Empresa do Alqueva lança plano para conservar charcos temporários mediterrânicos

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Serão definidas medidas de protecção específicas para cada charco DR

A empresa do Alqueva vai desenvolver um plano na área de influência da barragem para conservar os charcos temporários mediterrânicos, pequenos corpos de água onde existem espécies raras ou ameaçadas de extinção, como alguns anfíbios.

O plano resulta de um memorando de entendimento e parceria hoje assinado entre a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) e o Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB).

"Trata-se de um conjunto de acções para identificar e conservar os diversos charcos que existem na área de implementação do empreendimento de Alqueva, sobretudo nas zonas dos blocos de regadio e junto de infra-estruturas da rede primária de rega", explicou hoje à agência Lusa Emetério Monteiro, administrador da EDIA para a área do ambiente.

Como ponto de partida, acrescentou o responsável, a EDIA "vai fazer um levantamento dos charcos existentes para avaliar os estados de conservação e identificar os factores de ameaça e degradação das suas condições naturais".

Algumas práticas agrícolas e pecuárias tradicionais, como o uso de herbicidas que poluem as águas ou o excesso de pisoteio por gado bovino devido ao pastoreio extensivo, a poluição e a destruição por obras de construção de infra-estruturas são algumas das causas do estado de regressão e degradação dos charcos.

Posteriormente, irão ser definidas medidas de conservação específicas para cada charco, como a implementação de boas práticas agrícolas, a remoção de lixos depositados e de espécies exóticas de peixes que ameaçam as comunidades biológicas típicas destes habitats e a instalação de vedações para impedir o acesso do gado.

A implementação de medidas para monitorizar e avaliar os resultados, além de várias campanhas de sensibilização e educação ambiental junto dos agricultores e população em geral, são outras das acções previstas no plano.

Desta forma, salientou Emetério Monteiro, a EDIA, através do Plano para a Conservação de Charcos Temporários Mediterrânicos na região de implementação do Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva, vai "contribuir" para o cumprimento dos objectivos da "Business and Biodiversity" da União Europeia.

Esta iniciativa visa a integração progressiva de acções de conservação da biodiversidade na gestão das empresas pan-europeias com o objectivo de parar a perda de biodiversidade a nível local, regional, nacional e global até 2010.

Os charcos temporários, frequentes nos territórios mais quentes e plano do Sul da Europa, são pequenos "corpos" de água, geralmente inferiores a dois metros, que existem em zonas com lençóis freáticos ou em terrenos impermeáveis.

A alternância entre períodos húmidos, do Outono à Primavera, e secos, de duração variável nos restantes meses, torna os charcos habitats "muito vulneráveis" obrigando as espécies típicas, como alguns anfíbios, a desenvolver estratégias de sobrevivência adaptadas aos períodos secos, como a tolerância fisiológica ou a capacidade efectiva de migração.

Trata-se de habitats com uma "riqueza ecológica frágil e singular", onde existem espécies "raras e com comportamentos únicos", que conferem aos charcos o estatuto de Zonas Especiais de Conservação (ZEC).

Os charcos, além de "relevantes" para o Alentejo, porque representam a existência de zonas húmidas numa paisagem com escassos pontos de água, sobretudo nos meses de calor, são "especialmente importantes" para os anfíbios, ulentejano e Costa Vicentina, Vale do Guadiana e da Serra de São Mamede, no Campo Militar de Sta. Margarida (Ribatejo) e no Barrocal Algarvio.

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