“Os árbitros erram menos hoje”

Na véspera do centenário da FPF, o presidente alerta para a necessidade de os clubes se ajustarem ao novo paradigma de gestão imposto pelo fair-play financeiro.

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"Os árbitros erram muito menos hoje do que no passado" Paulo Curado, Vera Moutinho

Dirige os destinos da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) desde Dezembro de 2011 e integra há aproximadamente um ano o Comité Executivo da UEFA. Fernando Gomes quer deixar a sua marca concluindo um projecto há muito sonhado, mas sempre adiado: a Cidade do Futebol, que reunirá, nos terrenos do Estádio Nacional, as várias selecções nacionais a partir de Abril de 2016. O economista, de 62 anos, confia no engenho dos clubes portugueses para ultrapassar as dificuldades que se avizinham com as limitações aos fundos de jogadores, mas considera difícil que as equipas nacionais consigam manter o nível competitivo internacional.

A FPF viveu ao longo deste século de história períodos de grande instabilidade, considera que esta instituição é hoje um pilar de estabilidade no futebol português?
Até ao dr. Gilberto Madaíl ter assumido a presidência da FPF [1996], a instabilidade que se vivia nesta instituição relacionava-se com a sua menor capacidade de sustentabilidade financeira. Hoje, a participação permanente da selecção principal nas fases finais dos diversos campeonatos permitiu alguma estabilidade a esse nível. Por outro lado, nos últimos anos, a delegação de competências das competições profissionais de futebol num organismo autónomo, hoje a Liga Portuguesa de Futebol Profissional, também retirou alguma da conflitualidade a que se assistiu, não há muito tempo, dentro da própria FPF.

Quais são as suas referências ao nível do dirigismo desportivo português?
Não posso deixar de referir o dr. Silva Resende, um presidente da FPF [entre 1983 e 1989] que foi marcante para a história da instituição. Teve um papel extremamente importante à frente dos destinos da FPF e desempenhou igualmente altos cargos na UEFA. Também destaco a presença, ao longo dos últimos 15 anos, do dr. Gilberto Madaíl, que marcou uma época em que a selecção esteve representada em praticamente em todas as fases finais dos campeonatos da Europa e mundiais.

Que legado gostaria de deixar na Federação?
Gostaria que o meu mandato ficasse ligado à construção da Cidade do Futebol. Seria extremamente gratificante para mim poder dizer que a FPF tem o seu espaço, onde as selecções podem treinar e desenvolver todo o nível de competências para evoluir cada vez mais. Mas há outros objectivos, nomeadamente ao nível do desenvolvimento do futebol não profissional, no crescimento das nossas selecções, no estabelecimento de um plano de desenvolvimento para o futuro e na ampliação da base da pirâmide do futebol feminino.

Em que fase está o projecto da Cidade do Futebol?
Estão a ser desenvolvidos trabalhos relacionados com os projectos de arquitectura e de outras especialidades, para serem concretizados até Setembro de 2014. A partir desta data, será lançado o concurso para a construção da Cidade do Futebol, que se deverá iniciar em Janeiro de 2015 e, segundo o projectado, ficará concluída em Abril de 2016, exactamente antes de terminarmos este mandato.

Têm encontrado obstáculos para a concretização do projecto?
Sim, como é habitual neste tipo de projectos. Desde algumas circunstâncias conjunturais ao nível da terraplanagem do próprio terreno, que é obrigatória para a instalação dos equipamentos previstos [em terrenos do Estádio Nacional, em Oeiras]. E também na articulação com as diversas entidades envolvidas, como o Instituto das Estradas de Portugal, EPAL e EDP, por exemplo. Estamos a procurar ultrapassar todas estas dificuldades, para podermos concretizar o projecto nos prazos que já referenciei. Mas temos sentido um apoio muito grande, tanto da parte da Câmara Municipal de Oeiras, como da Secretaria de Estado do Desporto e das entidades governamentais que a interligam, nomeadamente o Ministério das Finanças.

