Juan Luis Cebrián diz que “amigos” o alertaram contra estilo do “Jornal Nacional”

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Cebrián imputa a responsabilidade total do fim do "Jornal Nacional" a Bernardo Bairrão Carlos Lopes (arquivo)

Nunca viu o "Jornal Nacional" de sexta-feira, não conhece Manuela Moura Guedes e diz que “amigos”, que não identifica, o alertaram, depois do cancelamento daquele jornal, para o facto do estilo ali praticado não coincidir com o da Prisa. E nega ter ordenado o fim do bloco informativo.

Em entrevista à agência Lusa, em Madrid, o administrador delegado do grupo de media espanhol dono da TVI, recusa a acusação de que tenha havido influência externa na decisão de cancelar o “Jornal Nacional” de sexta-feira e garantiu que a decisão foi exclusiva do administrador delegado da Media Capital [Bernardo Bairrão] e da direcção do canal de televisão.

“As decisões não só da TVI, mas de todos os nossos meios de comunicação, são tomadas autonomamente pelos directores. A empresa nomeia os directores, mas as decisões profissionais são tomadas pelos directores”, afirmou Juan Luis Cebrián.

Cebrián garantiu ainda que nunca viu “esse telejornal tão famoso” e que nem sequer conhece a apresentadora Manuela Moura Guedes, acrescentando, porém, que “amigos portugueses e espanhóis” lhe fizeram vários comentários sobre o jornal.

“Depois da decisão ter sido tomada, recebi notícias de alguns amigos portugueses e espanhóis dizendo que esse telejornal não coincidia, no seu estilo profissional, com o estilo dos meios da Prisa”, afirmou.

Questionado sobre as notícias que o apontavam como directamente responsável pela decisão, Cebrián disse desconhecer o seu conteúdo: “Não li as notícias, e como se publica tanto sobre mim... não sei a quem as atribuir”, afirmou.

O responsável recordou ainda que a saída de Manuela Moura Guedes do Jornal Nacional “coincidiu” com o fim do contrato do marido, José Eduardo Moniz, e disse tratar-se de “uma situação um pouco atípica de que o seu marido fosse o director-geral da televisão”.

Ao mesmo tempo admitiu que houve pressões “a favor e contra” o cancelamento do “Jornal Nacional de Sexta”, mas sublinhou que essa é uma situação normal.

“Ela [Manuela Moura Guedes] continua na empresa porque não foi despedida, mas não sei o que faz. Deve estar na equipa informativa”, afirmou.

Em Setembro a suspensão do “Jornal Nacional de Sexta”, apresentado por Manuela Moura Guedes, tornou-se um dos temas mais polémicos do período pré-eleitoral, levando à queda da direcção daquela estação de televisão da estação e gerando um facto político que levou a oposição a insinuar que a decisão tinha por base uma intervenção do Governo, o que o primeiro-ministro desmentiu.

Quanto à percepção de proximidade entre a Prisa e os governos socialistas em Portugal e Espanha, Cebrián garantiu que praticamente não tem tido contacto com o executivo de José Sócrates, acrescentando que desde os contactos mantidos “há vários anos” com o Governo português, “através do primeiro-ministro e de outros ministros”, aquando do investimento na Media Capital, os contactos têm sido reduzidos.

“Desde aí, praticamente não temos tido contacto com o Governo português”, afirmou, considerando porém que o relacionamento entre a Prisa e o Executivo é “cordial”.

O administrador delegado da Prisa diz que “os meios de comunicação têm sempre conflitos com os governos, qualquer que seja o governo, o meio ou o país, por isso não me surpreende que possa haver conflitos entre a TVI e este governo, ou outro que venha, como os há entre o El Pais e o governo espanhol”.

Negócio com a PT

Juan Luis Cebrián lamentou ainda o falhanço das negociações para a entrada da PT na Media Capital e criticou a “agitação política” que “equivocadamente” rodeou o negócio.

“Teríamos gostado muito de ser parceiros da PT. Acreditamos que nos processos audiovisuais, ser sócios das empresas de telecomunicações, neste momento, é muito interessante para elas e para nós”, disse Cebrián.

“Houve alguma agitação política sobre este tema, equivocadamente, porque o que tínhamos estabelecido eram negociações estritamente profissionais que, infelizmente, não chegaram a bom termo”, explicou.

Em Junho, 24 horas depois da Prisa ter confirmado que estava em negociações com a PT, o primeiro-ministro, José Sócrates, afirmou que o Governo já tinha comunicado à administração da operadora que ia inviabilizar o acordo.

Sobre o veto do Executivo português ao negócio, Cebrián afirmou que o projecto europeu continua a ser marcado por “contradições entre as capacidades dos governos nacionais e a realização do mercado único”.

“Se a Europa for capaz, num mercado de telecomunicações ou da energia, por exemplo, de ter uma política comum e uma autoridade única, seria formidável. É surpreendente que tenha sido capaz de fazer [isso] com a moeda [única] e não com a electricidade e telecomunicações”, afirmou.

Um eventual acordo com a PT, que poderia depois ser alargado a outros mercados, incluindo o Brasil, será parcialmente substituído pela “aliança estratégica” que o grupo está a negociar com a Telefónica, e que passa pela venda da plataforma de televisão paga, a Digital Plus.

“Estamos a negociar com Telefónica uma aliança estratégica e se a fizermos, como espero, essa aliança deveria ser não apenas para o mercado espanhol mas para todo o mercado onde opera”, disse, referindo-se ao Brasil, onde a Telefónica tem vários investimentos.

Por outro, o responsável da Prisa saudou o acordo alcançado com a Ongoing para a compra de “entre 25 e 30 por cento” da Media Capital, dona da TVI, antecipando colaboração “profissional e fluida”.

A Ongoing “vai tomar uma minoria muito importante da companhia. Há um pacto de accionistas que os protege como minoria e que lhes dá determinados privilégios que entram nos privilégios padrão de minorias em sociedades cotizadas e que garantem que o seu investimento não vai ser refém da maioria”, disse.

“Esperemos que seja um relacionamento muito fluido e profissionalmente muito útil. São pessoas muito capazes e estamos contentes”, frisou.

Sobre a situação actual da Prisa, Cebrián espera “bom acordo” com os bancos que permita alcançar uma resstruturação da dívida de cinco mil milhões que a empresa possui.

A negociação em curso ocorre numa altura em que “a qualidade dos activos da Prisa é reconhecida” e a “capacidade de geração de [fluxos de] caixa” também, mas o responsável máximo do grupo audiovisual admite que a empresa tem “um problema na estrutura de capital do grupo que procura resolver”.

“Os bancos estão a cooperar, apreciam a qualidade dos nossos activos e da nossa empresa. Tenho a certeza de que vamos chegar a uma negociação clarificadora e boa para todos”, disse.

“A Prisa está a aplicar as medidas adequadas, desinvestindo em activos, reduzindo custos, procurando melhorar a eficiência. A empresa continua a ganhar muito dinheiro em todas as partes do mundo”, concluiu.

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