Já se sabe, a circulação de novas ideias faz-se a uma velocidade incrível, nos dias que correm. Em Abril o projecto canadiano The Weeknd lançou uma mixtape gratuita, “House Of Balloons“, que se transformou num dos acontecimentos do ano. Uma sonoridade R & B narcótica e futurista, letras confessionais que parecem ter sido criadas por personagem uma autodestrutiva, vídeos libidinosos e muito mistério em torno do projecto - inicialmente não se sabia quem estava por detrás da aventura.
Tudo isto acabou por fazer as delícias da comunidade internauta que tratou de abraçar a ideia de Abel Tesfaye, o mentor da coisa, veio a saber-se mais tarde. Alguns meses depois não se pode dizer que aura tenha desaparecido, mas no mínimo diluiu-se um pouco, até porque surgiram de imediato outros projectos com características mais ou menos análogas. O novo registo de The Weeknd, que faz parte de uma trilogia que será completada este ano, é mais uma vez gratuito (basta ser descarregado do site oficial), embora num curto espaço de tempo aquilo que era uma aventura marginal, de laboratório, caseiro, tipicamente da idade da internet, se tenha tornado transversal e adquirido traços convencionais, com Tesfaye a ser solicitado para remisturas, para concertos e até a ser nomeado para os mais importantes galardões canadianos da indústria, os Polaris. É já com este novo estatuto que surge a segunda mixtape, “Thursday”, que mantendo as características essenciais do primeiro lançamento, se revela ligeiramente menos inspirada. O centro da acção volta a ser o R & B, mas sem o excesso de rímel a que associamos o género, com a voz alterada por gemidos dilacerantes e o tipo de envolvimento sonoro que tem mais a ver com as camadas subterrâneas de Burial ou de James Blake. Ou seja, é R & B, mas não conforta ou puxa para a dança, optando por linhas etéreas, ambientes nocturnos, texturas granuladas e sons sinistros que parecem provir de paragens remotas encadeados pelos ecos do dub, acabando expostas em canções para voz em falsete, com muita abstracção, tempo e espaço.