Em termos de financiamento, mantém-se o orçamento previsto de dez milhões de euros, com 60% da responsabilidade da FPF e os restantes 40% proveniente de verbas da UEFA e da FIFA?
Esse valor estava relacionado com o plano inicial, mas o investimento poderá ser ligeiramente superior, face a algumas características adicionais que foram introduzidas ao projecto. Mas, acima de tudo, pretendemos que o Erário Público não despenda um único euro. Da nossa parte, estamos a desenvolver todos os esforços junto da UEFA e da FIFA para encontrar os meios complementares de financiamento, para podermos dizer que a Cidade do Futebol foi construída sem verbas públicas.

A resolução da questão do Totonegócio foi outra das suas prioridades. Pode dizer que o assunto está encerrado para a FPF?
Não podemos dizer que está encerrado. Em Dezembro de 2011, ajudámos os clubes a resolver a segunda fase deste processo, mediante o pagamento de uma parte substancial da dívida [11 milhões de euros] e está completamente regularizado, já que a FPF assumiu, por conta dos clubes devedores, o respectivo pagamento. No que diz respeito ao primeiro período, ele continua a ser discutido na barra dos tribunais e está relacionado com as dívidas dos clubes que estavam originariamente dependentes da Liga Portuguesa de Futebol Profissional [LPFP]. O processo está a ser conduzido por este organismo.

Estamos a falar de que montante?
Em relação à primeira fase, estamos a falar de 17 milhões de euros.

Os clubes têm demonstrado preocupação com o que possa vir a acontecer…
Essa preocupação existe, na perspectiva de, eventualmente, haver uma decisão desfavorável dos tribunais, que pode ter consequências extremamente negativas para o futebol português. Nesse cenário, se os clubes não tiverem capacidade para liquidar os montantes em dívida, existe uma responsabilidade solidária dos próprios organismos tutelares, neste caso concreto da LPFP, que terá de assumir o pagamento.

Entretanto, as verbas provenientes dos jogos sociais destinadas aos clubes sofreram uma redução para metade…
Até 2011 e fruto do Decreto-Lei nº 56/2006, os clubes, que tinham apenas direito a uma verba do Totobola, passaram a ter uma percentagem sobre a verba total dos jogos sociais. Segundo a interpretação que o actual Governo faz do referido decreto, a partir do momento em que cessou o chamado Totonegócio, referente à regularização das dívidas fiscais dos clubes [entre 1985 e 1995, num total de 50 milhões de euros], voltaria a passar-se à fase anterior, com os clubes a receberem apenas uma percentagem das receitas do Totobola, o que diminuiu significativamente a verba destinada ao futebol [passou de dois milhões para um milhão de euros]. Agora, não é este o entendimento que a FPF tem do referido decreto e já o manifestámos à tutela diversas vezes.

Por outro lado, o futebol português continua a aguardar pela regulação das apostas desportivas online. O que continua a atrasar o processo?
Esse é um tema que me é particularmente caro. Tomei posse no dia 7 de Junho de 2010 como presidente da LPFP [cargo que desempenhou antes de se candidatar à FPF] e nesse mesmo mês tive uma primeira reunião sobre este tema, na altura com o então ministro [da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento] Vieira da Silva, que conduziu à criação de uma primeira comissão interministerial para analisar o problema. Essa comissão produziu um relatório que, com a queda do Governo do PS, não teve possibilidade de evoluir. Já com o actual Executivo em funções, após a tomada de posse de Alexandre Mestre como secretário de Estado do Desporto, reafirmei novamente a necessidade de regular este sector de actividade que é uma potencial fonte de receita para os clubes.

Essas receitas estão quantificadas?
É muito difícil quantificar. No Orçamento de Estado de 2011, o PS antecipou uma verba de aproximadamente 200 milhões de euros, da receita que poderia derivar para o Estado com a legalização das apostas desportivas. Mais recentemente, o actual Governo, no Orçamento de Estado para 2014, inscreveu unicamente uma receita de 50 milhões de euros. Em termos objectivos, não poderemos dizer em absoluto qual o potencial financeiro desta actividade, porque não estando regulada só podemos basear-nos em números cuja fiabilidade deixa a desejar. O que é inegável é a necessidade de regular a actividade, para potenciar receitas directas para os clubes através da compensação pela utilização dos seus nomes e das suas competições. Por outro lado, terá igualmente benefícios indirectos através da publicidade que as entidades que exploram este sector irão direccionar para o futebol.

