Bial adia por dois anos produção de novo medicamento para Parkinson

Redução do preço dos medicamentos tirou margem à empresa para investir. “Qual é a empresa que resiste numa situação destas?”, pergunta Luís Portela.

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Luís Portela: “Os nossos preços foram cortados em 40%” Paulo Pimenta

O presidente do grupo farmacêutico Bial anunciou quinta-feira que adiou por dois anos a produção de um novo medicamento para a doença de Parkinson devido aos cortes sucessivos nos preços dos medicamentos e, consequentemente, nas margens de lucro da empresa.

 

A Bial desenvolveu o primeiro medicamento de raiz portuguesa – um antiepilético – que está actualmente a ser comercializado em 17 países europeus.

“Temos um segundo projecto que estava para ser lançado no final do ano passado, princípio deste ano. Trata-se de um antiparkinsoniano, mas esse projecto, neste momento, está adiado por dois anos, dois anos e meio”, afirmou Luís Portela.

Em entrevista, quinta-feira à noite, ao Porto Canal, o empresário explicou que, não tendo dinheiro para investir, tem de atrasar os investimentos. Esta situação “deve-se aos cortes nos preços do medicamento” e “à menor margem” de lucro, que se tem reflectido numa diminuição da capacidade de investimento da empresa.

“Como não temos dinheiro para investir, temos de atrasar aquilo que estamos a fazer. Isto tem sido para nós absolutamente fundamental, são dez anos de grandes sacrifícios, são dez anos em que, globalmente, os nossos preços foram cortados em 40%.” “Qual é a empresa, qual é a área que resiste numa situação destas? É muito difícil”, frisou.

Pensar no longo prazo

Em seu entender, estes cortes nos medicamentos são “positivos no curto prazo, numa visão curta das coisas, porque é bom as pessoas pagarem menos, mas é negativo no longo prazo, porque não permite ter margens para investir apropriadamente”.

“Os preços dos medicamentos que temos em Portugal são dos mais baixos da Europa. Temos preços comparados aos da Eslovénia e aos da Eslováquia”, disse ainda.

Luís Portela defendeu que “há que encontrar soluções alternativas para isto, há que racionalizar a situação, dar margens às empresas que permitam investir a médio/longo prazo e trazer riqueza para o país”.

“Hoje estamos numa situação de levar as empresas ao vermelho, mesmo as empresas bem-sucedidas, quer ao nível da indústria quer ao nível da distribuição na farmácia. Aquilo que se fez na área do medicamento foi claramente exagerado e, neste momento, há que atenuar a situação e racionalizar outros sectores na área da saúde onde há muito ainda a fazer”, acrescentou.

Criar riqueza para pagar a dívida

Questionado sobre a actuação do Governo no actual contexto de crise, Luís Portela considerou que têm sido tomadas “medidas corajosas” e “sem preocupações eleitoralistas, o que não é vulgar em Portugal”, mas lamentou que o desenvolvimento económico esteja a ser “descurado”.

“É preciso pagar a dívida mas, ao mesmo tempo, é preciso criar riqueza para pagar a dívida. Se esquecermos esse aspecto, estamos a pagar a dívida, a emagrecer, a apertar o cinto e a caminhar para uma situação cada vez mais complicada”, considerou.

O empresário defendeu, por isso, a necessidade de criar um plano estratégico de desenvolvimento para o país, nas diversas áreas.

“Desejaria que do lado da economia houvesse essa perspectiva dos 10/15 anos, tentar perceber onde é que queremos estar para que estrategicamente pudéssemos criar condições para que as empresas pudessem buscar nas universidades o conhecimento que se tem acumulado e que não tem passado para a economia”, referiu.

Luís Portela considerou ainda “criminoso” não se terem criado condições para que “as universidades e, sobretudo, o mundo empresarial pudessem estar atentos para conquistar esses jovens” que emigram.

Mas, frisou, se “não há condições para reter muitos dos nossos licenciados e doutorados, há que criar condições para, pelo menos a médio prazo, tê-los de volta para poderem dar o seu contributo, ainda mais forte, para a dinamização da economia e do nosso país”.

 

 

 
 

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