Cornelius Gurlitt vai começar a devolver algumas das obras de arte que escondia em casa

Homem que escondia em duas casas uma colecção de mais de mil obras de arte, algumas roubadas por nazis, começa agora a devolvê-las aos legítimos proprietários.

Foto
Mulher Sentada é a primeira obra da colecção a ser devolvida Reuters

A história é tão inacreditável que a BBC escreve que, “sem dúvida, Hollywood fará um filme”. Cornelius Gurlitt, o homem que mantinha em segredo na sua posse mais de mil obras de arte de artistas como Pablo Picasso, Claude Monet ou Henri Matisse, vai começar a devolver alguns destes trabalhos, em tempos roubados por nazis a judeus. As obras vão ser devolvidas aos seus legítimos proprietários, desde que seja devidamente provado o direito à restituição. Ao mesmo tempo, o alemão pede que os museus e o sector público alemão lhe sigam o exemplo.

A primeira obra a ser devolvida é um óleo de Henri Matisse, Mulher Sentada, que pertencia à colecção de Paul Rosenberg, um comerciante de arte francês. Os descendentes de Rosenberg reclamaram o óleo quando no ano passado, em Novembro, as autoridades alemãs descobriram no apartamento de Cornelius Gurlitt em Munique mais de 1400 obras de arte, entre as quais se destacavam trabalhos de Henri Matisse, Marc Chagall, Paul Klee, Pablo Picasso, Otto Dix, Emil Nolde, Albrecht Dürer, Pierre-Auguste Renoir e Canalletto.

Depois disto, as autoridades descobriram que Gurlitt, de 81 anos, filho de Hildebrand Gurlitt, um famoso historiador e negociante de arte que ajudou o regime nazi a vender no estrangeiro a arte confiscada aos museus europeus e extorquida aos coleccionadores judeus, escondia ainda mais obras num outro apartamento, na sua propriedade em Salzburgo, na Áustria. Inicialmente foram descobertas 60 obras, mas, entretanto, em comunicado, o advogado do alemão explica que naquela vivenda estavam escondidos 238 trabalhos.

“Gurlitt quer devolver todas as obras de arte que foram roubadas a proprietários judeus aos seus respectivos donos e herdeiros”, disse ao Süddeutsche Zeitung, citado pelo El País, o advogado, Christoph Edel, que é neste momento quem tem a tutela desta colecção, que é já considerada uma das maiores em mãos privadas. Cornelius Gurlitt foi recentemente operado ao coração e entregou o caso ao seu advogado, que fica assim encarregado de todas as decisões.

No site que o alemão criou em Fevereiro, com o apoio do seu advogado, para contar a história destas obras e para de alguma forma facilitar que os possíveis lesados possam encontrar os trabalhos que lhes foram tirados, o advogado escreve que Cornelius Gurlitt deixou exactamente esta ordem ao tribunal: se se provar que as obras foram mesmo roubadas, “por favor, devolvam-nas aos seus proprietários judeus”.

A pintura a óleo de Matisse é, assim, a primeira desta colecção a ser entregue aos proprietários originais. Ao The New York Times, Stephan Holzinger, porta-voz de Gurlitt nesta operação com a família de Paul Rosenberg, informou que “o acordo ainda não foi assinado, mas vai acontecer certamente”.

A esta, outras obras se seguirão, garante o advogado, explicando, no site de Cornelius Gurlitt, que esta grande colecção está neste momento a ser investigada e estudada por uma equipa internacional de especialistas. O jornalista da BBC Stephen Evans visitou o local onde estas obras estão armazenadas e verificou que alguns destes trabalhos – além de pinturas, há desenhos e aguarelas – estão em más condições de conservação e, por isso, precisarão ainda de ser restaurados. Por questões de segurança, não se sabe, nem o jornalista da BBC revelou, onde é que está guardada a colecção.

Certo é que “nas próximas semanas” outras obras serão devolvidas, uma vez que, diz o advogado, “as discussões com outros queixosos têm sido construtivas”. Christoph Edel reitera, no entanto, que “apenas uma pequena percentagem da colecção Gurlitt é suspeita de ter sido roubada pelos nazis”. “Ao mesmo tempo, apelamos aos museus e ao sector público na Alemanha que siga o nosso exemplo”, concluiu o advogado.

Sugerir correcção
Comentar