Receberam garantias do primeiro-ministro de que a regulamentação seria implementada ainda este ano?
Efectivamente, no início de Janeiro deste ano, tivemos uma audiência com o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, onde nos foi transmitido que havia um compromisso do Governo, já assumido com a troika, para que esta actividade fosse regulada em 2014. Nessa reunião foi avançado que, muito possivelmente, a regulação seria feita em três ou quatro meses, exactamente o período que medeia o acordo com a troika, que cessa em Maio/Junho.

Que leitura faz das contas das SAD (Sociedades Anónimas Desportivas) dos três principais clubes portugueses, que apresentam, em conjunto, um passivo muito próximo dos mil milhões de euros?
Não deixa de ser interessante que esses mesmos clubes tenham visto recentemente as suas contas auditadas e tenham merecido a certificação por parte do comité de fair-play financeiro da UEFA para participarem nas competições europeias de clubes. Essa aprovação não deixou de ser dada por parte dos mecanismos de controlo, apesar de as contas poderem apresentar alguns sinais de preocupação. Agora, os passivos são preocupantes, mas não devem ser as únicas vias de análise das contas dos clubes. Se analisássemos unicamente as contas através do valor absoluto do montante do passivo, uma empresa como a Brisa, por exemplo, estaria com muitas dificuldades financeiras. A verdade é que essa empresa, através dos investimentos que fez e do financiamento que contraiu, tem capacidade de gerar uma receita significativa para pagar o serviço da dívida. A mesma lógica serve aos clubes. Se um clube, independentemente do valor do seu passivo, tiver capacidade de gerar receita que lhe permita pagar o seu serviço da dívida, significa que tem sustentabilidade.

Considera que os clubes portugueses têm sido bem geridos?
Temos de acreditar e ter confiança na capacidade de gestão dos dirigentes dos nossos clubes que, apesar das dificuldades criadas pela crise que assolou o país, com a diminuição de receitas e o crescimento de custos, encontraram formas e mecanismos para continuarem a viver dentro de um certo equilíbrio das suas contas de exploração. Isto faz-me ter confiança e fé em relação ao futuro. Temos o bom exemplo do Sporting, que no último ano fez um esforço tremendo para reduzir significativamente a sua conta de exploração, diminuindo de uma forma brutal a sua massa salarial. Os dirigentes da SAD do clube tiveram de criar condições para esse ajustamento e isso foi perfeitamente visível nas contas que apresentaram relativamente ao primeiro semestre desta temporada [um resultado positivo de 3,724 milhões de euros, após um resultado negativo de 25,670 milhões de euros, em igual período do exercício anterior].

Esta lógica será obrigatoriamente extensível a outros clubes?
Não há alternativa.

As regras de fair-play financeiro vão obrigar a alterar drasticamente o paradigma de gestão?
Têm necessariamente de obrigar. Todos sabemos a influência das receitas oriundas das competições europeias, nomeadamente as geradas pela Liga dos Campeões. Para obterem essas receitas, os clubes portugueses têm de cumprir os critérios estabelecidos pelo Financial Fair-Play. Por outro lado, hoje muito dificilmente se obtém um aumento de receitas e só através de mecanismos de redução da despesa os clubes terão capacidade para equilibrar as suas contas de exploração. De uma forma ou de outra vão ser obrigados a enveredar por esta via.

O recurso aos fundos de jogadores tem sido uma forma de as equipas portuguesas se manterem competitivas. A eventualidade de a UEFA vir a proibir esta solução poderá complicar ainda mais a sustentabilidade do futebol nacional?
Há cerca de dois anos, em Julho de 2012, na perspectiva do recurso a estes fundos vir a ser proibido, a FPF teve oportunidade de sensibilizar a UEFA para a realidade concreta portuguesa e para a necessidade de haver um período de transição. E, até hoje, ainda não foi definitivamente vedado aos clubes o recurso a esta fonte de financiamento alternativo. Ela tem sido fundamental até face às dificuldades que têm existido na obtenção de crédito. Estamos atentos à evolução da situação, no sentido de criar regras mais apertadas para o controlo dos proprietários destes fundos, na salvaguarda da integridade das competições. Mas vamos procurar influenciar para que uma futura legislação, ao nível da UEFA e da FIFA, não seja tão gravosa que coloque em causa a sustentabilidade dos nossos clubes.

