Cooperação, diplomacia e medalhas para todos

Os resultados dos Jogos da Lusofonia estão longe de ser de primeiro plano, mas a importância deste evento que está a decorrer em Goa vai muito para lá do aspecto desportivo.

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Em Goa, antiga colónia portuguesa, estão 739 atletas a competir DR

Longe do primeiro plano do espaço mediático português, os Jogos da Lusofonia, são, como descreve Vicente de Moura, antigo presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), um “evento de média dimensão”. Em Goa, antiga colónia portuguesa, estão 739 atletas em representação dos 12 países/territórios membros da Associação dos Comités Olímpicos de Língua Oficial Portuguesa (ACOLOP) e os resultados desportivos, na grande maioria, estão longe de ser de primeiro plano.

Olhando por exemplo, para a competição de lançamento do peso masculino, apenas três atletas participaram (dois indianos e um de Timor-Leste), todos ganharam medalhas, com marcas impensáveis em alta competição: o vencedor lançou o peso a 12,32m e o melhor lançamento do terceiro classificado (até ontem o único medalhado de Timor) foi de 5,32m – como referência, fica o recorde português (ao ar livre) de Marco Fortes, ouro nas duas edições anteriores - 20,89m.

“É evidente que isto não são os Jogos Olímpicos, não são Europeus ou campeonatos do mundo. Reconheço que em algumas modalidades o número de praticantes é escasso e o valor desportivo absoluto é muito aquém do que se pode encontrar em outros quadros competitivos internacionais”, diz ao PÚBLICO José Manuel Constantino, actual presidente do COP. A ausência dos brasileiros, que lideraram o medalheiro nas duas anteriores edições dos Jogos e que estão representados apenas por atletas no wushu, contribuiu para isto, e a alteração das datas de realização do evento também significou que a comitiva portuguesa fosse, reconhece Constantino, a “possível” e não a “desejável”.

Portugal está representado em Goa por 57 atletas, mais treinadores, médicos, enfermeiros e restante pessoal auxiliar, numa participação que custou 210 mil euros. Ainda com três dias de competição pela frente, a comitiva portuguesa segue em segundo lugar no medalheiro do evento, atrás da Índia (Goa), dominando em modalidades como o judo (que contou com a olímpica Yahima Ramirez), o taekwondo e o voleibol de praia - até ontem apenas São Tomé e Guiné Equatorial ainda não tinham ganho medalhas. Mas não marcou presença nas modalidades colectivas do programa dos Jogos, como o futebol, o voleibol e o basquetebol. “Os clubes não podiam, nesta altura, ceder atletas”, explica o presidente do COP, mas acrescentando que, para os portugueses participantes, é uma experiência importante e uma oportunidade de internacionalização

Importantes por outros motivos
Há algumas excepções em termos competitivos, como o torneio de ténis de mesa, o judo ou algumas provas do atletismo, mas não chega para elevar os Jogos da Lusofonia ao nível, por exemplo, dos da Commonwealth, mais antigos (a primeira edição, de 1930, tinha o nome de Jogos do Império Britânico), com mais nações participantes (71 em nos Jogos de Dehli 2010) e mais atletas (6700 em 2010). Só que a importância dos Jogos da Lusofonia, refere José Manuel Constantino, não se mede apenas pelo aspecto desportivo.

“Não podemos ver apenas numa dimensão desportiva, mas também do ponto de vista cultural e do ponto de vista politico. É um evento agregador de países que tem alguns elementos comuns de identidade. Olho para este evento também como uma oportunidade de cooperação entre os comités olímpicos”, observa o presidente do COP.

Para Vicente de Moura, participante activo na fundação do ACOLOP em 2004 que conduziu à criação dos Jogos, os Jogos da Lusofonia mostram que o desporto pode servir como instrumento de maior aproximação entre países que a história tornou próximos: “Achei extraordinário que em Goa, uma região onde a bandeira portuguesa foi arriada pela força das armas, tenha voltado a ser içada pela força do desporto.”

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