Cornelius Gurlitt, o homem que escondia obras de arte, cria site para contar a sua história

Além de dar a conhecer a história desta colecção, o site está aberto aos herdeiros legítimos das obras, para que as possam reclamar.

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Cornelius Gurlitt herdou a colecção do seu pai, um negociante de arte que ajudou o regime nazi Reuters

Cornelius Gurlitt, o alemão filho de um historiador e negociante de arte que colaborou com os nazis, e que mantinha na sua posse centenas de obras de arte de nomes como Pablo Picasso, Claude Monet ou Pierre-Auguste Renoir, criou um site não só para poder contar a sua versão dos acontecimentos, como também para dar a conhecer a colecção que manteve escondida durante tantos anos.

Uma semana depois de terem sido descobertas mais umas dezenas de trabalhos na sua propriedade em Salzburgo, na Áustria, Cornelius Gurlitt quer contar a sua história, que saltou para os jornais em Novembro do ano passado quando as autoridades alemãs descobriram no seu apartamento de Munique mais de 1400 obras de arte, entre as quais se destacavam trabalhos de Henri Matisse, Marc Chagall, Paul Klee, Pablo Picasso, Otto Dix, Emil Nolde, Albrecht Dürer, Pierre-Auguste Renoir e Canalletto.

No site, cuja informação está disponível em alemão e inglês, Cornelius Gurlitt escreve que quer viver com os seus quadros “em paz e tranquilidade”, explicando que muito do que tem sido dito desde que a sua história chegou aos jornais não corresponde à verdade.

Desde que estas obras foram descobertas que as suspeitas caíram sobre o alemão, considerando as autoridades que as obras terão sido roubadas pelos nazis, devendo por isso ser devolvidos às famílias dos seus proprietários originais. Isto, porque Cornelius Gurlitt é filho de Hildebrand Gurlitt, um famoso historiador e negociante de arte que ajudou o regime nazi a vender no estrangeiro a arte confiscada aos museus europeus e extorquida aos coleccionadores judeus.

Em sua defesa, Cornelius Gurlitt, com o apoio do seu advogado, Hannes Hartung, explica que as autoridades não têm provas de que esta colecção tenha sido de facto roubada. No entanto, o homem disponibiliza no site um formulário para que os possíveis proprietários de algumas destas obras as possam reclamar formalmente, uma vez que, como se lê no site, Cornelius Gurlitt “está aberto à responsabilidade histórica”.

Sobre isto o advogado explica que apenas 3% do total das obras encontradas em Munique, em Novembro, e em Salzburgo, na semana passada, poderão realmente pertencer a famílias judias. Segundo o jornal alemão Die Welt, já estão até a decorrer negociações entre os legítimos proprietários de algumas destas obras e Cornelius Gurlitt.

De acordo com a lei, os particulares não têm qualquer obrigação legal de devolver obras saqueadas pelos nazis, desde que provem que, em determinado momento – e independentemente do seu percurso anterior –, foram adquiridas legalmente. É este também o argumento do advogado, que critica a forma como este caso tem sido tratado.

“Na Alemanha há muitas colecções públicas e privadas, nas quais a parcela potencial de obras pilhadas é maior do que na colecção de Gurlitt”, apontou Hannes Hartung, lamentando que para esses casos a pressão não seja a mesma e lembrando que Hildebrand Gurlitt adquiriu as obras legalmente. O advogado revela ainda que há museus alemães interessados em adquirir alguns destes trabalhos, tendo feito propostas de compra, que serão analisados por Cornelius Gurlitt, que considerará as ofertas, "se estas corresponderem ao valor do mercado”.

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