Se o recurso a estes fundos for proibido ou muito limitado acredita que as equipas portuguesas irão continuar a destacar-se nas provas europeias?
Não será fácil. Acredito que os clubes portugueses, num futuro próximo, vão ter cada vez mais dificuldade em manterem um nível competitivo que permita ao país manter, por exemplo, o quinto lugar no ranking das competições europeias de clubes.

Apesar da boa imagem internacional das principais equipas nacionais, o futebol português está, internamente, envolvido num clima de crescente crispação…
Dentro do que são as nossas competências, não deixaremos de fazer o que está ao nosso alcance para esbater eventuais divergências e situações menos positivas. Queremos criar e potenciar consensos.

Acha que os consensos são possíveis?
Enquanto presidente da LPFP, criei o conselho de presidentes [dos clubes que integram as competições profissionais] onde procurei que fossem debatidas ideias de uma forma positiva numa sede própria. Temos de fazer um esforço muito grande para nos centrar naquilo que é fundamental para o futebol português, criar mecanismos de agregação e sinergias que contribuam para a evolução da modalidade. É fundamental criar um clima propício para que as pessoas queiram ir aos estádios e sintam segurança. Só assim poderemos potenciar a nossa indústria.

Seria desejável uma intervenção mais directa do presidente da FPF para procurar mediar alguns conflitos?
Nunca deixei de estar atento e próximo, mas não num registo de exposição permanente, que não é claramente o meu estilo. De resto, nunca deixei de estar atento e interventivo dentro do que são as minhas reais funções como presidente da FPF.

Como qualifica as suas relações com os presidentes dos três “grandes” clubes portugueses?
Normais. Tenho relações com todos os presidentes de clubes e não só com os três ‘grandes’. Um registo de grande proximidade institucional, ainda que em relação aos presidentes dos clubes profissionais não seja directamente uma competência do presidente da FPF porque, por delegação de competências, todo esse trabalho está materializado na LPFP.

Considera normais as eternas polémicas em torno da arbitragem em Portugal?
Sinceramente, acho que os árbitros erram muito menos hoje do que no passado. A sua qualidade evoluiu favoravelmente. Agora, temos de entender que é um sector difícil, uma actividade em que as decisões são tomadas em segundos e que será sempre objecto de polémica, até pela sistematização das transmissões televisivas, com várias câmaras a filmar e vários ângulos de análise. Mas não podemos ter futebol sem árbitros.

A profissionalização do sector representará um salto qualitativo?
Acreditamos profundamente na profissionalização, sempre o dissemos desde a primeira hora. Não avançámos logo por essa via, porque na altura não existia um enquadramento legislativo que o permitisse e mesmo agora existem algumas condicionantes. Iniciámos o projecto da profissionalização este ano, foi criada uma comissão de supervisão para acompanhar o processo, com dois centros de treino onde os árbitros profissionais estão a ser alvo de uma preparação adicional. Esta comissão ficou de concluir o trabalho até finais deste mês de Março.

Que imagem tem a arbitragem portuguesa fora de Portugal?
Se a nossa arbitragem não tivesse uma imagem positiva nem o Pedro Proença nem o Olegário Benquerença arbitravam regularmente jogos da Liga dos Campeões. Há dois anos, o Pedro Proença apitou a final da Liga dos Campeões e do Euro 2012.

Que resultado consideraria positivo da participação da selecção portuguesa no Mundial do Brasil?
O nosso primeiro objectivo é passar a fase de grupos. A partir daqui, teremos condições para ir mais além.

