Primeiro guia português para aerofóbicos é lançado hoje

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Um quinto da população mundial tem medo de voar Paulo Ricca/arquivo

É um manual para voar sem medo com 300 páginas, escritas por oito especialistas. Tem dicas, testemunhos e informações técnicas.

"Queira sentar-se e apertar o cinto, pois vamos dar início a uma pequena viagem pelos bastidores do medo de voar, fazendo diversas paragens e reflexões sobre as viagens aéreas, a segurança de voo, a manutenção aeronáutica e os mecanismos psicológicos do medo. Venha connosco." Estas são as palavras de introdução ao guia "Voar sem medo" que é apresentado hoje, nas instalações do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil, em Lisboa.

"Este livro tinha mesmo de ser feito", reclama a psicóloga clínica e especialista em fobia de voo, Cristina Albuquerque, que é a autora principal do "primeiro livro português, escrito por especialistas nacionais" e que considera que os profissionais ligados à aviação devem estar mais sensibilizados para estes problemas deste passageiros especiais. Responsável por uma consulta em fobia de voo, Cristina Albuquerque trabalha nesta área há 18 anos e já atendeu "centenas de pessoas". "Ter medo de voar pode ser um problema muito grave para as pessoas. Pode suspender carreiras profissionais", refere a psicóloga que desaconselha a estratégia de enfrentar o medo e, simplesmente, entrar no avião e aguentar. "O medo pode crescer se continuar a ter más experiências e torna-se mais difícil de tratar", avisa.

"Na maioria dos casos, o tratamento para esta fobia é eficaz", garante, revelando que a terapia envolve várias frentes de ataque. "É preciso fornecer informação sobre os aspectos técnicos de aviação e também realizar uma análise funcional para perceber os mecanismos psicológicos subjacentes à fobia", diz. Depois são ensinadas técnicas de controlo de ansiedade (exercícios de distracção cognitiva, respiratórios e de relaxamento muscular, por exemplo) e, por fim, há o chamado "voo terapêutico" que pode ser realizado na companhia do terapeuta. Geralmente, segundo a especialista, a "cura" da fobia pode demorar entre cinco e dez sessões.

Mas, afinal, não basta ler este novo livro para ultrapassar o medo? "Não, o livro é só uma ajuda, não se trata de um manual de instruções", diz Cristina Albuquerque, esclarecendo que a obra pode facilitar mas não substitui o programa terapêutico. Como? O livro tem informação técnica e explica, por exemplo, o que é a turbulência e outras questões que podem sustentar o medo do passageiro. Tem ainda estatísticas. "Outra maneira de confirmar a segurança do transporte aéreo é realçar que nos Estados Unidos e na Europa 99,999999% de todos os passageiros chegam ao seu destino em segurança", podemos ler. É essencial "transmitir confiança", sublinha a especialista. Mas tem mais. Há vários relatos de aerofóbicos - "com os quais um leitor com medo de voar se poderá identificar" - e muitas dicas do que se deve e não deve fazer. Exemplos? Esqueça o álcool e os comprimidos, beba muita água (ajuda a diluir a adrenalina no corpo), durma bem na véspera da viagem, leve a sua música favorita, converse com o companheiro do lado e não fique obcecado com os movimentos e expressões da tripulação a pensar que algo pode estar a correr mal.

É certo que há vários tipos de aerofóbicos e graus de aerofobia. Há medos que se arrastam há muitos anos e outros assentes numa má viagem. Há aerofóbicos que sofrem em silêncio, outros têm ataques de pânico, outros "enfrascam-se em comprimidos ou refugiam-se no álcool" e outros ainda ficam simplesmente nervosos e presos às cadeiras. Voar vai contra a natureza e a reacção é natural. Aliás, segundo o guia hoje apresentado, "há mesmo quem diga que só existem dois tipos de passageiros: os que têm medo e os mentirosos..."

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