Pode o ruído ter feito cair pedra em Santa Clara-a-Velha?

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A programação foi suspensa até se perceber o que fez cair a pedra Adriano Miranda

Poderá o desprendimento de um brasão do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, de Coimbra, há perto de duas semanas, ter sido causado pelo excesso de decibéis? A directora regional da Cultura do Centro, Celeste Amaro, acredita que sim e já pediu "dois estudos independentes" sobre o assunto. Está "convicta" de que os testes vão demonstrar que os espectáculos promovidos na Latada e na Queima das Fitas "têm vindo a provocar danos no monumento" e avisa que vai levar o caso "até às últimas consequências".

A queda da pedra, que estava presa por grampos de ferro ao topo do coro-alto do mosteiro desde a década de 1940, "aconteceu três dias depois do final da Festa das Latas e de sete noites de concertos na Praça da Canção. Este recinto, concebido precisamente para acolher, entre outros, os festejos dos estudantes, situa-se junto ao mosteiro. "Primeiro, o ruído que provoca reclamações por toda a cidade e, passados três dias, cai a pedra - não se trata, com certeza, de uma coincidência", comentou ontem Celeste Amaro, quando contactada pelo PÚBLICO.

Segundo disse, pediu um estudo sobre os efeitos do ruído excessivo naquele monumento à Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, mas, "por saber que as questões relacionadas com os estudantes e as festas académicas são sensíveis" nesta cidade, solicitou outro estudo, idêntico, à Universidade do Porto. "Assim, ninguém se sentirá inibido de apresentar os seus resultados", justificou. Avisa, no entanto, que "ainda que os resultados sejam inconclusivos" faz "questão de lançar o debate sobre a questão do ruído durante as festas dos estudantes, que incomoda toda a cidade".

Outras das hipóteses para a queda da pedra que estão a ser verificadas - ao mesmo tempo que é avaliado o estado geral do mosteiro - são o desgaste dos materiais ao longo de décadas e as vibrações causadas pela movimentação de terrenos nas obras que decorrem no Convento de São Francisco.

Contactados pelo PÚBLICO, o presidente da câmara, João Paulo Barbosa de Melo, e o presidente da Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra, Ricardo Morgado, mostraram-se desconcertados com a possibilidade de o excesso de decibéis ter provocado a queda da pedra. Ambos disseram preferir aguardar pelo resultado dos estudos para tecerem comentários.

Ambos salientaram, contudo, que este ano, na Latada, foram colocados limitadores de emissão de decibéis e que esta festa foi fiscalizada. "Poderão ter sido ultrapassados os limites, nalguns momentos, e isso está a ser analisado", admitiu Barbosa de Melo, que fez notar que "a discussão sobre o ruído durante as festas académicas e o trabalho para encontrar um equilíbrio de interesses já estão em curso".

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