Bispo de Viana diz que não deseja liderar diocese sem estaleiros navais

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A empresa assinalou o 69.º aniversário da sua fundação Foto: Paulo Ricca

O bispo de Viana do Castelo afirmou não querer liderar uma diocese sem os estaleiros navais, desejando que o aniversário da empresa, assinalado nesta terça-feira, marque o início do septuagésimo ano de actividade.

"Não desejava liderar uma diocese sem os estaleiros, tenho que dizer a verdade. Não desejava de maneira nenhuma", afirmou Anacleto Oliveira, após presidir a uma missa em memória dos trabalhadores da empresa já falecidos, realizada no santuário da Senhora d'Agonia, em Viana do Castelo, a poucos metros da empresa.

A iniciativa de organizar esta Eucaristia foi da Comissão de Trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), precisamente no dia em que a empresa assinalou o 69.º aniversário da sua fundação e perante o anunciado encerramento.

"Começa hoje o septuagésimo ano da sua existência", sublinhou, durante a celebração, o bispo da diocese de Viana do Castelo, pouco antes de dizer "rezar" para que a empresa "se prolongue por muitos anos e bem".

Apesar do momento delicado vivido pela empresa, o bispo Anacleto Oliveira afirmou não ter "competência" para se pronunciar sobre a origem dos problemas dos estaleiros.

"Oxalá que consigam vencer isto e que, de uma forma ou de outra, se mantenha. Os estaleiros são uma riqueza para a cidade, para o distrito e para o país, não tenho dúvidas", afirmou aos jornalistas, no final de uma cerimónia em que foi evocada ainda a memória dos fundadores dos ENVC, além dos trabalhadores já falecidos.

No final desta celebração, que reuniu cerca de uma centena de pessoas, os representantes da Comissão de Trabalhadores dos ENVC foram recebidos por Anacleto Oliveira, ainda no interior da igreja.

O bispo recordou que em 2010, oito dias depois de assumir a liderança daquela diocese, foi abordado nos Estados Unidos pelo então secretário regional dos Transportes dos Açores sobre o "Atlântida", ferryboat encomendado por aquele Governo aos estaleiros e rejeitado em 2009.

"Veio tentar justificar [decisão de rejeitar o navio], pôr água na fervura. Deu quase a entender que não se portaram bem", afirmou Anacleto Oliveira, aludindo à conversa que manteve com o actual presidente do Governo Regional dos Açores, garantindo que lhe retorquiu: "Nem parece que são portugueses".

A rejeição daquele navio, quando já estava concluído, representou um prejuízo de mais de 50 milhões de euros para os ENVC.

Essa decisão tem sido apontada como o início da crise mais grave em 69 anos de história do maior construtor naval português, a qual deverá terminar com o seu encerramento, este ano, segundo decisão anunciada pelo Governo face à investigação de Bruxelas às ajudas públicas atribuídas aos estaleiros desde 2006.

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