The Week That Was

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The Week That Was é, convenhamos, péssimo nome para uma banda. Dir-se-á, como desculpa, que não é realmente uma banda, antes um projecto - o que só piora as coisas. Não é então banda, nem projecto. É, fiquemos por aqui, um álbum. Álbum cuja concisão de 32 minutos e oito canções não parece condizer com a ambição demonstrada por Peter Brewis, o membro dos ingleses Field Music que o criou.

Cada uma das canções conflui de locais e personagens diversas para um mesmo centro: a relação com o mundo mediático que nos rodeia e como ele altera e distorce a forma como comunicamos e nos relacionamos uns com os outros. Um mundo que corre rápido de mais ("The story waits for no one", como diz o título da terceira canção), um mundo pensado em tons apocalípticos ("yesterday's news said the worst is to come", canta Brewis em "Yesterday's paper"), um mundo que temos de reaprender ("Where do I begin?" é a questão central da canção mote do álbum, "Learn to learn"). Álbum negro, como convém à narrativa, conjuga a capacidade dramática de Peter Gabriel e a audácia pop de uns XTC. Ou seja, é um álbum de tentações "arty" (perdoem-nos o palavrão), mas não se deixa enredar na sua própria ambição. Peter Brewis construiu música tão ambiciosa e fugidia de convenções quanto declaradamente pop: de facto, tudo parece guiado pelo desejo primeiro de criar canções - canções clássicas mas que nunca ouvimos assim, porque Gabriel e XTC, a que podemos acrescentar, por exemplo, os mais antigos Pretty Things quando assoma a ideia de um "vaudeville rock", são apenas lampejos a iluminar a música, a traçar-lhe coordenadas pouco explícitas. A força propulsora é a percussão mecânica que faz uso de timbalões, chocalhos e do exotismo de marimbas em cadência minimalista. Com a percussão define-se um ambiente tenso, constrói-se um cenário de negrume futurista que, eis o golpe de asa, nunca se torna dominador. Porque as omnipresentes orquestrações emprestam-lhe um onirismo reconfortante ("The airport line" é exemplar na forma como funde luz e escuridão), porque se em "It's all gone quiet" Peter Brewis conjuga a alienação angustiada de um Ian Curtis com a exuberância cavalheiresca de Peter Gabriel, em "Yesterday's paper" temos curtas explosões rock (guitarras disparando micro-solos) ou em "Come home" um belíssimo lamento nostálgico feito balada ao piano, elaborada com requinte perfeccionista. "The Week That Was", álbum de circulação discreta que acabou destacado em várias listas de melhores do ano em 2008, é um OVNI na produção musical recente. Absolutamente fiel à grande tradição da música pop e com uma coesão estética inatacável, é absolutamente contemporâneo e indiscutivelmente intemporal. Um clássico imperdível.

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