Morreu Lucian Freud, o pintor do corpo e da carne

Lucian Freud tinha 88 anos
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Lucian Freud tinha 88 anos cc/Wikipedia
O quadro "Benefits Supervisor Sleeping" mostrado aos licitadores em Nova Iorque
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O quadro "Benefits Supervisor Sleeping" mostrado aos licitadores em Nova Iorque Joshua Lott/Reuters
Um retrato do artista Francis Bacon pintado por Lucian Freud, em Londres
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Um retrato do artista Francis Bacon pintado por Lucian Freud, em Londres Luke MacGregor /Reuters (arquivo)
Uma pintura da Rainha Isabel II de Lucian Freud da colecção real
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Uma pintura da Rainha Isabel II de Lucian Freud da colecção real Luke MacGregor/Reuters

O pintor inglês Lucian Freud morreu esta quarta-feira à noite, aos 88 anos, em Londres. O artista plástico morreu na sequência de uma doença súbita, disse William Acquavella, das Acquavella Galleries, galerista de Freud, citado pelo New York Times. Neto do fundador da psicanálise, Lucian emigrou, com a família, da Alemanha para Inglaterra no início dos anos 30 para fugir ao regime nazi, tendo adquirido naturalidade britânica em 1939.

Ingressou no mundo da arte cedo, iniciando os estudos na Central School Of Art, em Londres, cidade onde morreu nesta quarta-feira à noite, aos 88 anos.

Lucian Freud aproximou-se, numa primeira fase, da estética do surrealismo, mas durante os anos 1950 muda de registo estilístico. Começa a pintura de retratos, geralmente de nus humanos acompanhados de objectos, recorrendo à técnica de impasto.

“Eu pinto as pessoas não pelo que elas parecem, não exactamente como elas são, mas como elas deviam ser”, disse o autor das pinturas “Naked Man With The Rat” e “After Cézanne”.

Vinculado a uma linguagem figurativa, centrada na representação do corpo humano, pintou familiares e amigos no seu atelier durante décadas. Numa entrevista por ocasião de uma exposição do pintor no Centro Georges Pompidou, em Paris, em 2010, Freud sublinhava a importância da confiança e da intimidade com os modelos e das atmosferas. Uma ideia que atravessou a sua carreira, a atender a uma entrevista datada de 1974: “Trabalho a partir das pessoas que me interessam e com as quais me preocupo, em espaços em que eu vivo e conheço”.

Num estudo sobre a cena artística londrina dos anos 60, o crítico de arte John Russell destacava na obra de Freud a relação entre o pintor e o corpo pintado, associando-a à “mais clássica relação do século XX, a do inquisidor e o inquirido”.

Lucian Freud preferia a designação de biólogo – a sua outra profissão – à de artista, ressalvando a sua distância dos pintores românticos e da própria herança da psicanálise, desenvolvida pelo avô Sigmund Freud. Ao longo de uma carreira de cerca de 60 anos, o artista concentrou-se na representação da fisionomia humana, relegando para segundo plano a psicologia.

“Eu quero que a pintura seja carne. Para mim o quadro é a pessoa”, disse em 2010, acrescentando que, embora apreciasse o orgânico, não lhe chegava reproduzi-lo. A “intensificação do real” foi o caminho que escolheu para pintar o “lado animal” do corpo humano.

Além do nu reflexivo – salientado numa exposição permanente de corpos obesos, desproporcionados e enrugados - que domina a obra do pintor, nascido em Berlim a 8 de Dezembro de 1922, o neto mais célebre de Sigmund Freud interessou-se ainda pela intertextualidade com pinturas de artistas como Cézanne, Watteau e Chardin, cujos quadros reinterpretou à sua maneira.

Em Portugal, "Naked Girl with Egg", uma obra da autoria do pintor britânico, pode ser vista, desde a passada sexta-feira, na Fundação EDP, no Porto, no âmbito da exposição “My Choice”, composta por obras da colecção do British Council seleccionadas por Paula Rego.

Notícia corrigida às 15 horas do dia 22 de Julho
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