Twins

Foto

Quando Ty Segall nos diz que a grande inspiração para "Twins" é o pedal de fuzz está a ser o mais justo e preciso possível. Do princípio com esse refrão que é mantra a repetir as vezes que forem necessárias até aceitarmos estar ali o segredo do rock''n''roll (“thank god for the sinners / thank god for your love”), até ao final com uma anti-balada psicadélica com Londres em 1968 no horizonte, tudo é guiado por essa força distorcida que transforma electricidade num organismo voraz preparado para fazer parque de recreio das cabecinhas de quem ouve.

"Twins" são doze canções a espalhar a velha nova do fuzz por todos os recantos. “There''s a problem in my brain”, grita Ty Segall na punkalhada Stoogeana (o piano metralhado que a acompanha não engana) que é "You're the doctor". Mas não há problema nenhum - e o bom Ty sabe disso. "Twins" são marchas opiáceas para gente louca, mas viva, escalar muralhas sónicas e acabar entre vozes femininas a que Ty, devidamente andrógino, se junta para cantar, oh perversa inocência, “we are children too”. "Twins", este álbum monstro tão entusiasmante, tão talentoso, tão à flor da pele, é tremolo surf-rock transformado em riff mastodôntico ("Ghost"), é o groove diabólico dos Black Sabath unido à transcendência “deuses do rock'n'roll” dos Led Zeppelin ("Handglams"). Ao longo de doze canções, Ty Segall não abranda, não consegue abrandar. O rock foi inventado para discos assim e nós fomos criados para, um dia, podermos abanar a anca como em "Gold on the shore" e dançar histrionicamente ao ritmo que a maraca dita, que a voz impulsiona, que a guitarra não permite serenar (os solos, senhores, os solos estão de volta e valem cada segundo). Gente d'aqui e d'agora, "Twins" é importante, "Twins" é irresistível, "Twins" regenera.

Sugerir correcção
Comentar