O candidato assumido contra o candidato escondido

Separados por apenas dois pontos no topo da classificação, Benfica e Sporting defrontam-se hoje, no Estádio da Luz, num jogo que terá implicações na luta pela liderança da Liga portuguesa.

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O Benfica venceu na Taça de Portugal com um golo de Luisão no prolongamento Francisco Leong/AFP

O discurso oficial de Benfica e Sporting em relação às expectativas para a época 2013-14 tem sido coerente desde o primeiro dia. Os “encarnados” assumem a conquista do título como principal prioridade, ao mesmo tempo que vão fazendo gestão de recursos para se manterem em três outras competições. E, por enquanto, seguem na frente. Já os “leões” vão tentando disfarçar a candidatura com um discurso contido, mas a classificação mostra capacidade para outras ambições. Hoje, na Luz, vai acontecer algo que já não acontecia há muito tempo. O grande derby lisboeta da segunda volta pode dar um novo líder.

À entrada para a 18.ª jornada da Liga, apenas dois pontos separam o candidato assumido, o Benfica, do candidato escondido, o Sporting. As contas são fáceis de fazer. Se ganhar o Sporting, passa para a frente; se ganhar o Benfica, aumenta a vantagem sobre os “leões”, que podem, inclusive, terminar a ronda em terceiro, dependendo do que fizer o FC Porto, em casa, frente ao Paços de Ferreira.

Mas a grande novidade desta época é mesmo o Sporting, a recuperar com brilhantismo do seu pior ano de sempre. Com um orçamento reduzido e uma aposta declarada nos jogadores formados na Academia de Alcochete, o Sporting tem superado as expectativas mais optimistas, aproveitando da melhor maneira a ausência de pressão e os benefícios de um calendário pouco carregado para ganhar no imediato. Assim, Leonardo Jardim tem tido margem de manobra para lançar jogadores como William ou Carlos Mané, que são o futuro desportivo (e financeiro) do Sporting.

A filosofia do Benfica é diferente em tudo, o que se reflecte na ambição publicamente reiterada de ganhar títulos e na pressão a que jogadores, treinadores e direcção estão sujeitos. O Benfica, pelo investimento que tem feito nos últimos anos, está obrigado a ganhar e ninguém sentirá mais essa pressão que Jorge Jesus, a cumprir o seu quinto ano no banco do Benfica. Esta época é especialmente importante para o treinador da Amadora, que viu o seu contrato prolongado (e o investimento reforçado) após um mês terrível em que perdeu tudo.

Em 2013-14, o Benfica está um pouco abaixo do que estava com 17 jornadas disputadas (45/40), enquanto os “leões” têm exactamente o dobro de pontos (19/38). A diferença entre “águias” (2.º) e “leões” (9.º) em 2012-13 à 18.ª jornada era de 16 pontos e, quando se encontraram à 26.ª, a diferença já era de 34. E desde 2004-05 que os dois rivais lisboetas não se defrontavam na segunda volta a disputar o primeiro lugar. Nessa época, na penúltima jornada, estavam os dois empatados no topo, com 61 pontos. O derby na Luz caiu para o lado do Benfica (1-0) graças a um golo de Luisão, encaminhando os “encarnados” para o título.

O jogo de hoje, na Luz, será o terceiro da época entre os dois rivais e o 301.º de uma rivalidade com mais de um século de existência. No encontro para o campeonato, logo à terceira jornada, houve empate (1-1), e o da Taça de Portugal caiu para o lado benfiquista no prolongamento (4-3). Será também mais uma oportunidade para Leonardo Jardim tentar bater Jorge Jesus pela primeira vez na sua carreira, somando dois empates e quatro derrotas nos seis confrontos anteriores. O mesmo já não se pode dizer do técnico “encarnado” em relação ao clube que chegou a representar como jogador. Em 37 confrontos com os “leões”, Jesus venceu 11, nove dos quais como treinador do Benfica.

O Sporting apresenta-se na Luz com o estatuto de melhor ataque (35 golos marcados) e melhor defesa do campeonato (10 golos sofridos), mas está a atravessar uma preocupante ineficácia ofensiva, directamente relacionada com a “seca” do seu goleador Fredy Montero — e terá de lidar hoje com as importantes ausências do lesionado Jefferson e do castigado William Carvalho. Os “leões” apenas marcaram dois golos nos últimos quatro jogos do campeonato e o colombiano, que se mantém no topo da lista de goleadores (13 golos, um deles ao Benfica, na primeira volta), marcou os seus últimos dois a 8 de Dezembro frente ao Gil Vicente, na 12.ª jornada.

Já o Benfica tem o segundo melhor ataque (32) e a terceira melhor defesa (13), mas parece ter estabilizado depois de um início irregular. Após a derrota na jornada inaugural frente ao Marítimo, os “encarnados” não voltaram a perder e, antes do inesperado empate em Barcelos, levava cinco vitórias seguidas. A ausência de Cardozo foi bem suprida pela pontaria de Lima e de Rodrigo, que ultrapassaram o paraguaio na lista dos melhores marcadores da equipa.

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