Bastonário diz que OM não pode investigar

O caso da viagem dos médicos à Malásia foi divulgado numa altura em que ainda não está esquecida a “guerra” que envolveu a Associação Nacional das Farmácias e a Ordem dos Médicos (OM), a propósito da substituição de medicamentos nas farmácias.

“Tirando a bissectriz de tudo aquilo, percebeu-se como as coisas funcionam dos dois lados”, nota Amílcar Carvalho, do sindicato que representa os delegados de propaganda médica. “Por um lado, os laboratórios dão muitos bónus às farmácias, o que é uma vergonha e não traz benefícios para o doente; por outro, temos estas viagens bizarras para médicos; há muito que disse à OM que devia tomar medidas.” Como?, contrapõe o bastonário Pedro Nunes, frisando que “é a primeira vez desde há vários anos” que é confrontado com uma denúncia deste tipo.

“Ninguém tem capacidade para investigar todos os congressos”, justifica, lembrando que a ordem se limita a reconhecer a validade dos congressos para a formação dos profissionais e a conceder-lhes o chamado patrocínio científico.

“Estas coisas só se sabem quando alguém dá com a língua nos dentes”, lamenta. É um facto: os processos de relações perigosas entre médicos e a indústria farmacêutica mais conhecidos foram desencadeados por ex-delegados de informação médica, o primeiro, que ficou conhecido como caso Bayer, por Alfredo Pequito, e o segundo por um ex-funcionário da Medinfar que deu uma entrevista a um semanário. Após esses escândalos, fizeram-se regulamentos, a situação terá acalmado e as denúncias diminuíram consideravelmente, segundo a OM e a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS). Seja como for, só este ano, a IGAS aplicou penas de repreensão a nove médicos e a um técnico hospitalar por irregularidades formais na participação em congressos. Situações sem relevância criminal e que, na maior parte dos casos, terá acontecido com os médicos de férias.

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