Pilotos descontentes da Força Aérea aderem em massa à associação de oficiais

Degradação das condições de trabalho, as reduções salariais, além do desinvestimento na segurança e treino das tripulações, são as razões apontadas para o descontentamento.

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No seu estudo, a Força Aérea Portuguesa comprometia-se a colocar no ar três Puma já para a época de fogos de 2012 PÚBLICO/Arquivo

No mesmo dia em que o ministro da Defesa visitou a Base Aérea do Montijo, a Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) dava conta do descontentamento dos pilotos da Força Aérea.

Segundo o presidente da AOFA, Pereira Cracel, um grupo de 98 pilotos-aviadores daquele ramo aderiram à associação sócio-profissional de forma a dar corpo à insatisfação latente nas fileiras.<_o3a_p>

Enquanto José Pedro Aguiar-Branco condecorava militares e assistia a uma demonstração no Montijo do avião de transporte C-130 que vai apoiar a missão da União Europeia na República Centro-Africana, alguns pilotos assumiam à Lusa o estado deplorável em que a Força Aérea se encontra em termos de operacionalidade. E apresentavam a adesão à AOFA como uma forma de protesto contra as condições remuneratórias, de trabalho e de segurança das missões. De acordo com o presidente da AOFA, Manuel Cracel, as adesões foram concretizadas no final da semana passada.<_o3a_p>

A degradação das condições de trabalho, as reduções salariais e de suplementos específicos por um lado, e o "desinvestimento na segurança e treino" das tripulações eram os principais motivos de insatisfação, assumiu um dos pilotos, que pediu anonimato para não incorrer na violação do dever de sigilo. "O que estamos a assistir é que há poucos pilotos qualificados, são esses que estão na linha da frente e em permanência e é-lhes retirada a possibilidade de ter uma vida minimamente estável, razoavelmente normal", disse o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas.<_o3a_p>
Por outro lado, acrescentou, "no que toca ao treino, é importante ter noção de que, sendo operados sistemas de armas altamente complexos, que exigem uma preparação e uma qualificação elevadíssimas, o treino é fundamental".

Outro militar denunciava a existência de situações como a de "pilotos que passam seis meses fora de casa" em missões, cumprindo as exigências da carreira militar, mas sem as compensações previstas quando fizeram aquela opção de vida. "O treino das tripulações é reduzido, há esquadras que voam só metade das horas de voo [segundo os critérios de segurança]. Há avarias, aviões parados. Nós nunca dizemos que não voamos, mas não é verdade que não há riscos. Nós sabemos que há riscos", acentuou um outro militar do mesmo grupo. O grupo de pilotos em causa executa missões diárias de busca e salvamento, defesa aérea, patrulhamento, fiscalização e transporte.

Alguns destes problemas foram confirmados pelo comandante da Esquadra 501, Jorge Gonçalves, que afirmou  que o programa de manutenção dos aviões Hércules C-130 está a ser adiado devido às restrições financeiras, havendo três aviões disponíveis em seis."Temos as grandes manutenções, efectuadas nas OGMA - Indústria Aeronáutica de Portugal.  Fruto das restrições orçamentais, essas manutenções de terceiro escalão não têm estado a decorrer de forma cíclica normal, tem-se prorrogado o máximo possível para fazer face às dificuldades", declarou o major.  Criada em 1977, a esquadra 501 conta com seis C-130 para missões de transporte aéreo, busca e salvamento, mas só três estão disponíveis, referiu o major Jorge Gonçalves. Questionado por Aguiar-Branco, Jorge Gonçalves explicou que "o normal seria ter quatro [aviões] disponíveis" e dois em manutenção.

Na apresentação, o militar sublinhou ainda a importância de garantir as condições de treino, em simulador e em exercícios, tendo referido que a actual conjuntura orçamental não tem permitido fazer mais exercícios. "Os exercícios acabam por ser a lacuna. Não tem havido possibilidade", referiu. Questionado pelos jornalistas, Jorge Gonçalves admitiu que, face às atuais restrições financeiras, "poderá ser difícil manter todos os pilotos da esquadra qualificados em todos os elementos de missão". Perante Aguiar-Branco, Jorge Gonçalves recordou que já tinha alertado para o facto de "a degradação das capacidades ser muito lenta a recuperar", além de dispendiosa.

Aguiar-Branco admite que as actuais condições não são óptimas: "Como é óbvio nós pretendemos ter melhores condições, mais horas de treino para operar e isso, assim as condições das contas públicas o permitam assim acontecerá", disse. Mas contestou a crítica de que as missões estariam a ser levadas a cabo com risco para os militares. "Isso nem o ministro, nem o Chefe do Estado Maior da Força Aérea nem um comandante o permitiria porque  seria por em risco de uma forma não aceitável as pessoas", assegurou.


Para os descontentes, no entanto, existe violação do dever de tutela. Entre as medidas mais contestadas está, para além das reduções remuneratórias, a redução do suplemento de residência. Este suplemento era atribuído a quem residisse a mais de 50 quilómetros do local de trabalho, tendo passado, com o actual Governo, a ser atribuído apenas aos militares que morem a mais de 100 quilómetros.


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