Obras de arte digital de Andy Warhol descobertas em disquetes dos anos 80

Uma equipa do museu Andy Warhol, em Pittsburgh, ajudada por informáticos de uma universidade local, resgatou de antigas disquetes uma dúzia de obras que o ícone da Pop Art realizou há quase 30 anos num computador Amiga 1000

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Auto-retrato
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Latas de sopa
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Versão da Vénus de Boticelli,

Doze obras de arte digital realizadas por Andy Warhol (1928-1987) num Commodore Amiga 1000, um computador lançado em 1985, foram recuperadas de antigas disquetes conservadas no museu que conserva o seu espólio, em Pittsburgh, na Pensilvânia. Uma delas é um auto-retrato, outras são revisitações de alguns dos seus temas predilectos, das latas de sopa Campbell e das bananas à actriz Marilyn Monroe.

A história da descoberta destas pioneiras pinturas em computador começou quando o nova-iorquino Cory Arcangel, um artista pós-conceptual conhecido pela sua utilização inovadora dos meios digitais –  são célebres os trabalhos que construiu a partir de jogos de vídeo –, apanhou no You Tube imagens de Warhol desenhando em computador um retrato da cantora e actriz Debbie Harry, vocalista dos Blondie.

O vídeo que Arcangel viu integrava a campanha de promoção do Amiga 1000, cujo fabricante aproveitou o fascínio do mais icónico representante da Pop Art pelas novas tecnologias que estavam a surgir nesses últimos anos da sua vida. Quem melhor do que Warhol para ilustrar as potencialidades gráficas do novo modelo?

Cory Arcangel quis saber o que fora feito do retrato de Debbie Harris, e se não existiriam outros resultados daquela insólita parceria entre Warhol e um fabricante de computadores (que não tardaria, aliás, a falir, apesar de ter criado, com os modelos Amiga, uma série de máquinas revolucionárias nos domínios da imagem e do vídeo). Arcangel contactou então uma curadora do Andy Warhol Museum, Tina Kukielski, e constatou que o retrato de Debbie Harris está exposto há décadas no museu de Pittsburgh, mas que ninguém ouvira falar de outras obras digitais que Warhol pudesse ter realizado na mesma altura.

Acompanhado de Kukielski, Arcangel foi então falar com o responsável da equipa de arquivistas do museu, Matt Wrbican, que é também um reconhecido especialista na biografia de Warhol. E foi aqui que verdadeiramente começou a busca, na qual participaram vários outros funcionários da casa e um grupo de estudantes do Clube de Computadores da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, uma associação que possui uma vasta colecção de hardware de computadores antigos e que tem sido premiada pela invenção de software destinado a salvar materiais de equipamentos obsoletos.

Este esforço conjunto acabou por dar resultados. Em disquetes (discos flexíveis para armazenamento de dados criadas nos anos 70 e que ainda chegaram ao início do século XXI) que o museu tinha arrumado com o rótulo de “inacessíveis”, uma vez que quando entraram na colecção, em 1994, não foi possível lê-las em nenhum equipamento, os jovens universitários encontraram uma dúzia de obras de arte digital criados no mesmo Amiga 2000 em que Warhol compusera o retrato de Debbie Harris.

Em termos temáticos, as imagens que foi possível salvar não trazem muito de novo à obra de Warhol. As latas de sopa, Marilyn,  a Vénus de Boticelli, aqui numa versão com três olhos, são revisitações de territórios familiares, mas, como observa a jornalista Melissa Locker na Time, “mostram um artista consagrado num momento de evolução”, tentando adaptar a sua arte a um novo meio, que implicava trabalhar num ecrã, usando um rato.

Andy Warhol, diz ainda Locker, “parecia determinado a dominar as novas tecnologias”. E é fascinante pensar o que o mestre da Pop Art poderia ter feito no capítulo da arte digital caso não tivesse morrido uns escassos dois anos após essas suas primeiras experiências com o Amiga 1000.

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