"O homem que matou Liberty Valance"

Em O Homem Que Matou Liberty Valance, o jornalista Maxwell Scott ouve do senador a realidade sobre a morte do bandido. Prefere, porém, relatar a lenda: “Quando a lenda precede os factos, publique-se a lenda…”

Passos Coelho representa o papel de Maxwell: a realidade aí está, mas ele escolhe a lenda.

Lenda tenebrosa que é a miséria do seu povo: um milhão e tal de desempregados, a marcha vertiginosa para o abismo, o massacre fiscal das famílias, pequenas e médias empresa, o desdém pelos cidadãos que o calendário já fustigou com dezenas e dezenas de anos, organizam o processo lendário de Passos Coelho.

Teima em rejeitar a realidade, abençoa e quer impor a lenda.

Cândido e salvador da Pátria, prega agora mais uns acrescentos ao seu processo lendário: o massacre definitivo dos mais frágeis e mais desprotegidos, daqueles que, pela idade, ou falta de forças, já não têm, na sua agenda de Excel, lugar na sociedade e na vida.

Nem assaltam hipermercados ou incendeiam avenidas de bairros de condomínios fechados.

Protestam ao som dessa canção ora herética que é Grândola Vila Morena!

Os reformados da função pública.

Os que governaram e governam, geriram e gerem a coisa pública, com corrupções, gestões danosas, negócios fraudulentos, incompetência e descuido estão agora isentos de responsabilidades e beneficiam de reformas/ pensões ao cabo de meia dúzia anos!

Os trabalhadores do sector público e privado, os reformados de um e outro que paguem a bancarrota que eles criaram, mastigando e digerindo a austeridade como cicuta mortífera.

O pretexto, hipócrita que é, como sempre, a convergência. Entre o sector público e o privado.

A lenda de Passos Coelho é de espertice saloia, arguta e dolosa: não lhe deu para convergir no sentido do que, supostamente, está melhor, antes no sentido do que está pior.

Convergir para este grupo de gente que nos governa sempre constitui graduar para baixo, nunca lhes passando pela mente tortuosa e indigna graduar para cima. E, mesmo assim, o fazem sem regras, de rompante, como se, desde 2005, se não dessem passos na tal convergência. Para estes “reformadores” do Estado, a regra é não haver regras.

Passos Coelho e acólitos são trabalhadores incansáveis, de dezenas e dezenas de anos onde, e apenas aí, se trabalha: nos CEO de empresas de latitude!

Por isso mesmo recolhem pensões ao fim de 12 anos de desastrados exercícios que nos conduziram a esta pobreza de pedintes da Europa.

Não operam convergência, que implica um processo, antes um corte abrupto e descarado sob a capa maldosa de “convergência”.

Por variadas razões: porque assalta as pensões dos que serviram no Estado, porque os divide contra os reformados do sector privado e, acima de tudo, vai sacar aos trabalhadores daquele mais uns milhões para o seu défice e obedecer aos “mercados” de Angela Merkel e FMI de quem é mandatário, à força e sem procuração. E, de uma assentada, desacredita o Estado Social, conquista civilizacional, que este Governo odeia e quer destruir. Chama a esta obscenidade “reformar o Estado”.

Descura a saúde e a vida dos cidadãos mais idosos. Não lhes regista certidão de óbito que o Registo Civil é competência de Conservadores de Registo. Mas para lá caminha.

Para este Governo, os reformados da função pública são um bando de milhões de malandros, que, durante mais de 40 anos, não trabalharam em benefício do Estado e da coisa comum! Dissimularam trabalhar!

Descontando para, na velhice, resistir às exigências quotidianas da vida são agora espoliados por um Governo que lhes prometera o paraíso fiscal e o respeito primário pela lei que ora, descarada e displicentemente, revoga na televisão!

E lança mais um pedregulho na “Casa do Medo” que apostou construir. Confunde malevolamente trabalhadores reformados com a classe dele, com reformas ao fim de 12 anos de assento nos órgãos de soberania de um Estado também assim espoliado.

No seu profundo entendimento  e visão política , os reformados e pensionistas recebem pensões e reformas milionárias e, logo que puderam, se instalaram em hotéis de luxo do Algarve e Rio de Janeiro, para férias alongadas, com cartões de crédito sem limites que o Estado lhes paga!

Passos Coelho é um Messias! Da história (ou da lenda?), não cura, nem curam.

A plebe, que ora odeia, num tempo muito passado da história, séculos antes de Cristo, abandonou Roma e instalou-se no Monte Sagrado.

Roma,  os Passos, Gaspar e Portas da época tremeram.

Quem ia agora servir os patrícios, salvar a produção? Os CEO do tempo e acólitos?

Roma paralisou.

Diz a história ou a lenda que o poder chamou o povo e assim nasceram os seus tribunos, os seus representantes no Senado que aqui defendiam os seus interesses legítimos.

Onde pairam os representantes do povo no Senado de Portugal???

Prestam ao seu Senhor um serviço torpe e indigno, de obediência servil.

Não representam o povo que os elegeu.

Procurador-geral adjunto

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