Antigos mineiros vão a Bruxelas pedir indemnizações

Antigos trabalhadores exigem ser recompensados por causa da exposição à radioactividade.

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Uma delegação de 25 antigos trabalhadores da Empresa Nacional de Urânio (ENU) e familiares de colegas que morreram com cancro, alegadamente devido à exposição à radioactividade, saiu nesta segunda-feira de Nelas rumo a Bruxelas para reclamar o pagamento de indemnizações.

Às 9h30, partiram a pé da Urgeiriça - onde esteve sediada a ENU - levando uma faixa negra com a inscrição "Associação de Trabalhadores das Minas de Urânio (ATMU), vítimas de radioactividade, a luta continua".

Durante a hora e meia que caminharam até Nelas, onde depois apanharam o autocarro, foram gritando palavras de ordem como "Bruxelas, escuta, os mineiros vão em luta" e "Passos, escuta, vamos a Bruxelas com a luta".

Os antigos trabalhadores da ENU lutam há vários anos para que sejam pagas indemnizações aos familiares dos colegas que morreram com cancro.

"Vamos a Bruxelas com dignidade mostrar a nossa razão", disse aos jornalistas o presidente da ATMU, António Minhoto, culpando o Estado português "de todas as mortes que assolaram a família mineira", uma vez que a ENU era uma empresa pública.

Na opinião de António Minhoto, o Estado português "é cúmplice, porque até hoje não resolveu este problema (das indemnizações)", apesar dos muitos estudos existentes que comprovam a causa efeito entre a radioactividade e o cancro.

António Minhoto considerou que, no ano passado, a maioria PSD/CDS-PP apresentou na Assembleia da República um projecto de resolução "para tentar, de certa maneira, adormecer este problema".

Em Julho do ano passado, as bancadas parlamentares discutiram e votaram os projectos de resolução sobre a matéria, tendo sido aprovado o do PSD/CDS-PP, que "recomenda ao Governo que proceda à realização de um estudo científico ao universo dos ex-trabalhadores e mineiros", para que se confirme a influência nefasta da exposição ao urânio.

"Mesmo essa resolução que aponta para novos estudos, para encontrarem eles a razão de causa efeito destas mortes, até hoje não foi hoje posta em prática", lamentou.

Por isso, os antigos mineiros e familiares aceitaram o convite da deputada do PCP no Parlamento Europeu Inês Zuber para se deslocarem a Bruxelas.

"Temos de ir ao Parlamento Europeu mostrar a nossa indignação e fazer queixa desta injustiça que o Governo português está a fazer", frisou António Minhoto, referindo que terão morrido nestas circunstâncias cerca de 150 trabalhadores.

O objectivo é o de que seja aprovada "uma resolução que obrigue o Estado português a cumprir com os direitos" que assistem aos familiares daqueles que, "com o seu esforço, exploraram urânio e enriqueceram o país", acrescentou.

Na quarta-feira de manhã, a delegação será recebida no Parlamento Europeu pelo grupo parlamentar do PCP e, à tarde, pela Comissão do Emprego e dos Assuntos Sociais, entregando-lhe toda a documentação que responsabiliza o Estado Português pelas mortes dos antigos trabalhadores da ENU.

A ENU teve a seu cargo, desde 1977, a exploração de minas de urânio em Portugal. A empresa entrou em processo de liquidação em 2001 e encerrou definitivamente no final de 2004.

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