Apesar de Portugal ter sido obrigado a disputar um play-off para garantir o apuramento, os jogos com a Suécia acabaram por ser mais moralizadores para a selecção e para os adeptos portugueses do que toda a campanha de qualificação. Concorda?
Temos assistido a um grande envolvimento do povo português com a selecção. Nos momentos mais difíceis temos uma capacidade de superação extraordinária. Agora, aquele segundo jogo na Suécia do play-off, pela exibição fantástica da selecção e do seu capitão [Cristiano Ronaldo], tornou mais visível essa aproximação dos adeptos portugueses.

Durante a qualificação para o Mundial referiu que a continuidade de Paulo Bento poderia não depender do apuramento. Nessa lógica, o seleccionador tem o lugar assegurado independentemente do resultado no Brasil?
Sempre dissemos que não são apenas os resultados desportivos que são determinantes para uma decisão nessa matéria. São importantes, mas não decisivos. Nessa lógica, estamos relativamente tranquilos em relação a esta questão. Fazemos uma avaliação permanente do trabalho de Paulo Bento, não só ao nível do trabalho com a selecção A, mas também em relação à interacção com a FPF ao nível do desenvolvimento das restantes selecções e do compromisso que existe relativamente àquilo que é o projecto da selecção e da própria FPF.

A avaliação é positiva?
Naturalmente que sim. Só quem não está tão atento ao seu trabalho poderá fazer outro tipo de avaliação.

O estágio em Óbidos e nos EUA e o quartel-general em Campinas são os melhores locais para a selecção antes de disputar jogos em Salvador e, especialmente, Manaus, duas cidades onde o forte calor e a humidade vão marcar presença?
A FPF acautelou todas as condições para a selecção chegar o melhor possível à fase de grupos do Mundial. Foi com este objectivo que toda a preparação foi delineada e, se o fizemos desta forma, é porque estamos convencidos que este plano é o adequado.

Já anunciou que estágio nos EUA e a estadia no Brasil não terão custos para a FPF, mas poderão gerar lucros?
Sim. Tivemos o cuidado de acautelar a parte desportiva da preparação para o Mundial, mas a partir deste objectivo fundamental, procurámos encontrar plataformas de rentabilidade que nos permitam minimizar custos e potenciar algumas receitas adicionais com esta participação no Mundial.

Quanto poderá render este Mundial para os cofres da FPF?
O prémio de participação no Mundial são oito milhões de dólares, cerca de sete milhões de euros.

Mas o valor global, com estágios incluídos?
Depende muito. Para já, está só orçamentada a ida ao Mundial. Os nossos contratos de patrocínio estão estabelecidos numa base fixa e só se atingirmos determinados objectivos poderão envolver valores adicionais.

Qual é o peso para estas contas da presença de um atleta com projecção global como Cristiano Ronaldo?
Como já disse, os nossos contratos estão estabelecidos há algum tempo. Dentro desta estabilidade que a FPF tem tido, teve naturalmente em linha de conta o facto de existir um Cristiano Ronaldo e a sua capacidade de visibilidade e de retorno para a própria FPF. Esta circunstância esteve associada, por exemplo, à recente renovação do contrato com a Nike. Ter nas fileiras da FPF o melhor jogador do mundo representa um valor acrescido.

Têm sido criticadas as opções das autoridades brasileiras em construir estádios para este Mundial que prometem não ter grande utilidade após o torneio. Portugal foi também um mau exemplo em termos de gastos públicos com o Euro 2004?
Pelo nível de utilização que alguns estádios têm tido, podemos chegar à conclusão que talvez não tenha sido devidamente ponderada a construção de tantos estádios. Se virmos um nível de utilização de recintos como o de Leiria ou do Algarve… Não deixa de ser verdade que, em 1998, uma das condições estabelecidas para a atribuição do Euro 2004 a Portugal, passou pela existência de 10 estádios. Muitas vezes é fácil criticarmos, mais tarde e fora de contexto, decisões que foram tomadas na altura, quando praticamente todo o país se manifestou a favor da realização do Euro 2004. A FPF foi sensível a essa realidade e tudo tem feito para potenciar e rentabilizar esses investimentos. Recentemente, fizemos um esforço junto da federação de Gibraltar no sentido de a selecção deste território poder realizar os seus jogos caseiros de qualificação para o Euro 2016 no Estádio do Algarve.

