Autoridades alemãs têm um ano para devolver obras de Cornelius Gurlitt

As obras que não forem reclamadas serão novamente entregues ao alemão que escondeu a colecção em duas casas.

Algumas das obras que o homem escondia
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Algumas das obras que o homem escondia AFP
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O apartamento onde estavam mais de mil obras guardadas AFP

Se ao fim de um ano não aparecerem os proprietários legítimos das muitas centenas de obras de arte que terão sido roubadas por nazis e que Cornelius Gurlitt escondia em duas casas, as mesmas serão devolvidas a Gurlitt.

É este o acordo feito entre os advogados do homem que mantinha em segredo na sua posse mais de mil obras de arte de artistas como Pablo Picasso, Claude Monet ou Henri Matisse e as autoridades alemãs. Cornelius Gurlitt, como já tinha anunciado antes, trabalhará em conjunto com a polícia e os investigadores para ajudar a determinar quais das obras da sua colecção é que foram realmente roubadas por nazis durante a Segunda Guerra Mundial.

No entanto, este acordo tem uma duração: um ano. Ao fim de um ano, as obras que não foram reclamadas são devolvidas a Cornelius Gurlitt, de 81 anos, filho de Hildebrand Gurlitt, um negociante de arte que ajudou o regime nazi a vender no estrangeiro a arte confiscada aos museus europeus e extorquida aos coleccionadores judeus.

Numa nota publicada no site que o alemão criou em Fevereiro, com o apoio do seu advogado, para contar a história destas obras e para de alguma forma facilitar que os possíveis lesados possam encontrar os trabalhos que lhes foram tirados, lê-se que assim que um pedido de restituição é feito, as obras em causa ficam em “custódia fiduciária”, mesmo que um ano tenha passado.

A Gurlitt só serão devolvidas as obras que não tenham sido reclamadas de todo. A colecção, na qual se destacam trabalhos de Henri Matisse, Marc Chagall, Paul Klee, Pablo Picasso, Otto Dix, Emil Nolde, Albrecht Dürer, Pierre-Auguste Renoir e Canalletto, está avaliada, segundo a BBC, em 989 milhões de euros.

No site de Gurlitt qualquer lesado pode pedir mais informações sobre as obras mas estas estão também na base de dados do www.lostart.de, uma instituição central do governo alemão para a documentação do património cultural perdido. Ao fim de um ano, as obras não reclamadas serão apagadas desta base de dados.

Para o advogado de Cornelius Gurlitt, Christoph Edel, o seu cliente “demonstrou uma responsabilidade moral exemplar”. Isto porque, como explica o editor de artes da BBC, Will Gompertz, Gurlitt não está obrigado pela lei alemã a devolver as obras, uma vez que se estas foram realmente roubadas foram há mais de 30 anos.

“Isto significa que, mesmo que fosse provado que os trabalhos tivessem sido roubados por nazis, Gurlitt poderia ficar com eles”, escreve Will Gompertz, explicando que o alemão renunciou a isto e preferiu antes seguir os Princípios de Washington, que determinam que “se os proprietários da arte confiscada pelos nazis puderem ser identificados – ou os seus herdeiros – devem ser tomadas medidas para se alcançar uma solução justa”.

Inicialmente, Cornelius Gurlitt tinha dito que as obras eram a sua vida e que não as devolveria de forma voluntária. Mas acabou por mudar de ideias logo depois. No final de Março, foi anunciado que o processo de devolução das obras tinha iniciado. A primeira obra a ser devolvida é um óleo de Henri Matisse, Mulher Sentada, que pertencia à colecção de Paul Rosenberg, um comerciante de arte francês. No entanto, esta história ganhou esta semana novos desenvolvimentos, depois de na segunda-feira ter aparecido outra pessoa a reclamar este mesmo quadro. A investigação poderá demorar por isso mais tempo do que aquele inicialmente previsto

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