam essas chachadas”, disse Alberto João Jardim.

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