Acredita que o Mundial do Brasil será um sucesso ou partilha das reservas da FIFA?
Não tenho dados objectivos para me pronunciar. Tenho presente a imagem do que aconteceu durante a Taça das Confederações e estamos atentos às movimentações que têm ocorrido relativas a alguns focos de contestação à organização do evento. Confiamos que as autoridades deste país irão fazer tudo do ponto de vista de condições logística e da segurança para que o Mundial decorra o melhor possível.

Portugal também vai jogar em “casa” no Brasil?
Estamos convencidos que sim. Temos sentido o apelo de várias comunidades portuguesas residentes no país e acreditamos que a selecção terá um apoio muito forte.

Considera que Joseph Blatter terá condições para uma recandidatura à liderança da FIFA?
É um processo que está em aberto. Neste momento, tudo o que se possa dizer sobre este assunto é especulação. Em 2011, por ocasião da sua última reeleição, teve um discurso, em Paris, no sentido de que provavelmente este seria o seu último mandato.

Mas seria desejável uma recandidatura do actual presidente face aos escândalos de corrupção que envolveram a FIFA nos anos recentes?
Não conheço em detalhe algumas dessas acusações. Elas estão ainda a ser auditadas pelo Comité de Ética da FIFA e não seria muito cordial da minha parte opinar sobre situações e pessoas em concreto que estão sob investigação.

Apoiaria uma candidatura de Michel Platini à liderança da FIFA?
Será uma decisão pessoal dele. Aquilo que posso dizer é que ele tem feito um trabalho meritório para evolução do futebol como jogo, que é reconhecido por todas as federações nacionais a nível europeu. Lidera a UEFA desde 2007 e já tem um background muito grande, por isso não tenho dúvidas de que poderia dar um contributo muito positivo à FIFA.

Como tem sido a sua experiência no Comité Executivo da UEFA?
Extremamente positiva. Desde que fui eleito, há praticamente um ano, tem sido muito gratificante, tanto do ponto de vista da experiência como do ponto de vista do envolvimento.

Que vantagens podem ser colhidas pelo futebol português da sua presença neste organismo?
Estar junto aos poderes de decisão e poder discutir e conhecer todos os processos decisórios poderá ser extremamente positivo no que se relaciona com as matérias que influenciam directamente Portugal.

Quais são as reais possibilidades de Lisboa ou Porto virem a acolher jogos do Euro 2020? Tem existido interesse por parte das autarquias?
Pusemos a questão relativamente às duas cidades. Para o Europeu de 2020 irão candidatar-se cidades e não países ou federações. As duas cidades manifestaram a intenção de avançar. Neste momento, estão em processo de elaboração de um dossier de candidatura, que terá de ser apresentado até dia 10 de Abril. Iremos depois avaliar e decidir, já que só poderemos apresentar à UEFA uma cidade e um estádio até dia 25 de Abril.

Acredita que as autarquias terão condições para apresentar uma candidatura até essa data?
É prematuro dizer. Em termos genéricos, eu diria que as duas cidades têm condições para se candidatar, mas dependerá muito dos seus próprios constrangimentos e condicionalismos. Serão elas que terão de avaliar.

O futebol português tem sido um bom contribuinte para o Estado?
É, sem sombra de dúvida, um contribuinte líquido importante para o Erário Público.

É uma relação recíproca?
É sempre difícil de avaliar. Vendo deste lado, nós gostaríamos sempre de ter mais. Há questões que nos preocupam. Vemos uma taxa de IVA [sobre os bilhetes de futebol] de 23% que nos parece excessiva quando comparada com outras actividades e com outros países e que se traduz, em termos globais, numa perda de receita de 20 milhões de euros. A carga fiscal sobre os jogadores também é muito mais gravosa em Portugal, criando aos nossos clubes dificuldades nas contratações de jogadores. Por outro lado, o contributo do futebol português para o Erário Público ultrapassa mais de 100 milhões de euros anuais.

Equaciona uma recandidatura à FPF?
Temos muito ainda para fazer e é prematuro estar a delinear o quer que seja relativamente ao futuro.

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